Papa: na Igreja há lugar para todos, mas não para abusos. Casos sejam revelados e julgados
Thulio Fonseca – Pope
A Santa Missa presidida pelo Papa Francisco neste domingo, 29 de setembro, no Estádio Rei Balduíno, em Bruxelas, contou com a presença de milhares de fiéis, reunidos também para celebrar a beatificação da venerável serva de Deus, Ana de Jesus, religiosa carmelita descalça que desempenhou um papel fundamental na difusão da reforma teresiana.
Em sua homilia, o Papa refletiu sobre as palavras de Jesus: «Se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço» (Mc 9, 42). O Pontífice advertiu que devemos nos atentar para não escandalizar ou obstruir o caminho dos “pequeninos”, lembrando a responsabilidade que todos temos em cultivar uma fé aberta, inclusiva e acolhedora.
Na Igreja há lugar para todos, mas não para o abuso!
A seguir, o Pontífice pronunciou as palavras mais fortes da homilia, citando os casos de abusos:
Pensemos no que acontece quando os pequeninos são escandalizados, atingidos, abusados por quem deveria cuidar deles; nas feridas de dor e de impotência antes de tudo nas vítimas, mas também em seus familiares e na comunidade. Com a mente e com o coração, lembro das histórias de alguns desses "pequeninos" que encontrei anteontem. Eu os ouvi, senti seu sofrimento de abusados e repito aqui: na Igreja há lugar para todos, todos, todos, mas todos seremos julgados e não há lugar para o abuso, não há lugar para acobertar o abuso. Peço a todos: não acobertar os abusos. Peço aos bispos: não acobertar os abusos. Condenar os abusadores e ajudá-los a se curar desta doença do abuso. O mal não deve ser escondido, mas revelado, que se saiba, como fizeram alguns abusados, e com coragem. Que se saiba. E que seja julgado o abusador, seja leiga, leigo, padre ou bispo: que seja julgado!
Humildade, gratidão e alegria
O Santo Padre enfatizou a necessidade de abertura, recordando os episódios bíblicos do Livro dos Números e do Evangelho de Marcos presentes na liturgia deste XXVI Domingo do Tempo Comum, onde a ação do Espírito Santo surpreende ao escolher para sua obra não apenas os que parecem eleitos, mas também aqueles à margem. “A Comunidade dos cristãos não é um círculo de privilegiados, é uma família de salvos”, afirmou Francisco, apontando que o Batismo é um chamado para todos, e que devemos viver nossa missão com humildade, gratidão e alegria, sem sermos obstáculo para os demais.
A falta de misericórdia é um “escândalo”
Em seguida, o Papa abordou a comunhão, inspirando-se na Carta de São Tiago, que nos exorta a evitar o egoísmo e a abraçar o caminho do amor e da partilha. Para o Pontífice, a falta de misericórdia, especialmente com os mais pobres e marginalizados, é um verdadeiro “escândalo” em nossa sociedade:
“Pensemos, por exemplo, na situação de tantos imigrantes sem documentos: são pessoas, irmãs e irmãos que, como todos, sonham com um futuro melhor para si e para os seus e, em vez disso, ficam muitas vezes sem ser escutados e acabam por ser vítimas de exploração”.
A força do testemunho autêntico
Por fim, o Santo Padre destacou a importancia do testemunho na vida cristã trazendo à luz o exemplo da nova beata Ana de Jesus. A carmelita, que seguiu os passos de Santa Teresa de Ávila, deixou um legado de simplicidade, oração e caridade em uma época de grandes desafios:
“Numa época marcada por dolorosos escândalos, tanto dentro como fora da comunidade cristã, ela e as suas companheiras conseguiram trazer de novo tantas pessoas à fé a ponto de alguém descrever a sua fundação nesta cidade como um ‘íman espiritual’”.
Ao concluir, o Papa Francisco convidou os fiéis a seguirem o testemunho deixado por Ana de Jesus e a renovarem seu compromisso com o Evangelho da misericórdia, vivendo a fé com abertura, comunhão e testemunho.
“Acolhamos, pois, com gratidão o modelo, simultaneamente delicado e forte, de ‘santidade feminina’ que ela nos deixou, renovando o compromisso de caminharmos juntos seguindo as pegadas do Senhor", exortou o Pontífice.
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