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Papa Francisco durante o di¨¢logo com os jornalistas Papa Francisco durante o di¨¢logo com os jornalistas

Papa sobre as bombas no L¨ªbano: toda defesa desproporcional ¨¦ imoral

O di¨¢logo com os jornalistas no voo de retorno da µþ¨¦±ô²µ¾±³¦²¹: Francisco fala sobre o ataque que matou Nasrallah, provocando centenas de v¨ªtimas, destacando sua desproporcionalidade, repete a condena??o ao aborto, definindo os m¨¦dicos que o praticam como "sic¨¢rios" e exalta o testemunho crist?o do rei Baldu¨ªno, que renunciou para n?o assinar a lei abortista.

Pope

Matteo Bruni: Boa tarde a todos, obrigado, Santidade, por este tempo que deseja nos dedicar ao final desta viagem curta, mas muito intensa. Talvez queira nos dizer algo antes de começarmos com as perguntas dos jornalistas.

Papa Francisco: Bom dia, e estou à disposição para as perguntas.

Michael Merten, Luxemburger Wort

Santo Padre, Luxemburgo foi o primeiro país, e muitas pessoas se lembram de sua visita ao Espresso Bar. Gostaria de lhe perguntar quais são suas impressões de Luxemburgo e se houve algo que o surpreendeu.

Obrigado, aquilo no bar foi uma molecagem. A próxima será na pizzaria. Luxemburgo realmente me impressionou como uma sociedade bem equilibrada, com leis bem ponderadas, e também uma cultura diferente. Isso me impressionou muito, pois eu não a conhecia. A Bélgica, no entanto, eu já conhecia porque estive lá várias vezes. Mas Luxemburgo foi uma surpresa, pelo equilíbrio, pela acolhida, isso me surpreendeu. Acho que talvez a mensagem que Luxemburgo pode dar à Europa seja justamente essa.

Valerie Dupont, TV estatal belga francófona

Santo Padre, obrigada pela sua disponibilidade. Desculpe a voz, mas a chuva me prejudicou um pouco. Suas palavras no túmulo do rei Balduíno causaram certo espanto na Bélgica...

Mas você sabe que o espanto é o início da filosofia, e isso é bom¡­

Alguns viram isso como uma interferência política na vida democrática da Bélgica. O processo de beatificação do rei está ligado às suas posições. E como podemos conciliar o direito à vida, a defesa da vida, e também o direito das mulheres a terem uma vida sem sofrimento?

São todas as vidas. O rei foi corajoso porque, diante de uma lei de morte, ele não assinou e renunciou. É preciso coragem, não é? É preciso um político "com pulso firme" para fazer isso. É preciso coragem. Ele também deu uma mensagem com esse gesto e o fez porque era um santo. Aquele homem é santo e o processo de beatificação continuará, porque me deu provas disso.

As mulheres. As mulheres têm o direito à vida: à sua própria vida e à vida de seus filhos. Não podemos esquecer de dizer isso: o aborto é um homicídio. A ciência diz que, no primeiro mês de concepção, todos os órgãos já estão formados... Assassina-se um ser humano. E os médicos que fazem isso são ¡ª permita-me a palavra ¡ª sicários. São sicários. E sobre isso não se pode discutir. Assassina-se uma vida humana. E as mulheres têm o direito de proteger a vida. Outra coisa são os métodos anticoncepcionais, isso é outra questão. Não confundam. Estou falando agora apenas sobre o aborto. E sobre isso não há discussão. Desculpe-me, mas é a verdade.

Andrea Vreede, TV belga flamenga e holandesa

Santidade, também durante esta viagem à Bélgica, o senhor teve um longo encontro com um grupo de vítimas de abuso sexual. Frequentemente, em seus relatos, aparecem gritos de desespero sobre a falta de transparência nos procedimentos, portas fechadas, silêncio em relação a eles, lentidão nas ações disciplinares, as coberturas de que o senhor falou hoje, os problemas com as indenizações pelos danos sofridos. No final, as coisas parecem mudar apenas quando conseguem falar diretamente com o senhor. Em Bruxelas, as vítimas também fizeram uma série de pedidos. Como o senhor pretende lidar com esses pedidos? E não seria melhor, talvez, criar um departamento específico no Vaticano, um órgão independente, como alguns bispos pedem, para enfrentar melhor essa praga na Igreja e restaurar a confiança dos fiéis?

Obrigado. O último... Existe um departamento no Vaticano. Há uma estrutura, o presidente agora é um bispo colombiano para os casos de abusos. Há uma Comissão, criada pelo cardeal O¡¯Malley. Isso funciona! E tudo é recebido no Vaticano e discutido. Eu também recebi vítimas de abuso no Vaticano e dou apoio para que avancemos. Isso é o primeiro.

