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Papa à Arquieparquia siro-malabar de Ernakulam: não se transformem em uma seita

Francisco envia uma mensagem em vídeo à Arqueparquia de Ernakulam-Angamaly, na òԻ徱²¹, no contexto daqueles que recusam a celebração segundo a forma decidida pelo Sínodo Siro-Malabar, causando divisões e violência. O Pontífice sublinha fortemente que por trás desta diatribe há razões que “não têm nada a ver com a celebração da Eucaristia nem com a Liturgia. São razões mundanas." Em seguida, lança um apelo à unidade, convidando os fiéis a não seguirem aqueles que os levam a desobedecer.

Salvatore Cernuzio – Cidade do Vaticano

Colocar um fim às lutas, oposições e também violências - que não faltaram em mais de uma ocasião -, evitar transformar-se em uma “seita†e não forçá-lo a chegar a “sançõesâ€.

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Com uma mensagem em vídeo à Arqueparquia de Ernakulam-Angamaly, onde muitos rejeitam a forma litúrgica estabelecida pelo Sínodo Siro-Malabar, o Papa Francisco fala com firmeza sobre a divisão vivida nesta Igreja de Rito Oriental. A maior e mais antiga Igreja da Índia, “fonte de alegria e orgulho para a Igreja universalâ€, está internamente dilacerada por uma disputa que parece centrada na direção para a qual a Missa é celebrada pelos sacerdotes ou seja, se ela é dirigida para a comunidade ou para o altar. Mas Francisco esclarece que as verdadeiras razões são outras.

Sei que existem razões de oposição que nada têm a ver com a celebração da Eucaristia nem com a Liturgia. São razões mundanas. Elas não vêm do Espírito Santo. Se não vêm do Espírito Santo, vêm de outro lugar.

Papa à Arquieparquia de Ernakulam

Então seu sincero apelo àqueles que se rebelam contra as decisões do Sínodo:

Por favor, não continuem a ferir o corpo de Cristo! Não se separem mais dele! E mesmo que tenha havido erros em relação a vocês, perdoem-nos generosamente.

A discussão já se arrasta há décadas nesta antiga Igreja Oriental - a segunda mais unida com Roma depois daquela ucraniana - desde que, com a progressiva latinização, a liturgia tornou-se mais próxima daquela ocidental e o rito siríaco oriental original (voltado para o altar) foi em parte substituído por uma forma voltada para a comunidade. Em 1934, Pio XI havia pedido uma reaproximação com o antigo rito, abandonado por séculos; nos anos 80, foram publicados os novos textos para o Santo Qurbana, a Missa de rito siro-malabar. E desde então surgiram problemas.

O Sínodo da Igreja arquiepiscopal maior siro-malabar, celebrado em 2021, buscou uma solução de compromisso segundo a qual a primeira parte da função, ou seja, a Liturgia da Palavra, e a parte conclusiva sejam celebradas pelo sacerdote voltado para o povo, enquanto a parte central, a liturgia eucarística, seja celebrada pelo sacerdote voltado para o Oriente, olhando para o altar.

A decisão do Sínodo foi aprovada pela Santa Sé, mas não aceita por todos. No dia 28 de novembro de 2021, data escolhida para a implementação do Santo Qurban, 34 eparquias decidiram implementar a decisão sinodal, enquanto na Arqueparquia de Ernakulam-Angamaly muitos sacerdotes e fiéis continuaram a afirmar a própria “particularidade litúrgicaâ€, com o celebrante sempre voltado para a assembleia, em contraste com o resto da Igreja Siro-Malabar.

A diatribe atingiu tons tão exasperados que o arcebispo Cyril Vasil', enviado pelo Papa em agosto passado para “resolver a situação†da arqueparquia, “assegurando a implementação da reforma litúrgica†aprovada pelo Sínodo, sofreu atos de agressão, sendo atingido por ovos e outros objetos.

Em toda esta difícil situação, portanto, chega agora a palavra de Francisco de uma forma que ele mesmo reconhece como “um pouco inusitadaâ€, uma mensagem em vídeo, mas o objetivo – afirma – é que “ninguém mais tenha dúvidas sobre o que pensa o Papa".

