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Pontífice, na Audiência Geral desta quarta (13), recordou quem sofre com a guerra Pontífice, na Audiência Geral desta quarta (13), recordou quem sofre com a guerra  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Papa Francisco: o décimo primeiro ano de pontificado marcado pela dor das guerras

Doze meses, a partir de 13 de março de 2023 até hoje, marcados por mais de 150 apelos pela "martirizada" ±«³¦°ùâ²Ô¾±²¹ e por mais de 60 por um cessar-fogo no Oriente Médio, acompanhados pelo convite aos líderes das nações a "esforços criativos" por uma "paz justa e duradoura" e à "coragem da negociação", sempre movidos pela angústia de ver a humanidade atravessar "uma hora sombria".

Salvatore Cernuzio - Pope

Me dói ver os mortos, jovens que não voltam. É difícil...

Foi exatamente há um ano. No dia em que comemorava os 10 anos de pontificado, o Papa compartilhava a sua íntima dor, partilhando aquela de milhares de mulheres e mães em todo o mundo, em um podcast - o primeiro - com a mídia do Vaticano. Seus pensamentos estavam particularmente voltados para os jovens que morreram em campo de guerra pela agressão contra a Ucrânia, que sempre foi descrita como "martirizada" ou, às vezes, "torturada".

Não se trata de um epíteto cansado, como o de algumas críticas depreciativas, mas de um lembrete constante do tormento ao qual o povo ucraniano tem sido submetido desde 24 de fevereiro de 2022. A dor que Francisco vem compartilhando com o público em geral não diminuiu nesses 12 meses de seu décimo primeiro ano de pontificado, mas sim se aguçou diante da perspectiva de expansão do conflito no Leste Europeu - com o possível envio de tropas europeias e a ameaça de uma resposta nuclear - e ainda mais desde outubro com a irrupção do horror na Terra Santa, após o ataque terrorista do Hamas e a resposta militar israelense que causou cerca de 31 mil mortes em 5 meses. Uma outra daquelas "peças" que compõem o terceiro conflito global em andamento.

Oração silenciosa, tristeza pública

Diante dessa dor, o Papa Francisco, chefe da Igreja universal e aos 87 anos de idade um dos pontífices mais longevos, reza no silêncio do seu quarto, onde guarda ícones, cruzes e outros objetos representativos dos territórios feridos de onde vieram. A isso dá voz em cada pronunciamento público. Mais de 130 apelos que Jorge Mario Bergoglio fez desde 13 de março de 2023 até hoje para a Ucrânia, mais de 60 aqueles para o Oriente Médio e a população de Gaza.

Não houve um Angelus, Regina Caeli ou Audiência Geral em que o Papa não tenha feito referência à guerra, reiterado a proximidade com os povos afetados ou invocado a paz e a coragem da negociação como um exercício de sabedoria que impeça a prevalência de interesses partidários, proteja as legítimas aspirações de cada um e ponha fim à "loucura" da guerra.

Uma bandeira da Ucrânia na Praça São Pedro durante o Angelus com o Papa (AFP)
Uma bandeira da Ucrânia na Praça São Pedro durante o Angelus com o Papa (AFP)

Paz para a martirizada Ucrânia

Às vezes, foram apelos vigorosos - pronunciados mesmo quando a voz, devido à bronquite ou à gripe recorrente várias vezes nos últimos meses, não permitia - ou, com frequência, breves observações, memorandos fugazes ou alarmes para não deixar que o hábito ou o cinismo tomassem conta, quando até mesmo o drama de um ataque com mísseis a escolas e residências era rebaixado para "notícias atualizadas". A esperança de uma paz justa e duradoura foi e é sempre o único pano de fundo das palavras do Papa neste décimo primeiro ano de pontificado, que vale a pena retomar em tempos de instrumentalização do seu pensamento ou diante de acusações de "equívoco" que, como o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, apontou, sempre foi "o estilo" da Santa Sé.

O apelo à União Europeia

O Papa não desiste de buscar a paz, de esperar pela paz e de rezar por ela.

Francisco disse isso às famílias de refugiados que haviam chegado à Itália graças aos corredores humanitários, recebidos em audiência em 18 de março de 2023. E quatro dias depois, na Audiência Geral, recordou o ato de consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria: "não nos cansemos de confiar a causa da paz à Rainha da Paz", exortou, pedindo para renovar a cada 25 de março o ato de consagração a Nossa Senhora, "para que Ela, que é Mãe, nos proteja a todos na unidade e na paz".

O Pontífice sempre pediu que o compromisso espiritual fosse acompanhado por "um compromisso coeso" política e diplomaticamente, a começar pela União Europeia. Um desafio "muito complexo", destacou na audiência à Comece, uma vez que os países da UE estão "envolvidos em múltiplas alianças, interesses, estratégias, uma série de forças que é difícil fazer convergir em um único projeto" contra a guerra que, ressaltou na mesma ocasião, "não pode e não deve mais ser considerada como uma solução para os conflitos".

