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O Papa aos consagrados: levar a carícia da misericórdia de Deus a quem tem sede de esperança

Em seu primeiro discurso, em Verona, o Papa exortou os sacerdotes, religiosos e religiosas a não perderem a maravilha do chamado. "O primeiro fundamento da nossa consagração e do nosso ministério é acolher o chamado recebido, acolher o dom com que Deus nos surpreendeu", disse Francisco. O Papa recordou os santos e beatos veroneses que foram "ao encontro das necessidades dos marginalizados e dos pobres. Uma fé que se traduziu na audácia da missão".

Mariangela Jaguraba - Pope

O Papa Francisco encontrou-se com os sacerdotes e consagrados, neste sábado (18/05), na Basílica de São Zeno, em Verona, no âmbito de sua visita pastoral a essa cidade situada no norte da Itália, na região do Vêneto.

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Em seu discurso, o primeiro de sua visita, Francisco manifestou satisfação por estar ali com os sacerdotes e religiosos, e apreciar o esplêndido teto da basílica que faz pensar "numa grande barca, a barca do Senhor que navega no mar da história para levar a todos a alegria do Evangelho".

Essa imagem evangélica levou Francisco a refletir sobre duas coisas: acolher o chamado recebido e cumprir a missão com audácia.

Não perder a maravilha do chamado

Acolher o chamado recebido. O Papa recordou que "na origem da vida cristã está a experiência do encontro com o Senhor, que não depende de nossos méritos ou de nosso compromisso, mas do amor com que Ele vem nos procurar, batendo à porta de nosso coração e nos convidando a uma relação com Ele".

“Queridos irmãos sacerdotes, queridas religiosas e religiosos: nunca percamos a maravilha do chamado! O primeiro fundamento da nossa consagração e do nosso ministério é acolher o chamado recebido, acolher o dom com que Deus nos surpreendeu.â€

Se perdermos esta consciência e esta memória, corremos o risco de nos colocarmos no centro em vez do Senhor; corremos o risco de nos agitar em torno de projetos e atividades que servem mais às nossas causas do que às do Reino; corremos também o risco de viver o apostolado na lógica da autopromoção e da busca de consensos, em vez de gastar a vida pelo Evangelho e pelo serviço gratuito à Igreja.

"Foi Ele quem nos escolheu: se nos lembrarmos disto, mesmo quando sentimos o peso do cansaço e de alguma desilusão, permaneceremos serenos e confiantes, certos de que Ele não nos deixará de mãos vazias", disse ainda o Papa, ressaltando que "como os pescadores, formados na paciência, também nós, no meio dos complexos desafios do nosso tempo, somos chamados a cultivar a atitude interior da espera, da paciência, bem como a capacidade de enfrentar os imprevistos, as mudanças e os riscos associados à nossa missão. Mas podemos fazê-lo porque na origem do nosso ministério está o seu chamado, e Ele não nos deixará sozinhos. Podemos lançar a rede e esperar com confiança. Isto nos salva, mesmo nos momentos mais difíceis; portanto, lembremo-nos do chamado, acolhamo-lo todos os dias e permaneçamos com o Senhor".

Ir ao encontro das necessidades dos marginalizados e pobres

Quando a experiência de permanecer com o Senhor está bem enraizada em nós, então poderemos cumprir a missão com audácia.

A audácia é um dom que a Igreja em Verona conhece bem. "Com efeito, se há uma característica dos sacerdotes e dos religiosos veroneses, é precisamente a de serem empreendedores, criativos, capazes de encarnar a profecia do Evangelho. Trata-se de uma iniciativa que marcou a sua história", disse o Papa, recordando a "marca deixada por tantos sacerdotes, religiosos e leigos no século XIX, que hoje podemos venerar como Santos e Beatos. Testemunhas da fé que souberam unir o anúncio da Palavra ao serviço generoso e compassivo aos necessitados, com uma “criatividade social†que fez nascer escolas de formação, hospitais, casas de repouso, casas de acolhimento e locais de espiritualidade". Eles foram capazes de "ir ao encontro das necessidades dos marginalizados e dos mais pobres e cuidar de suas feridas. Uma fé que se traduziu na audácia da missão".

Também hoje precisamos disto: da audácia do testemunho e do anúncio, da alegria de uma fé ativa na caridade, da desenvoltura de uma Igreja que sabe captar os sinais do nosso tempo e responder às necessidades de quem mais precisa.

“Repito: devemos levar a todos a carícia da misericórdia de Deus, especialmente a quem tem sede de esperança, a quem se vê obrigado a viver à margem, ferido pela vida, ou por algum erro cometido, ou pelas injustiças da sociedade, que sempre vem em detrimento dos mais frágeis.â€

"Perdoem tudo, perdoar todos!"

"Audácia, coragem, capacidade de começar, capacidade de arriscar", insistiu o Papa, levando a todos o carinho da misericórdia de Deus. Neste sentido, a mensagem em particular aos sacerdotes, que são "minstros do Sacramento da Penitência":

Por favor, perdoem tudo, perdoem tudo. E quando as pessoas vierem se confessar, não perguntar “mas, como?…â€, nada. E se vocês não são capaz naquele momento de compreender, sigam em frente, o Senhor entendeu. Mas por favor, não torturem os penitentes. Dizia-me um grande cardeal, que foi penitenciário, era bastante conservador, mas quando confrontado com a penitência, ouvi-o dizer: "Quando uma pessoa vem ter comigo e sinto que tem dificuldade em dizer as coisas, digo: 'Entendi, vá em frente'. Eu não entendi, mas Deus entendeu." Isto, no Sacramento da Reconciliação. Por favor, que não seja uma sessão de tortura. Por favor, perdoem tudo, tudo. E perdoem sem causar sofrimento, perdoem abrindo o coração à esperança. Peço isso a vocês, sacerdotes. A Igreja precisa de perdão e vocês são os instrumentos para perdoar. A todos.

Ser audaciosos na missão

"A audácia de uma fé ativa na caridade, vocês a herdaram de sua história", disse ainda o Papa, convidando os sacerdotes e consagrados veroneses a não cederem ao desânimo: "Sejam audaciosos na missão, saibam ainda hoje ser uma Igreja que está próxima, que cura as feridas, que testemunha a misericórdia de Deus".

É desta maneira que a barca do Senhor, no meio das tempestades do mundo, pode salvar muitos que de outra forma correm o risco de naufragar.

“As tempestades, como sabemos, não faltam nos nossos dias; muitas delas têm suas raízes na avareza, na ganância, na busca desenfreada de satisfazer o próprio eu e se alimentam de uma cultura individualista, indiferente e violenta.â€

O Papa agradeceu aos sacerdotes e religiosos por entregarem "suas vidas ao Senhor e pelo seu compromisso com o apostolado". "Sigamos em frente com coragem! Temos a graça e a alegria de estarmos juntos no navio da Igreja, entre horizontes maravilhosos e tempestades alarmantes, mas sem medo, porque o Senhor está sempre conosco, e é Ele quem tem o leme, quem nos guia, quem nos sustenta", concluiu.

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18 maio 2024, 08:59