Gallagher: diálogo exige sacrifício de todos, sem trair o espírito de Helsinque
Salvatore Cernuzio – Cidade do Vaticano
Restabelecer a paz, dialogar mesmo à custa de um "sacrifício" de todos, recuperar o espírito da Conferência de Helsinque, "traída" muito antes do último 24 de fevereiro. Estas, em síntese, as palavras do secretário para as Relações com os Estados, arcebispo Paul Richard Gallagher, ao dirigir-se aos participantes da 29ª reunião do Conselho dos ministros de toda a família da OSCE, a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa.
O encontro realizou-se na quinta-feira, 1º de dezembro, em Łódź, na Polônia, em um momento histórico em que – afirmou o arcebispo Gallagher – “a Europa e o mundo inteiro estão abalados por uma guerra particularmente grave, em termos de violação do direito internacional, riscos de escalada e graves consequências econômicas e sociais".
A Ucrânia e conflitos no mundo
A referência é ao conflito na Ucrânia, mas esse não é o único drama que aflige o mundo: “Outros Estados participantes ainda enfrentam inúmeros desafios à sua segurança e estabilidade, devido a conflitos de décadas, mais recentes, além de ataques terroristas”, sublinhou o arcebispo. E reiterou o compromisso ativo da Santa Sé em “buscar a paz, a segurança e a justiça e o desenvolvimento contínuo de relações amistosas e de cooperação” entre os Estados participantes da OSCE.
“Como pudemos trair o espírito de Helsinque?”
O mesmo compromisso que, em 1975, a Santa Sé - sempre mantendo "uma posição imparcial" - demonstrou durante as negociações que levaram à Ata Final de Helsinque, ou seja, os acordos estipulados por 35 Estados na conclusão da Conferência sobre Segurança e Cooperação em Europa. É precisamente esse evento evocado por Gallagher, que propôs uma questão crucial aos presentes em Łódź: "Como pudemos trair o espírito de Helsínquia?". Uma traição que, afirma, "começou muito antes de fevereiro passado", ou seja, desde o primeiro ataque russo a Kyiv.
O período da Guerra Fria
O secretário para as Relações com os Estados recordou então a história e o complexo período da Guerra Fria, quando “Oriente e Ocidente estavam separados pela radical diferença ou irreconciliável dos seus respectivos sistemas, ambos proclamando as suas próprias convicções, as suas próprias profecias; agressivos, ou pelo menos agressivamente colocados na defensiva, movidos por um espírito de afirmação e expansão”.
Aaquele muro que parecia intransponível foi ao invés disso superado: “Nossos predecessores se reuniram em torno de uma mesa em Helsinque e conseguiram discutir temas de interesse comum, aceitando e honrando compromissos a serviço do bem comum. Quanto mais a comunidade internacional demora em responder às suas responsabilidades gerais, mais ela perde credibilidade”, afirmou o arcebispo Gallagher.
Condenar as violações dos direitos humanos
O primeiro passo, disse Dom Gallagher, é "a condenação dos crimes e a denúncia das violações dos direitos humanos e do direito internacional".
“Como Organização comprometida com a cooperação e a segurança, devemos sempre dar um passo além, visando restabelecer a paz”, recomendou o arcebispo à OSCE, citando o Papa quando afirma que o diálogo, o falar-se, promove a paz.
“O diálogo exige sacrifício de todos. Mas mesmo que o diálogo pareça menos glorioso do que lutar no campo de batalha, seus resultados são muito mais benéficos para cada parte interessada, porque o diálogo gera soluções que não são impostas pela força, mas consensuais, justas e estáveis", disse Gallagher.
Refugiados e deslocados escravizados por criminosos
Em seu pronunciamento também houve preocupação com a situação dos refugiados e deslocados internos em toda a área da OSCE e em todo o mundo: “Em situações de conflito e crises humanitárias, os criminosos subjugam, escravizam e traficam pessoas”, afirmou o prelado. "Mulheres e homens podem ser submetidos a este crime hediondo, mas é claro que a maioria das vítimas são mulheres e meninas." Infelizmente, o problema é que "a organização das sociedades mundiais ainda está longe de refletir claramente o fato de que as mulheres têm a mesma dignidade e direitos que os homens".
A intolerância e a discriminação estão crescendo
Por fim, o representante do Vaticano destacou o aumento da "intolerância" e da "discriminação" motivadas pelo anti-semitismo e pelos preconceitos contra muçulmanos, cristãos e membros de outras religiões.
Em particular sobre os cristãos, Gallagher observou que as perseguições contra eles estão crescendo "por causa de uma atmosfera cada vez mais hostil", não apenas em países onde eles são minoria, mas também onde são maioria. “O desinteresse por este problema – disse – não pode ser uma opção!”.
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