Sudão do Sul: os deslocados de Juba que encontram o Papa
Francesca Sabatinelli – Juba
Neste sábado (04) o Presidente da República concedeu anistia a 71 prisioneiros, após uma carta do Papa (em dezembro) pedindo um gesto de clemência. A Nunciatura Apostólica do Sudão do Sul havia entregue ao Chefe de Estado uma carta do Papa, endereçada a todos os líderes mundiais, na qual ele pedia um gesto de clemência para os prisioneiros. Esta é uma notícia positiva vinda da capital do Sudão do Sul, nos dias em que o Papa Francisco visita o país. Neste sábado (04) o Papa terá um encontro com as pessoas deslocadas que vivem no Campo de Juba, são cerca de 33 mil pessoas que vivem dentro do recinto criado em 2013.
Vida no campo de deslocados
No campo de deslocados a vida de uma criança vale menos de 15 dólares, o que é igual ao custo dos remédios contra a malária que salvariam muitas vidas aqui, mas que, infelizmente, se perdem. Assim como salvaria a visão de muitas pessoas que a perderam por causa de bactérias na água dos riachos em que se lavam. Não é fácil contar como vivem as 33 mil pessoas amontoadas em um acampamento para deslocados internos, entre barracas remendadas e barracos de lata. São pessoas desalojadas do próprio país, provavelmente perderam tudo, até mais de uma vez em suas vidas: casas, terras, bens preciosos como gado, mas acima de tudo vidas humanas, as de familiares, amigos, mortos pela loucura da violência e do ódio.
Padre Gandolfi
As crianças, com sede de água potável, e na maioria das vezes com sinais evidentes de desnutrição, correm com os pés descalços, feridas e sujas, entre o lixo, cacos de vidro, metais enferrujados, e nunca saíram deste recinto. O campo, criado em 2013, não é mais supervisionado pelas Nações Unidas; é aqui que que se refugiaram os que fugiram da guerra no norte do país nos anos passados, e depois da guerra que também devastou a capital em 2016. Agora vivendo no acampamento, são pessoas "confinadas por barreiras tribais, barreiras econômicas e sociais", diz o padre Federico Gandolfi, missionário dos Frades Menores, pároco da Paróquia da Santíssima Trindade em Juba, que também é responsável pelo cuidado pastoral do campo de refugiados onde todos pertencem à tribo Nuer, ao contrário da tribo dominante Dinka, do governo.
Eles nos ensinam muito
"Há muitas necessidades", explica o missionário, "mas eles nos ensinam que se pode viver com pouco e que se pode viver serenamente, isso é o que sempre me surpreende". Do ponto de vista médico, a assistência aqui no campo é praticamente zero, eles não conseguem ir aos hospitais, a taxa de mortalidade é muito alta, tanto entre crianças quanto entre adultos, por doenças que em outros lugares ou não existem mais ou seriam muito fáceis de tratar". As novas gerações que cresceram no campo só falam sua própria língua, não aprenderam o árabe, que é comumente falado, nem o inglês, que é a língua oficial, o que um dia tornará o processo de integração ainda mais difícil, no entanto, continua o padre Gandolfi, "você vê crianças que brincam e pessoas que sorriem e seguem em frente com esperança". Nesta tarde o Papa encontrará alguns dos deslocados do campo no Freedom Hall junto com outros que vieram de outras partes do país, e isso representa, diz o padre, "a esperança com um E maiúsculo para estas pessoas que não têm absolutamente nada e ainda estão sorrindo, porque dão importância às coisas que valem a pena, ao encontro com o outro". Aqui eles sorriem por causa das relações que têm e Francisco vem confirmar uma relação fundamental que se baseia na fé".
Querem a paz e reconciliação
Apesar dos horrores, apesar do luto, das feridas físicas e muito mais, os deslocados do campo de Juba falam de reconciliação e paz, eles dizem que sua esperança é que um dia serão novamente um povo unido, não há espaço em seus corações para o ódio e o desejo de vingança. "É fé", continua o religioso, "eles sabem que a reconciliação é a única maneira de garantir um futuro para seus filhos". Para os missionários, os únicos a dar atenção aos deslocados no campo, dentro do qual existem várias paróquias, católicas e protestantes, nem sempre é fácil ter uma visão positiva sobre o futuro dessas pessoas que, no entanto, assinala o padre Federico, "nos ensinam que a vida continua, eles sabem que o futuro pode ser belo, que depende muito deles, por isso dão importância às coisas fundamentais, como seu povo e sua unidade".
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