Papa: levar Cristo às ruas para que todos possam contemplar sua beleza
Mariangela Jaguraba – Pope
O Papa Francisco enviou uma mensagem, nesta quarta-feira (04/12), aos participantes do II Congresso Internacional de Irmandades e Piedade Popular em andamento na cidade espanhola de Sevilha, "berço de santos e de um povo que vive com fervor as expressões da sua fé até se tornarem inseparáveis ​​do seu tecido social".
A mensagem do Pontífice foi lida pelo substituto da Secretaria de Estado, dom Edgar Peña Parra, enviado especial do Papa Francisco ao II Congresso Internacional de Irmandades e Piedade Popular.
São Manuel Gonzales, bispo “do Tabernáculo abandonadoâ€
O Papa comenta o texto de São Manuel Gonzàles Garcia, bispo “do Tabernáculo abandonado†e fundador das Irmãs Marias Nazarenas, proposto para meditação aos participantes do Congresso. O santo de Sevilha, que viveu entre os séculos XIX e XX, sublinha Francisco, compara a nossa vida a uma peregrinação, “uma viagem de ida e volta, que começa, na ida, em Cristo e termina no povo, e a viagem de retorno começa no povo e termina em Cristoâ€. É um texto, esclarece, “que não fala de devoção, de liturgias públicas ou de oração contemplativaâ€, mas “do trabalho social da Igreja, do compromisso dos leigos para a transformação do mundo, da necessidade de aproximar a ternura de Deus aos homens que sofrem no corpo e na almaâ€. As palavras de São Manuel, para o Pontífice, “refletem o mesmo amorâ€, aquele amor “que tiramos de Cristo e levamos ao povo, que levamos de volta a Cristo junto com aquele povo, numa viagem contínua de ida e volta que constitui a nossa existência terrena."
O desafio da evangelização eficaz
O Papa Francisco escreve que surgem três desafios no programa do Congresso, que une numa súplica ao Deus Trinitário, pedindo “ao Pai a eficácia evangelizadora do nosso compromisso, ao Filho a beleza do nosso testemunho de vida e ao Espírito Santo um coração cheio de caridade escondida que nos permite chegar aos homens, mesmo que de forma silenciosaâ€.
De acordo com Francisco, "a eficácia evangelizadora de sua proposta está em nascer de Cristo, da fé recebida na família, da experiência de viver e partilhar essa fé na irmandade, junto com as outras Irmandades, manifestando que somos um Povo a caminho de Deus".
A beleza do nosso testemunho de vida
A beleza do testemunho de vida "se percebe naquela união perfeita que nasce da combinação de tantas peculiaridades, ministérios, cargos, que com determinação e paciência se unem. É sobretudo a beleza de Cristo que nos convoca, nos chama a ser irmãos e nos impulsiona a levar Cristo às ruas, a levá-lo ao povo, para que todos possam contemplar a sua beleza".
Prosseguindo o caminho até o Tanernáculo “onde o Senhor nos esperaâ€, diante d’Ele apresentamos o nosso coração, “para que Deus Pai faça crescer a semente que procuramos semearâ€. Este Pão vivo, conclui o Pontífice, “é o único que pode saciar a fome da nossa sociedade, um Pão que nasceu para ser doado, para ser consumido, e que nos chama do altar para dialogar com Ele, para ser nossa consolação e nosso descansoâ€.
"Como povo a caminho, sentimos que somos o campo de Deus, semente do reino, e é na sua presença que voltamos aos nossos lares, para continuar a brilhar aquela alegria, aquela beleza, aquele amor transbordante, que se comunica aos nossos filhos, às nossas famílias, aos amigos, aos vizinhos", ressalta o Papa, pedindo a Jesus forças "para juntos continuarmos levando Cristo, levando-o às ruas para que entre em todos os corações".
"Queridos irmãos e irmãs, carregar a cruz que o Senhor nos propõe todos os dias ou carregar nos ombros o irmão que encontramos prostrados no caminho, como o Bom Pastor, é o mesmo amor, é a mesma caridade escondida que encontramos no Tabernáculo da Catedral ou no da nossa paróquia. Esse amor que tiramos de Cristo e levamos ao povo, numa viagem contínua de ida e volta, constitui a nossa existência terrena. Que este seja o nosso desejo e a nossa súplica diante de Deus", conclui.
Peña Parra: a Igreja precisa de irmandades
Depois de ler a mensagem do Papa Francisco, dom Peña Parra pronunciou o seu discurso de abertura, no qual, desenvolvendo o tema do Congresso, “Caminhar na esperançaâ€, sublinhou que, no meio das mudanças e desafios contemporâneos, “a Igreja tem necessidade de modo particular" das irmandades e da piedade popular, "para levar a todos o anúncio do Evangelho da caridade, seguindo caminhos antigos e novos". É por isso que as irmandades, “enraizadas nos sólidos fundamentos da fé em Cristoâ€, com a multiplicidade dos dons “e a vitalidade que as distingueâ€, devem continuar “difundindo a mensagem da salvação na sociedade, fazendo-se presentes nas muitas fronteiras da nova evangelizaçãoâ€.
Testemunhas da esperança cristã
No seu discurso, o arcebispo venezuelano recordou os valores fundamentais que definiram a piedade popular ao longo dos séculos, que levou os fiéis unidos em irmandades a terem sempre “Cristo como pedra angular da sua existência e missãoâ€, destacando o Sacramento do Batismo, e deixando-se transformar pela esperança cristã, da qual se tornam verdadeiras testemunhas. Citando Francisco, quando sublinha que “todos os cristãos são chamados à santidade em suas atividades quotidianasâ€, dom Peña Parra recordou que as irmandades têm a tarefa de ser testemunhas desta santidade na sociedade. E dado que a fraternidade é um antídoto ao individualismo moderno, “as irmandades, como comunidades de fé, devem promover o amor fraterno, a ajuda mútua e o apoio em momentos de dificuldadeâ€. O substituto reconheceu que as fraternidades e as corporações “enfrentam o desafio de permanecerem relevantes, especialmente entre as gerações mais jovens e aqueles que se afastaram da féâ€. No entanto, as práticas de piedade popular, sendo expressão da devoção cristã, “podem ser fonte de consolação e esperança para a sociedade, e um meio de aproximar as pessoas a Cristoâ€.
Religiosidade popular, personificação da fé numa cultura
Sublinhando que as irmandades têm a missão de serem testemunhas do Evangelho na sociedade, o enviado especial do Papa recordou que na América Latina, por exemplo, elas “desempenharam um papel crucial na evangelização e na preservação da identidade cultural das comunidades locaisâ€. Ele citou o Papa Francisco, na Encíclica Evangelii gaudium, quando explica que “as formas específicas da religiosidade popular se encarnam, porque surgiram da encarnação da fé cristã numa culturaâ€. E isto lhes confere uma grande força evangelizadora, como reconhece também o Documento de Aparecida, que define a piedade popular “um modo legítimo de viver a fé, um modo de sentir-se parte da Igreja e um modo de ser missionárioâ€. Constitui, portanto, “uma confissão poderosa do Deus vivo agindo na história e um canal para a transmissão da féâ€.
Missa celebrada pelo enviado do Papa
Por fim, à noite, dom Peña Parra presidiu a Celebração Eucarística conclusiva do primeiro dia do Congresso, na catedral de Sevilha, dedicada a Nossa Senhora da Sé e da Assunção, “caldeirão de culturas e fusão de estilosâ€. Na homilia, ele convidou os membros ativos das irmandades a serem "compassivos como Jesus", que no Evangelho de Mateus, incluído na liturgia de hoje, sobre a montanha que olha ao Mar da Galileia, “agiu com poder para aliviar os sofrimentos e curar†os paralíticos, os coxos, os cegos, os mudos e muitos outros doentes da multidão. “Tenham muito amor pelas pessoas e famílias que encontraremâ€, é o seu pedido. “As pessoas precisam de amor, compreensão e perdão. Fiquem atentos e próximos, especialmente das famílias que vivem situações difíceis no campo da fé, do matrimônio ou mesmo da pobreza e do sofrimento. Que os seus gestos e palavras sejam sinais da misericórdia divina e do acolhimento da Igreja para cada famíliaâ€. Por fim, rezem para que o Senhor guie todos “à profundidade da riqueza da fé do povo santo de Deus, que se expressa na tradição das procissões, na veneração das imagens sagradas e na recitação das orações passadas de geração em geração".
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