A mensagem da "Pacem in Terris"

Palavras que reverberaram na bênção Urbi et Orbi da Páscoa, acompanhadas da súplica para que Deus abra os corações de toda a comunidade internacional para que trabalhe para pôr fim "a todos os conflitos que mancham o mundo de sangue". Francisco também se dirigiu aos chefes das nações no aniversário de 60 anos da de (11 de abril de 2023), pedindo-lhes que se inspirassem em seus planos e decisões nessa encíclica dirigida à Igreja e ao mundo no auge da tensão entre os dois blocos da Guerra Fria. Uma mensagem, a do Papa Roncalli, muito oportuna, como fica evidente na seguinte passagem: "As relações entre as comunidades políticas, como aquelas entre os seres humanos individuais, devem ser reguladas não pelo recurso à força das armas, mas à luz da razão, isto é, na verdade, na justiça, na solidariedade operante".

Esforços criativos pela paz

"Onde estão os esforços criativos pela paz?", perguntou o Papa na Hungria, que se tornou um local de refúgio para milhares de refugiados ucranianos, durante seu em sua viagem de abril de 2023.

No mundo em que vivemos, a paixão pela política comunitária e pelo multilateralismo parece não passar duma linda recordação do passado: parece-nos assistir ao triste ocaso do sonho coral de paz, enquanto avançam os solistas da guerra.

Não apenas denúncias, mas também perspectivas do Papa que, no , disse aos jornalistas: "creio que a paz sempre se faz, abrindo canais; nunca se pode fazer uma paz, fechando. A todos convido a abrir relacionamentos, canais de amizade. Isto não é fácil". "Interessa a todos o caminho da paz. Eu estou disposto, estou disposto a fazer o que for preciso", acrescentou o Pontífice, antecipando o início de uma missão que mais tarde viria a ser a do cardeal Matteo Maria Zuppi como seu emissário em Kiev, Moscou, Washington e Pequim.

Apelos de paz na Praça São Pedro (Ansa)
Apelos de paz na Praça São Pedro (Ansa)

Um mundo sem ódio e sem armas

Foi uma missão que se cristalizou à medida que se desenrolava, a de Zuppi, satisfazendo o desejo do Papa de um esforço também de "criatividade". "No oceano da história, estamos a navegar num momento tempestuoso e sente-se a falta de rotas corajosas de paz. Olhando com grande afeto para a Europa, no espírito de diálogo que a carateriza, apetece perguntar-lhe: Para onde navegas, se não ofereces percursos de paz, vias inovadoras para acabar com a guerra na Ucrânia e com tantos conflitos que ensanguentam o mundo? ", perguntava Francisco em o primeiro compromisso da viagem em Portugal para a JMJ, durante a qual se encontrou com um milhão e meio de jovens. Aqueles que, como enfatizou na Audiência Geral da quarta-feira sucessiva, "mostraram a todos que outro mundo é possível: um mundo de irmãos e irmãs, onde as bandeiras de todos os povos tremulam juntas, lado a lado, sem ódio, sem medo, sem fechamentos, sem armas!".

A hora sombria da história

Um sonho, esse do Papa, posto à prova pelos acontecimentos de 7 de outubro. A expressão do seu rosto era fechada e sua voz sentida quando o Pontífice, no , deplorava a violência que "explodiu ainda mais ferozmente" em Israel e, da janela do Palácio Apostólico, disse: "por favor, parem com os ataques e com as armas, e compreendam que o terrorismo e a guerra não conduzem a nenhuma solução, mas apenas à morte e ao sofrimento de tantos inocentes. A guerra é uma derrota: todas as guerras são uma derrota!".

Sempre uma derrota

"A guerra é uma derrota", também esse um leitmotiv recorrente desses últimos meses do pontificado. Para alguns, talvez seja uma expressão ingênua demais, mas como se pode definir uma "vitória" a morte em massa de milhares dos próprios cidadãos, na maioria das vezes civis inocentes?

"Uma catástrofe humanitária": assim que o Papa já descrevia a situação em Gaza, nem mesmo dez dias após a resposta armada de Israel.

Que as armas silenciem! Que se ouça o grito de paz dos povos, das pessoas, das crianças! Irmãos e irmãs, a guerra não resolve nenhum problema, apenas semeia a morte e a destruição, aumenta o ódio e multiplica a vingança. A guerra cancela o futuro.

A exortação encerrou a A, na qual Francisco anunciou o dia de jejum e oração de 27 de outubro em São Pedro. Um momento de oração e penitência em "uma hora sombria da história".

Uma hora que parece durar um século e uma escuridão que envolve milhares de pessoas, tiradas de suas terras, lares ou da própria vida. "Não" é a única resposta. "Dizer 'não' à guerra, a todas a guerra, à própria lógica da guerra, que é viagem sem destino, derrota sem vencedores, loucura indesculpável", o Papa disse na .

O povo, que não quer armas mas pão, que tem dificuldade em acudir às despesas quotidianas e pede paz, ignora quanto dinheiro público é destinado a armamentos. E, contudo, devia sabê-lo! Fale-se disto, escreva-se sobre isto, para que se conheçam os interesses e os lucros que movem os cordelinhos das guerras.

A coragem da negociação

E esse "não" deve ser acompanhado de ações concretas. O Papa Francisco sugeria isso em seu : "não se pode deixar continuar um conflito, que se está gangrenando cada vez mais, com dano para milhões de pessoas, mas é preciso que se ponha termo à tragédia em curso através da negociação, no respeito pelo direito internacional".

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13 março 2024, 11:00