O Papa: uma Igreja sem medos e lamentos, livre de moralismos
Jane Nogara - Pope
No terceiro dia da sua viagem ao Cazaquistão, depois do encontro com os membros da Companhia de Jesus, o Papa Francisco encontrou os bispos, sacerdotes, diáconos, pessoas consagradas, seminaristas e agentes pastorais na Catedral Mãe de Deus do Perpétuo Socorro de Nur-Sultan. Na sua saudação inicial o Papa disse estar feliz por encontrar a Conferência Episcopal da Ásia Central e ver uma Igreja feita de muitos rostos, histórias e tradições diferentes, e todas unidos por uma única fé em Cristo Jesus. Acrescentando que a beleza da Igreja está nisto: ¡°em sermos uma única família, na qual ninguém é estrangeiro.
"E a força do nosso povo sacerdotal e santo está precisamente em fazer da diversidade uma riqueza através da partilha daquilo que somos e temos; a nossa pequenez multiplica-se, se a partilharmos¡±. Citando a passagem da Palavra de Deus de São Paulo que diz, 'o mistério de Deus foi revelado a todos os povos', o Papa disse: ¡°Todo o homem pode ter acesso a Deus, porque ¨C como explica o Apóstolo ¨C todos os povos ¡®são admitidos à mesma herança, membros do mesmo corpo e participantes da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho¡¯".
Herança e promessa
Em seguida disse que gostaria de sublinhar duas palavras usadas por São Paulo: ¡°Herança e promessa: a herança do passado é a nossa memória, a promessa do Evangelho é o futuro de Deus que vem ao nosso encontro: uma Igreja que caminha na história entre memória e futuro".
Memória e futuro
¡°Em primeiro lugar, a memória. Se hoje neste vasto país, multicultural e multirreligioso, podemos ver comunidades cristãs vibrantes e um sentido religioso que permeia a vida da população, deve-se sobretudo à rica história que vos precedeu¡±. Recomendando em seguida: ¡°No caminho espiritual e eclesial, não devemos perder a lembrança de quantos nos anunciaram a fé, porque fazer memória ajuda-nos a desenvolver o espírito de contemplação pelas maravilhas que Deus operou na história, mesmo no meio das fadigas da vida e das fragilidades pessoais e comunitárias¡±. Porém, adverte Francisco: ¡°Mas tenhamos cuidado! Não se trata de olhar para trás com nostalgia¡±.
Sem memória, não há estupefação do Mistério
¡°É esta memória viva de Jesus que nos enche de maravilha ¨C continuou Francisco - e nos faz tirar sobretudo do Memorial eucarístico a força de amor que nos impele. É o nosso tesouro. Por isso, sem memória, não há estupefação. Se perdemos a memória viva, então a fé, as devoções e as atividades pastorais correm o risco de esmorecer, sendo como fogos de palha que acendem imediatamente mas depressa se apagam¡±. Concluindo seu pensamento sobre a memória ainda acrescenta: ¡°A fé não é uma bela exposição de coisas do passado, mas um evento sempre atual, o encontro com Cristo que acontece aqui e agora na vida. Por isso não se comunica apenas com a repetição das coisas de sempre, mas transmitindo a novidade do Evangelho. Assim a fé permanece viva e tem futuro¡±.
Futuro
¡°E vemos aparecer aqui a segunda palavra: futuro¡±. Continua Francisco: ¡°a memória do passado não nos fecha em nós mesmos, mas abre-nos à promessa do Evangelho. Jesus garantiu-nos que estaria sempre conosco¡±. ¡°Apesar das nossas fraquezas, Ele não Se cansa de estar conosco, construindo juntamente conosco o futuro da sua e nossa Igreja¡±.
Ser pequenos
O Papa fala também dos desafios da fé ao dizer que num país vasto como o Cazaquistão poder-se-ia sentir ¡°pequenos¡± e inadequados. Contudo, encoraja, ¡°o Evangelho diz que ser pequeno, pobre em espírito, é uma bem-aventurança, a primeira bem-aventurança¡±. E afirma em seguida: ¡°há uma graça escondida no fato de se constituir uma pequena Igreja, um pequeno rebanho; em vez de exibir as nossas forças, os nossos números, as nossas estruturas e todas as outras formas de relevância humana, deixamo-nos guiar pelo Senhor e colocamo-nos, com humildade, ao lado das pessoas¡±.
Ponderando o aspecto da pequenez o Pontífice afirma ainda: ¡°Ser pequeno lembra-nos que não somos autossuficientes: que precisamos de Deus, mas também dos outros, de todos eles: das irmãs e irmãos doutras confissões, de quem professa um credo religioso diferente do nosso, de todos os homens e mulheres animados de boa vontade¡±.
Comunidade aberta ao futuro de Deus
E desejou que a comunidade eclesial do Cazaquistão seja sempre ¡°uma comunidade aberta ao futuro de Deus, abrasada pelo fogo do Espírito: viva, esperançosa, disponível às novidades d¡¯Ele e aos sinais dos tempos, animada pela lógica evangélica da semente que frutifica no amor humilde e fecundo¡±. ¡°Deste modo ¨C continuou o Papa - abre caminho não só para nós, mas realiza-se também para os outros, a promessa de vida e de bênção que Deus Pai derrama sobre nós por meio de Jesus. E realiza-se sempre que vivemos a fraternidade entre nós, que cuidamos dos pobres e de quem está ferido na vida, sempre que testemunhamos a justiça e a verdade nas relações humanas e sociais, dizendo ¡®não¡¯ à corrupção e à falsidade¡±. Desejando ainda que ¡°as comunidades cristãs, em particular o Seminário, sejam ¡®escolas de sinceridade¡¯: não ambientes rígidos e formais, mas ginásios de treino para a verdade, a abertura e a partilha¡±. Concluindo esse ponto disse ainda:
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