Segundo, eu escutei as vítimas de abuso. Acredito que é um dever. Alguns dizem: as estatísticas mostram que 40-42-46% dos abusos ocorrem na família e no bairro, e apenas 3% na Igreja. Isso não me importa, eu me ocupo dos casos da Igreja! Temos a responsabilidade de ajudar as vítimas e cuidar delas. Algumas precisam de tratamento psicológico, é preciso ajudá-las nisso. Também se fala de uma indenização, pois existe no direito civil. No direito civil, acredito que sejam 50 mil euros na Bélgica, o que é muito baixo. Não é algo que sirva. Acho que esse é o valor, mas não tenho certeza. Mas precisamos cuidar das pessoas abusadas e punir os abusadores, porque o abuso não é um pecado de hoje que talvez não exista amanhã... É uma tendência, é uma doença psiquiátrica e, por isso, devemos tratá-los e controlá-los. Não se pode deixar um abusador livre na vida normal, com responsabilidades em paróquias e escolas. Alguns bispos deram empregos, por exemplo, em bibliotecas, a padres que fizeram isso, após o processo e a condenação, mas sem contato com crianças nas escolas, nas paróquias. Mas precisamos avançar com isso. Eu disse aos bispos belgas para não terem medo e seguirem em frente, em frente. A vergonha é encobrir, isso sim é a vergonha. 

Courtney Walsh, pool Tv Usa

Muito obrigada pelo seu tempo. Lemos esta manhã que bombas de 900 kg foram usadas para o assassinato seletivo de Nasrallah. Há mais de mil desabrigados, muitos mortos. O senhor acredita que Israel tenha talvez ido além no Líbano e em Gaza? E como se pode resolver isto? Há uma mensagem para aquelas pessoas ali?

Todos os dias eu telefono para a paróquia de Gaza. Estão ali dentro, paróquia e colégio, mais de 600 pessoas e me contam as coisas que acontecem, inclusive as crueldades que acontecem ali. Não entendi bem como aconteceram as coisas que a senhora me disse, mas a defesa sempre deve ser proporcional ao ataque. Quando há algo desproporcional, se vê uma tendência dominadora que vai além da moralidade. Um país que com a força faz essas coisas ¨C falo de qualquer país ¨C, que faz essas coisas num modo assim ¡°superlativo¡±, são ações imorais. Também na guerra há uma moralidade a preservar. A guerra é imoral, mas as regras de guerra implicam alguma moralidade. Mas quando isso não é feito, se vê o ¡°sangue ruim¡±, como nós dizemos na Argentina.

Annachiara Valle, Famiglia Cristiana

Obrigada, Santidade. Ontem, depois do encontro na Universidade de Lovaina, foi divulgado um comunicado onde ¨C leio ¨C ¡°a Universidade deplora as posições conservadoras expressas pelo Papa Francisco sobre o papel da mulher na sociedade¡±. Dizem que é um pouco redutivo falar da mulher só por causa da maternidade, da fecundidade, do cuidado; que, na verdade, isso é um pouco discriminatório porque é um papel que cabe também aos homens. E relacionado a isso, ambas as Universidades lhe colocaram a questão dos ministérios ordenados na Igreja.

Antes de tudo, este comunicado foi feito no momento em que eu falava. Foi pré-redigido e isso não é moral. Sobre a mulher, eu falo sempre da dignidade da mulher e disse uma coisa que não posso dizer dos homens: a Igreja é mulher, é a esposa de Jesus. Masculinizar a Igreja, masculinizar as mulheres não é humano, não é cristão. O feminino tem a própria força. Ou melhor, a mulher ¨C eu sempre digo ¨C é mais importante dos que os homens, porque a Igreja é mulher, a Igreja é esposa de Jesus. Se isso soa conservador para aquelas mulheres, eu sou Carlos Gardel (famoso cantor de tango argentino, ndr.). Não se compreende¡­ Eu vejo que há uma mente obtusa que não quer ouvir falar disto. A mulher é igual ao homem, ou melhor, na vida da Igreja a mulher é superior, porque a Igreja é mulher. Sobre o ministério, é maior o misticismo da mulher do que o ministério. Há um grande teólogo que estudou isso: quem é o maior, o ministério petrino ou o ministério mariano? É maior o ministério mariano, porque é um ministério de unidade que envolve, o outro é um ministério de condução. A maternalidade da Igreja é uma maternalidade de mulher. O ministério é um ministério muito menor, entregue para acompanhar os fiéis, sempre dentro da maternalidade. Vários teólogos estudaram isso e dizer isso é algo real, não digo moderno, mas real. Não é antiquado. Um feminismo exagerado, que quer dizer que a mulher seja masculinizada, não funciona. Uma coisa é o machismo que não funciona, uma coisa é o feminismo que não funciona. O que funciona é a Igreja mulher, que é maior do que o ministério sacerdotal. E às vezes não se pensa nisso.

Mas obrigado pela pergunta. E obrigado a todos vocês por esta viagem, pelo trabalho que fizeram. Sinto muito que o tempo seja apertado aqui. Mas obrigado, muito obrigado. Rezo por vocês, vocês rezem por mim. Rezem a favor!

(é dito ao Papa sobre a tragédia das 50 pessoas desaparecidas no mar ao largo das Canárias)

Faz-me mal aquelas pessoas desaparecidas nas Canárias. Hoje muitos, muitos migrantes que buscam a liberdade se perdem no mar ou próximo ao mar. Lembremos de Crotone, não? A 100 metros¡­ a sua terra (dirigindo-se à jornalista). Pensemos (no que aconteceu) ali. É de chorar isso, de chorar.

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29 setembro 2024, 16:30