Papa abra?a Bentolo, migrante que sobreviveu a viol¨ºncias e naufr¨¢gios
Salvatore Cernuzio ¨C Pope
¡°Como é possível que a pessoa mais importante do mundo queira me conhecer, eu que nem tenho documentos no momento?¡±: é o que declara Bentolo, um jovem camaronês que, em 2020, foi obrigado a deixar seu país, por causa do conflito interno. Diante da encruzilhada ¡°combater ou fugir¡±, escolheu a segunda opção, para não ceder à lógica do ódio. Sua fuga, como a de milhares de migrantes africanos, foi marcada por violências, prisões, naufrágios e pela dor de ver seus companheiros torturados.
Audiência papal à ¡°Mediterranea Saving Humans¡±
Na manhã desta sexta-feira, 21, Bentolo realizou seu sonho de ser recebido pelo Papa, em audiência privada, na Casa Santa Marta, junto com uma delegação da ¡°Mediterranea Saving Humans¡±, uma ONG fundada por Luca Casarini, presente na audiência. Esta foi uma oportunidade para o jovem camaronês de recomeçar uma vida nova, diferente, melhor ou apenas reviver: uma sorte que outros refugiados na Líbia não conseguiram ter.
Durante o encontro com o Papa, o capelão da ONG, Padre Mattia Ferrari, contou a história do jovem migrante e sua emoção de receber a Bênção de Francisco. O sacerdote publicou fotos da audiência no Facebook com todo o grupo da Associação, que contava também com a presença de diversas pessoas, que prestam serviço de resgate no Mar Mediterrâneo.
Via Sacra de Bentolo
O jornal Avvenire, da Conferência Episcopal Italiana (CEI), repercorreu a Via Sacra de Bentolo: preso por traficantes na Líbia e vendido aos guardiões do Estado, que o levaram para um campo de prisioneiros em Zawiyah, sob o controle da milícia AL-Nasr e do bando do major da guarda costeira, Abdurahman AL-Milad, e, depois, transferido para Zuara. Em um dos centros de detenção, o jovem camaronês encontrou outros refugiados cristãos subsaarianos, alguns agonizantes, após meses de tortura e privações.
Ao lado dos companheiros moribundos
Na Líbia, o jovem Bentolo conseguiu entrar em contato, às ocultas, com alguns ativistas de direitos humanos, através de um celular que os presos não podiam ter. Por meio dos ativistas, conheceu o capelão da ONG, Padre Mattia Ferrari, a quem pediu ¡°uma palavra de conforto para seus irmãos moribundos¡±. O sacerdote de Modena entrou em contato espiritual com alguns prisioneiros, acompanhando-os com suas orações até à morte.
A seguir, perdemos todos os contatos com Bentolo, como explica o Papa Mattia Ferrari: ¡°Temíamos que ele tivesse sido condenado pelo sistema criminal líbio ou tivesse morrido no mar¡±.
No entanto, certo dia, o navio de resgate da Organização humanitária alemã, Sea Watch, interveio no Mediterrâneo Central, resgatando dezenas de refugiados, sobreviventes de um naufrágio, entre os quais se encontrava Bentolo. Assim, o jovem desembarcou na Itália e tentou, novamente, entrar em contato com o Padre Ferrari, enquanto era acolhido em um Centro de Assistência.
"Curado" pelo abraço do Papa
O jovem Bentolo afirmou, depois da audiência papal, que ficou completamente ¡°curado¡± de todas estas feridas ao ser abraçado pelo Papa, que havia sido informado sobre a dolorosa história do rapaz. De fato, disse ao Pontífice: ¡°Eu estava ansioso para lhe conhecer. Seu gesto me comoveu¡±. E, segurando a mão do Papa, acrescentou: ¡°Vou tentar entrar em contato com meus amigos, que ainda estão presos na Líbia, para transmitir-lhes a sua Bênção¡±. Desta forma, após tantas lutas e sofrimentos para chegar à Europa, Bentolo realizou seu sonho de conhecer pessoalmente o Papa Francisco: ¡°Parecia um sonho impossível, que se tornou realidade".
Francisco ouviu a experiência de Bentolo
Segundo o capelão, Padre Ferrari, ¡°o Papa não só quis conhecer o jovem camaronês, mas ouviu sua experiência e seus desejos¡±. O que mais impressionou o Pontífice foi ¡°o fato de Bentolo ter continuado a amar e estar ao lado de seus companheiros necessitados, naquela terrível situação da Líbia".
"Situação desumana" na Tunísia e Líbia
Referindo-se ainda à audiência papal, o Padre Mattia Ferrari disse: ¡°O Papa falou também sobre a situação desumana em que vivem muitos migrantes na Tunísia e Líbia. Um drama representado pela postagem de uma fotografia na Web, de uma mulher, com a filha de 5 anos, que morreu de fome, calor e sede no deserto. Diante desta imagem, o Papa expressou sua profunda consternação¡±.
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