Já no passado, de fato, o Pontífice havia se dirigido a esta antiga Igreja indiana por meio de duas cartas: uma em julho de 2021 dirigida a bispos, sacerdotes, religiosos e leigos, que Francisco exortava a “caminhar juntos com o povo de Deus porque a unidade supera todos os conflitosâ€; a outra, em abril de 2022, enviada à Arqueparquia de Ernakulam-Angamaly, na qual foi reiterado o convite para aderir às decisões do Sínodo da Igreja Siro-Malabar sobre a forma celebrativa do Qurbana.

As cartas parecem não ter surtido o efeito desejado, como observa o próprio Papa: “Já vos escrevi várias vezes no passado, mas sei que nem todos leram as minhas cartasâ€, diz no vídeo em que, entre outras coisas, pede a obediência às decisões do Sínodo, de não seguir aqueles - entre os quais sacerdotes - que incentivam a dissidência e de fazer, portanto, alguns "sacrifícios" para preservar a comunhão, sem a qual - afirma - "não há Igreja†e corre-se o risco de se transformar em “uma seitaâ€.

Peço-vos para estarem atentos! Estejam atentos para que o diabo não vos induza a transformar-vos em uma seita. Sejam Igreja, não se tornem uma seita. Não obriguem a Autoridade eclesiástica competente a constatar que saístes da Igreja, porque já não estais em comunhão com os vossos pastores e com o Sucessor do Apóstolo Pedro, chamado a confirmar todos os irmãos e irmãs na fé e a preservá-los na unidade da Igreja. Com grande dor, então, deverão ser tomadas as relativas sanções. Eu não quero ter que chegar a isso.

O Papa se concetra depois na decisão do Sínodo que, “depois de um longo e cansativo trabalho, chegou a um acordo sobre a forma de celebrar o Santo Qurban. A caridade e o amor à comunhão levaram os seus membros a dar este passo, mesmo que alguns deles não considerem a ideal esta forma de celebraçãoâ€. “Eu sei – explica Francisco – que há anos, alguns que deveriam ser exemplos e verdadeiros mestres de comunhão, sobretudo presbíteros, vos incentivam a desobedecer e se opor às decisões do Sínodo. Irmãos e irmãs, não os sigam!â€. O Papa recorda com dor que foram registradas violências, “especialmente contra aqueles que querem permanecer em comunhão†e celebrar como o Sínodo estabeleceu.

“Como pode ser a Eucaristia se a comunhão é rompida, se há falta de respeito pelo Santíssimo Sacramento, entre lutas e rixas?â€, pergunta então o Papa na mensagem em vídeo.

O Pontífice dirige-se, portanto, diretamente ao povo fiel de Deus, ao clero, aos religiosos e às religiosas e sobretudo aos “queridos fiéis leigos†que, diz ele, têm tanta fé no Senhor e amam a Igreja:

Em nome do Senhor, pelo bem espiritual da vossa Igreja, da nossa Igreja, peço-vos que recompor esta ruptura. É a vossa Igreja, é a nossa Igreja. Restabeleçam a comunhão, permaneçam na Igreja Católica!

Aos presbíteros, o Bispo de Roma pede que não se separem do caminho da própria Igreja, mas que caminhem juntos com os seus bispos: “Aceitem colocar em prática o que o vosso Sínodo estabeleceu... Não veem que assim a Igreja fica bloqueada e muitas iniciativas já não podem ser praticadas a serviço do povo santo de Deus, a serviço da santificação do povo de Deus?â€.

Olhando para o próximo Natal, Francisco faz votos que a arquidiocese “concorde humilde e fielmente" de caminhar com o resto da Igreja, respeitando todas as indicações do Sínodo. A indicação é clara: “Para o próximo Natal, portanto, na Arquieparquia de Ernakulam-Angamaly, como em toda a Igreja Siro-Malabar, seja celebrado o Qurbana em comunhão, seguindo as indicações do Sínodoâ€. Assim, diz o Papa, "será Natal para todo o vosso povo, para todos".

Disto uma recomendação final, citando São Paulo na primeira Carta aos Coríntios: “Que a Eucaristia seja o modelo da vossa unidade. Não destruam o Corpo de Cristo que é a Igreja, para não comer e beber a vossa condenaçãoâ€.

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07 dezembro 2023, 12:03