O Papa Francisco visitará a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul
Salvatore Cernuzio/Mariangela Jaguraba - Pope
A Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou uma nota, nesta quinta-feira (03/03), sobre a viagem apostólica do Papa Francisco à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul.
"Acolhendo o convite dos respectivos Chefes de Estado e dos Bispos, o Santo Padre Francisco fará uma Viagem Apostólica à República Democrática do Congo de 2 a 5 de julho, visitando as cidades de Kinshasa e Goma, e ao Sudão do Sul de 5 a 7 de julho, indo a Juba. O programa da viagem será publicado posteriormente", ressalta a nota da Sala de Imprensa da Santa Sé.
Viagens à África
Francisco retorna como peregrino à África, sete anos depois da viagem apostólica de novembro de 2015 ao Quênia, Uganda e República Centro-Africana. Uma etapa complexa, esta última, incerta e arriscada pela violência na capital Bangui. O Papa quis ir até o fim e na catedral local abriu simbolicamente a Porta Santa para dar início ao Jubileu da Misericórdia. O Papa voltou novamente à África, em 2019, com a longa viagem de 4 a 10 de setembro a Moçambique, Madagascar e Maurício.
A vigília em São Pedro em 2017
O olhar do Papa nunca se desviou do continente africano e de suas feridas. Em particular, o Pontífice sempre demonstrou uma apreensão particular pela situação no Sudão do Sul e no Congo, países para os quais convocou e celebrou uma vigília de oração na Basílica de São Pedro, em 23 de novembro de 2017. Um intenso momento litúrgico, marcado por canções, testemunhos e orações, durante os quais o Papa exortou a Comunidade internacional a fazer os esforços adequados para levar a paz a essas áreas do mundo. "Que o Senhor Ressuscitado derrube os muros da inimizade que hoje dividem os irmãos", disse o Papa, rezando sobretudo pelas "mulheres vítimas de violência em zonas de guerra" e pelas crianças "que sofrem por causa de conflitos que roubam sua infância e às vezes até sua vida”.
A República Democrática do Congo ferida por assassinatos e atentados
Francisco havia falado de uma possível viagem ao território congolês em algumas entrevistas divulgadas no ano passado. Uma vontade ditada sobretudo pelo desejo de causar, como em Bangui, uma trégua de paz numa terra marcada pelo longo e sangrento conflito étnico nas províncias orientais de Kivu, ataques terroristas. O último ocorreu há pouco mais de um mês, em 1º de fevereiro passado, no campo de deslocados "Plaine Savo2" em Ituri, nordeste do país, com mais de 50 mortos e 36 feridos. O Papa Francisco condenou este "ato atroz e bárbaro", garantindo sua proximidade ao presidente Félix Tshisekedi. Com a mesma dor, poucos dias depois, o Papa denunciou a “violência injustificável e deplorável” da qual foi vítima o padre Richard Masivi Kasereka, religioso da Ordem dos Clérigos Regulares Menores, morto em 2 de fevereiro, após a missa do Dia da Vida Consagrada. Perante este novo episódio sangrento, o Bispo de Roma exortou toda a comunidade cristã congolesa a tornar-se anunciadora e testemunha "da bondade e fraternidade, apesar das dificuldades". Incentivo que o Papa levará agora pessoalmente ao Kivu Norte, com passagem pela capital Goma, onde a poucos quilômetros, em 22 de fevereiro do ano passado, na aldeia de Kibumba, foi assassinado o embaixador italiano Luca Attanasio.
O anúncio na Igreja Anglicana de Roma
A viagem ao Sudão do Sul é uma história à parte. Foi o próprio Papa, durante o encontro de 26 de fevereiro de 2017, com a comunidade anglicana de Roma na Igreja de Todos os Santos, quem anunciou que estava sendo estudada uma viagem ao país africano, atormentado por uma sangrenta guerra civil há seis anos. A viagem deveria ser feita junto com o primaz da Igreja Anglicana, Justin Welby, maior confissão religiosa do país (os católicos são quase quatro milhões, cerca de um terço da população total).
“Os meus colaboradores estão estudando a possibilidade de uma viagem ao Sudão do Sul”, foram as palavras do Papa na Igreja de Todos os Santos. "Os bispos anglicano, presbiteriano e católico vieram me dizer: 'Por favor, venha ao Sudão do Sul, talvez apenas um dia. Mas não venha sozinho, venha com Justin Welby'. Deles, jovem Igreja, veio essa ideia, e estamos pensando. Lá a situação é ruim e eles querem a paz. Juntos trabalhamos pela paz”. Nunca anunciada oficialmente, a viagem parecia acontecer no mesmo ano, mas foi bloqueada pela escalada da violência no país. A situação “ruim” tornou-se de fato trágica nos últimos meses com o agravamento do contexto político e a intensificação dos confrontos retomados em várias áreas, após o rompimento do cessar-fogo.
Ajoelhado aos pés dos líderes do Sudão do Sul
O drama da guerra e a consequente emergência humanitária persistiram por anos, tanto que o Papa convocou na Casa Santa Marta, no Vaticano, as mais altas autoridades religiosas e políticas do Sudão do Sul, em abril de 2018, junto com o arcebispo de Cantuária para um retiro espiritual ecumênico. O presidente Salva Kiir e os vice-presidentes designados foram ao Vaticano, incluindo Rebecca Nyandeng De Mabior, viúva do líder sul-sudanês John Garang, e Riek Machar, líder da oposição. Dias marcados pelo gesto inédito e marcante do Papa de se ajoelhar, no final de um discurso em que implorou o dom da paz para um país desfigurado por mais de 400 mil mortos, e beijar os pés dos líderes Sudão do Sul. “Que o fogo da guerra se extingua de uma vez por todas”, disse o Pontífice, reiterando mais uma vez seu desejo de visitar o país.
A viagem de Gallagher em dezembro de 2021
Hipótese concretizada em dezembro de 2021 pelo Secretário para as Relações com os Estados, dom Paul Richard Gallagher, ao retornar de uma viagem a Juba planejada há meses e coordenada com o Lambeth Palace (residência oficial do Arcebispo de Cantuária), mas prorrogada devido à emergência sanitária. Dentre os encontros com os líderes políticos e religiosos e realidades locais, o arcebispo disse que houve "grande apoio para uma visita do Santo Padre" ao Sudão do Sul e que ela poderia se realizar em 2022. Nesta quinta-feira, portanto, ocorreu o anúncio oficial.
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