O Papa: pagar impostos é uma forma de partilhar as riquezas
Mariangela Jaguraba – Pope
O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (12/09), na Sala Paulo VI, no Vaticano, os participantes da assembleia pública da Confindustria, Confederação Geral da Indústria Italiana.
Em seu discurso, o Papa recordou que este tempo não é um tempo fácil para os empresários, para todos e que o mundo dos negócios também está sofrendo muito.
A pandemia pôs à prova as atividades produtivas, todo o sistema econômico foi ferido. E agora se acrescenta a guerra na Ucrânia com a crise energética resultante. Nessas crises também sofre o bom empreendedor, que tem a responsabilidade de sua empresa, dos empregos, que sente sobre si as incertezas e riscos. No mercado há empresários "mercenários" e empresários semelhantes ao bom pastor, que sofrem o mesmo sofrimento que seus trabalhadores, que não fogem diante dos muitos lobos que giram em torno. As pessoas sabem reconhecer bons empresários. Vimos isso recentemente, com a morte de Alberto Balocco: toda a comunidade empresarial e civil triste, expressaram estima e gratidão.
A seguir, o Papa recordou que a Igreja, desde o início, acolheu "os comerciantes, precursores dos empresários modernos". Citou a Parábola do Bom Samaritano em que ele antecipa o dinheiro ao dono da pensão para hospedar o homem ferido encontrado pela estrada, e os trinta denários de Judas, aqueles pelos quais o apóstolo vende Cristo. "Ontem, como hoje, o mesmo dinheiro pode ser usado para trair e vender um amigo ou para salvar uma vítima", disse o Papa.
Vemos isso todos os dias, quando o dinheiro de Judas e os do Bom Samaritano convivem nos mesmos mercados, nas mesmas bolsas de valores, nas mesmas praças. A economia cresce e se torna humana quando o dinheiro dos samaritanos se torna mais numeroso do que o de Judas.
A seguir, o Papa recordou que "na realidade é possível ser comerciante, empresário e um seguidor de Cristo, um habitante de seu Reino. A pergunta então é: quais são as condições para que um empresário possa entrar no Reino dos Céus?" Francisco deu algumas indicações aos empresários.
A primeira é partilhar. A riqueza, por um lado, ajuda muito na vida; mas também é verdade que muitas vezes a complica: não só porque pode se tornar um ídolo e um patrão implacável que consome toda a sua vida dia após dia. Também a complica porque a riqueza exige responsabilidade: uma vez que eu tenho bens, eu tenho a responsabilidade de fazê-los frutificar, não desperdiçá-los, usá-los para o bem comum.
Impostos não são uma usurpação
Uma forma de partilhar é a "filantropia", ou seja, "doar à comunidade de várias formas", disse o Papa, agradecendo àqueles que ofereceram apoio concreto ao povo ucraniano, especialmente às crianças deslocadas para que possam ir à escola. "Muito importante é aquela forma de partilhar que no mundo moderno e nas democracias são os impostos e taxas, uma forma de partilha muitas vezes não entendida", disse ainda Francisco.
O pacto fiscal está no centro do pacto social. Os impostos também são uma forma de partilhar a riqueza, para que se torne bens comuns, bens públicos: escola, saúde, direitos, cuidados, ciência, cultura e patrimônio.
Criar empregos para jovens
Outra forma de partilhar é a "criação de trabalho": "Trabalho para todos, especialmente para os jovens", disse o Papa aos empresários. Vocês precisam dos jovens, "porque empresas sem jovens perdem inovação, energia e entusiasmo".
Ao contratar pessoas vocês já estão distribuindo seus bens, vocês já estão criando riqueza compartilhada. Cada novo emprego criado é uma fatia de riqueza compartilhada de maneira dinâmica.
Apoio às famílias e taxas de natalidade
As novas tecnologias correm o risco de nos fazer esquecer essa grande verdade, mas "se o novo capitalismo cria riqueza sem criar empregos, essa grande boa função da riqueza entra em crise", alertou o Pontífice. O Papa retornou ao tema da queda da taxa de natalidade, uma questão que "combinada com o rápido envelhecimento da população, está agravando a situação dos empresários, mas também da economia em geral".
Chega de mulheres grávidas mandadas embora
"Sobre isso, devemos trabalhar para sair o mais rápido possível do inverno demográfico em que vive a Itália e outros países. É um inverno demográfico ruim, que vai contra nós e nos impede de crescer", disse o Papa. "Hoje, ter filho é uma questão, eu diria, patriótica, também para levar o país adiante". O Pontífice destacou outro problema sério:
Às vezes, uma mulher que trabalha aqui ou trabalha lá, tem medo de engravidar, porque há uma realidade (eu não digo entre vocês, mas há uma realidade): assim que a barriga começa aparecer, elas são mandadas embora. "Não, não, você não pode engravidar." Por favor, este é um problema das mulheres que trabalham. É preciso estudá-lo, ver como fazer que uma mulher grávida possa continuar, tanto com o filho que espera quanto com o trabalho.
A exploração dos migrantes é uma injustiça
Francisco ressaltou "o papel positivo que as empresas desempenham na realidade da migração, favorecendo a integração construtiva e valorizando as capacidades indispensáveis para a sobrevivência da empresa no contexto atual". Reiterou e convidou a dizer fortemente "não" a "todas as formas de exploração das pessoas e negligência em sua segurança". "O migrante deve ser acolhido, acompanhado, apoiado e integrado. Se é usado apenas como trabalhador braçal é uma grande injustiça que fere o país", concluiu o Papa.
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