Gr?o Imame de Al-Azhar em Bahrein: m?os estendidas a xiitas, superemos os conflitos hist¨®ricos
Salvatore Cernuzio/Raimundo de Lima - Pope
Um diálogo entre as religiões pela paz e o diálogo entre Oriente e Ocidente. Um diálogo dentro do Islã que seja "sério" e "em favor da unidade, da aproximação". Portanto, sinceros e mútuos pedidos de "desculpas" "pelas coisas sobre as quais discordamos". "Coração aberto" e "mãos estendidas" para "nossos companheiros xiitas muçulmanos". Palavras de grande significado as que foram proferidas esta sexta-feira, 4 de novembro, pelo grão imame de Al-Azhar, Mu?ammad A?mad Al-Tayyeb, no Fórum sobre Diálogo em Awali, no Reino de Bahrein. A autoridade máxima do islã sunita participou, juntamente com os líderes das diferentes religiões, do evento pela coexistência humana entre o Oriente e o Ocidente, concluído na manhã desta sexta-feira pelo Papa Francisco.
O abraço com o Papa
O próprio Al-Tayyeb deu as boas-vindas ao Pontífice em sua chegada à Praça Al-Fida no Palácio Real de Sakhir, em Awali. Um abraço entre os dois, capturado pelas câmeras, mostra mais uma vez a profunda ligação desenvolvida ao longo dos anos e fortalecida pelos cinco encontros que eles tiveram desde 2016 até hoje. A estes se acrescentou um sexto, na parte da tarde desta sexta-feira, no "Palácio Real de Sakhir", onde Francisco está hospedado durante estes três dias de viagem. Tratou-se de um encontro privado.
Os "frutos amargos" da humanidade
"Querido irmão", definiu o Papa o grão imame no início de seu discurso de encerramento do Fórum. E a mesma expressão foi repetida por Al-Tayyeb, em seu discurso no qual agradeceu àqueles que organizaram este "Fórum digno de ser lembrado na história" em um momento dramático para a humanidade no qual homens e mulheres do século XXI estão colhendo "frutos amargos": "Guerras, sangue, destruição e pobreza, para não mencionar os lutos, os órfãos; as viuvezes, a emigração, o êxodo, o medo de um futuro desconhecido, cheio de terror, preocupação e de imensa escuridão".
A tudo isso, disse o líder islâmico, somam-se "as vítimas das guerras" causadas pela "economia de mercado e o monopólio da riqueza, da ganância e do consumismo, o comércio e a exportação de armas pesadas e letais para países do terceiro mundo, juntamente com a exportação de conflitos sectários e étnicos e o incentivo à sedição e ao conflito, e a desestabilização desses países seguros".
Tragédias suportadas por teorias
Al-Tayyeb também expressou "pesar" que "as políticas que produzem essas tragédias e desgraças tenham sido apoiadas por teorias" como a do "conflito de civilizações", da "globalização" ou de todas as teorias "colonialistas". "Absorvidas" pelas sociedades ocidentais, elas "têm sido o critério pelo qual as relações internacionais com os povos em desenvolvimento ou pobres têm sido governadas".
"Não devemos nos desesperar - disse o grão imame - que logo chegará o dia em que as relações entre o Oriente e o Ocidente retomarão o seu justo caminho, estabelecendo assim uma relação de complementaridade e cooperação mútua, depois que as distâncias tiverem encurtado e as fronteiras tiverem desaparecido, e depois que o Ocidente e o Oriente não estiverem mais isolados um do outro, como aconteceu no século passado".
Perdoar-nos uns aos outros
A mesma reconciliação, a autoridade Al-Azhar invocou para o Islã: "Devemos perdoar-nos e pedir desculpas uns aos outros pelas coisas sobre as quais não concordamos, e pelas consequências disso; devemos parar com os discursos de ódio, as provocações e as infidelidades, tendo em mente a necessidade de superar os conflitos históricos e contemporâneos com todos os seus problemas e sedimentos", disse ele.
Daí, um apelo "aos meus irmãos, juristas muçulmanos do mundo inteiro, independentemente de suas seitas e escolas, para que mantenham um diálogo sério, um diálogo em favor da unidade, da aproximação, um diálogo pela fraternidade religiosa e humana, no qual rejeitamos as causas de divisão, sedição e conflito sectário e nos concentramos em pontos de acordo e de encontro".
O convite aos "companheiros xiitas"
"Estendo este convite a todos, e em particular aos nossos companheiros muçulmanos xiitas", disse Al-Tayyeb, dizendo que estava "pronto", juntamente com os principais juristas de Al-Azhar e o Conselho muçulmano de anciãos com quem o Papa se reuniu esta tarde, "para realizar tal encontro com o coração aberto e as mãos estendidas".
"Sentemo-nos juntos na mesma mesa para superar as diferenças e fortalecer a questão islâmica e a unidade das posições realistas, que cumprem os propósitos do Islã e de sua lei e proíbem os muçulmanos de ouvir os apelos à divisão e à discórdia; e para evitar cair nas armadilhas que causam instabilidade nas nações, o uso da religião para atingir um fim étnico ou sectário, e de interferir nos assuntos internos para enfraquecer a soberania dos Estados ou usurpar suas terras".
A intervenção do Rei do Bahrein
Também falou no Fórum para o Diálogo o rei Hamad bin Isa Al Khalifa, que patrocinou o evento e convidou o Papa Francisco. Satisfeito com todos os discursos, o soberano pediu para olhar as conclusões e recomendações do Fórum "com otimismo e grande esperança como um guia para fortalecer o caminho da fraternidade da humanidade, que tem uma grande necessidade, como nunca antes, de reavivar os caminhos da proximidade e da compreensão entre os seguidores das religiões". "Unidade, não divisão", foi o desejo do rei Hamad, que concluiu seu discurso convidando os líderes de todas as religiões a "serem unânimes nestas condições excepcionais em cessar a guerra entre a Rússia e a Ucrânia e iniciar negociações sérias para o bem de toda a humanidade".
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp