Papa à Arquidiocese de Natal: renovar o ardor missionário na obra de evangelização
Cidade do Vaticano
“Que a recordação dos 30 anos daquela solene Celebração Eucarística sirva de estímulo para que os fiéis da Arquidiocese de Natal, sustentados pelo alimento celeste e impulsionados pela caridade de Cristo, renovem o seu ardor missionário na obra da Evangelizaçãoâ€.
Esses foram os votos expressos pelo Papa Francisco ao povo potiguar, na mensagem enviada ao arcebispo metropolitano de Natal, Dom Jaime Vieira da Rocha, por ocasião do trigésimo aniversário da celebração do XII Congresso Eucarístico Nacional em Natal, concluído com a Santa Missa presidida pelo Papa São João Paulo II em 13 de outubro de 1991.
Na mensagem assinada pelo cardeal secretário de Estado Pietro Parolin, e lida durante a Missa de Ação de Graças celebrada na Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Apresentação na noite de quarta-feira, 13, o Santo Padre recorda as palavras do Papa Wojtyla, quando em sua homilia afirmou que “a Eucaristia é a resposta de Deus a esta sede dos homens que caminham neste mundo em direção à Pátria celestialâ€.
Ademais, citando uma passagem de sua homilia na Solenidade do Santíssimo Corpo de Sangue de Cristo em 6 de junho do corrente, o Papa Francisco recordou o estreito vínculo da Eucaristia com a Caridade: “Na Eucaristia, contemplamos e adoramos o Deus do amor. É o Senhor que não divide ninguém, mas divide-Se a Si mesmo. É o Senhor que não exige sacrifícios, mas sacrifica-Se a si mesmo. É o Senhor que não pede nada, mas dá tudo. Para celebrar e viver a Eucaristia, também nós somos chamados a viver este amorâ€.
Ao final, o Santo Padre concedee a sua Bênção Apostólica, pedindo ao mesmo tempo que não deixassem de rezar por ele.
A realização do Congresso Eucarístico Nacional em Natal e a visita de São João Paulo II, a primeira de um Pontífice ao Rio Grande do Norte, marcaram profundamente a vida da Igreja local, e não só. Para recordar estes eventos, foi organizada no Centro Administrativo e Pastoral Pio X a exposição “Memórias do XII Congresso Eucarístico Nacionalâ€, com souvenirs, vídeos e fotografias do Congresso e objetos usados por São João Paulo II.
Já na Catedral Metropolitana, a Missa de Ação de Graças presidida por Dom Jaime Vieira da Rocha - e concelebrada por sacerdotes da Arquidiocese -, que também marcou a abertura da fase diocesana do Sínodo dos Bispos 2023, convocado pelo Papa Francisco. Pouco antes da celebração, Dom Jaime destacou ao Pope os frutos daquele Congresso Eucarístico - sobretudo a organização da pastoral e o aumento das vocações sacerdotais - e a graça e a "benção tão inefável" da presença do Papa João Paulo II:
Caríssimos leitores do Pope e plataformas digitais da Santa Sé, ouvintes da Rádio Vaticano de língua portuguesa. Aqui de Natal no Brasil, Rio Grande do Norte, a minha saudação fraterna e de Ação de Graças a Deus pelo dia de hoje, por esses momentos que estamos vivendo, celebrando a memória dos 30 anos do XII Congresso Eucarístico Nacional, acontecido aqui em Natal em 1991, contando com a presença, uma graça e uma benção tão inefável, do Santo Padre, o Papa João Paulo II, São João Paulo II, presidiu a Missa de encerramento. E assim nós estamos recordando frutos, bênçãos, memórias, que muito contribuíram para a vida da nossa Igreja, a partir do próprio hino do Congresso - “Reunidos ao redor de tua mesa, aqui vimos e pedimos o Senhor. Dai-nos sempre de teu Pão, a Palavra é comunhão, o pão nosso, o pão da vida, o pão do amor†-.
Quantos frutos colhemos dessa graça para nossa Igreja: o aumento das vocações sacerdotais, o crescimento pastoral e mais organização de uma pastoral de conjunto, uma vez que toda Igreja particular de Natal se preparou, se organizou em comissões diversas, envolvendo pessoas, lideranças, fiéis leigos, todas as categorias humanas que compõem a vida da Igreja. De modo que são muitos os frutos do Congresso Eucarístico Nacional em Natal, nos colocou num patamar de experiência, de preparação.
O Congresso serviu de inspiração como modelo organizacional para tantos outros Congressos Nacionais que se seguiram, de modo que os frutos são inefáveis, colhemos tantos frutos, sobretudo a organização da pastoral, o aumento das vocações sacerdotais, uma Igreja que já naquele tempo se organizava em diversas comissões pastorais, atendendo as necessidades do seu tempo. Assim é uma história que nos edifica, que nos renova, nos enche de esperança.
O sentimento que temos desses 30 anos passados é como Natal foi abençoada com a graça de um Congresso. A presença do Santo Padre, de tantos bispos, cardeais, pessoas de tanto engajamento e expressividade na vida da Igreja e nas diversas pastorais. A Igreja arquidiocesana se preparou de modo muito cuidadoso, zeloso, com as Missões de preparação ao Congresso, envolvendo todas comunidades. as paróquias, os fiéis, e assim o Congresso foi se tornando um crescendo de graças de benção, de participação e de comunhão.
Só podemos louvar e bendizer ao Senhor, nossa gratidão por esta deferência atenção da Rádio Vaticano, a Pope, a todos aqueles que nos brindam com esta atenção. Ficamos muito agradecidos. Deveras agradecidos com a mensagem que nos foi dada pelo secretário de Estado do Vaticano sobre este tempo e assim nós recebemos, se ressalta na mensagem, se referindo à presença do Papa João Paulo II. Em sua homilia afirmava o Papa: “a Eucaristia é a resposta de Deus a esta sede dos homens que caminham neste mundo em direção a Pátria celestialâ€. E assim de sua parte, na mesma mensagem, o Papa Francisco recorda o estreito vínculo da Eucaristia com a caridade. Na Eucaristia contemplamos e adoramos o Deus de Amor. É o Senhor que não divide ninguém, mas divide-Se a si mesmo, é o Senhor que não exige sacrifícios, mas se sacrifica-Se a si mesmo, é o Senhor que não pede nada, mas se dá tudo. Assim caros ouvintes todos, aí está a riqueza de dons, de bênçãos, de memórias, agora reavivadas, que nos fortalecem neste caminhar da Igreja de hoje, uma Igreja em saída, despojada, servidora, missionária, fortalecida pela graça e o dom permanente inefável da Sagrada Eucaristia. Deus seja louvado por tudo.
A recordação dos mártires do Rio Grande do Norte
O Pároco de N. S. da Candelaria e Vigário Judicial da Arquidiocese de Natal, padre Julio Cesar Souza Cavalcanti, - que na época da visita de São João Paulo II cursava o primeiro ano do curso de Filosofia - destacou por sua vez os momentos marcantes da visita do Pontífice polonês a Natal:
Queridos ouvintes e leitores da Rádio Vaticana e do Pope, eu sou Padre Júlio César, estou falando aqui diretamente de Natal, capital do Rio Grande do Norte, no nordeste do Brasil. A nossa Arquidiocese hoje está em festa, nós estamos celebrando 30 anos da visita de São João Paulo II a esta cidade, uma pequenina cidade encravada no nordeste brasileiro, que jamais imaginou na sua história um dia receber a visita de um Papa. Mas os planos de Deus são sempre de buscar os mais simples, e aquele homem, pastor do rebanho na terra, veio também conhecer as ovelhas aqui de Natal. 30 anos, um dia que ficou marcado na história do povo brasileiro, especialmente do povo potiguar.
O Papa chegou para nós no dia de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. Era 12 de outubro de 1991, finalzinho da tarde. O avião do Papa pousou no aeroporto aqui de Natal, e com aquele gesto simbólico que lhe era tão peculiar, o Papa beijou o chão do solo brasileiro, aqui em Natal. Ele vinha como grande Peregrino da Eucaristia, veio encerrar o XII Congresso Eucarístico Nacional. Durante uma semana, de 6 a 13 de outubro, o Brasil transformou Natal no altar da Eucaristia. E foi aqui que o Papa começou a sua peregrinação.
O Peregrino da Eucaristia nos recordou os nossos Mártires, que ainda não tinham sido nem beatificados. O Papa nos falou que foi exatamente neste lugar chamado Natal, que um leigo, um jovem chamado Mateus Moreira, proclamou na hora de sua morte: “Louvado seja o Santíssimo Sacramentoâ€. O Papa João Paulo II foi quem beatificou esses mártires. E nós costumamos dizer aqui, que a beatificação começou naquele dia, no dia que o Papa nos falou sobre eles.
O Papa João Paulo II teve uma programação muito intensa aqui em Natal. Neste mesmo dia, logo após desembarcar no dia 12 de outubro, ele se dirigiu até o lugar chamado “paódromoâ€, um espaço construído especialmente para aquele momento, e ali ele rezou o Angelus com o povo, nos convidou a venerar imagem da Bem-aventurada Virgem Senhora de Aparecida, nos deu a certeza de que estando sob a proteção da Mãe, estaremos sempre bem.
O Papa João Paulo, naquela noite, se hospedou na casa que era o Centro de Treinamento da Arquidiocese, demostrando assim a sua simplicidade. Foi para um lugar simples, um quarto simples, sem nenhum luxo, aonde ele ficou aquela noite contemplando a natureza, a beleza do que Deus criou na praia de Ponta Negra. Foi ali que o Papa se hospedou, um espaço onde tantas outras pessoas poderiam estar, porque ali era sempre o lugar do treinamento, da preparação, das assembleias pastorais de nossa arquidiocese. Até o pessoal que organizou o Congresso, tinha medo de que aquele não fosse o local adequado para receber o Papa. Mas a equipe que veio de Roma para preparar disse, “é aqui mesmo. Esse é o lugar mais adequado onde ele vai se sentir melhorâ€. No dia seguinte o Papa se deslocou pelas ruas da cidade de Ponta Negra até aqui no bairro da Candelária, para celebrar a Santa Missa, e é muito marcante, era uma coisa muito bonita o Papa passando pelas ruas e o povo nas passarelas, nas praças, na própria Br-101, acenando, gritando, cantando “A Benção João de Deus, nosso povo, te abraça.â€
Foi momento muito rico, muito bonito, muito feliz, muitas pessoas ainda se lembram disso hoje e se emocionam, se emocionam por saber que viram um santo, porque na verdade nós recebemos um Papa, mas Deus nos deu um santo, um santo no meio de nós, São João Paulo II.
Encerrou o Congresso Eucarístico nos recordando a importância de colocarmos sempre Jesus à frente de tudo, de ser esse Cristo que nos conduz, essa Eucaristia que nos fortalece. Naquele dia 13 de outubro de 91, o Papa se reuniu com os bispos e falou para eles - os bispos do Brasil todo estavam aqui por causa do Congresso Eucarístico - e falou para eles da importância de serem pastores que se preocupam em oferecer o melhor ao seu rebanho. Depois se reuniu com os padres na Igreja Catedral, e naquele momento nos invocou a presença, ou a figura de tantos padres do nosso país, que deram a sua vida, que se ofereceram. De maneira especial falou do padre João Maria, o primeiro pároco da cidade do Natal, um homem simples, que fazia da sua vida uma doação aos irmãos, que neste tempo de pandemia tem sido muito invocado por nós, porque o padre João Maria viveu o período de um surto de varíola aqui em Natal, e foi cuidar dos enfermos, pegou também a varíola e morreu, mas não deixou de cuidar do seu rebanho com medo de adoecer. E o Papa falou sobre isso para nós padres, temos recordado muito isso nesse tempo de pandemia, a palavra de João Paulo II sobre isso.
Foi também o Papa nesse dia que inaugurou, que deu a benção e consagrou a Capela do Santíssimo Sacramento na Catedral Metropolitana. A Catedral tinha sido inaugurada três anos antes pelo núncio apostólico Dom Carlo Furno, que depois se tornou cardeal, e naquele dia foi inaugurada a Capela do Santíssimo Sacramento. O próprio Papa João Paulo II desceu as escadas da Catedral para a Cripta e lá fez a benção.
Uma coisa muito importante a destacar é como Papa se colocou apenas como peregrino. Em momento algum ele se colocou como aquele que veio para dizer coisas que nós pudéssemos nos assustar. Não, ele veio para caminhar com o povo, ele estava no meio do povo, ele rezava com o povo, ele falou da Eucaristia como a Palavra que se fez carne, ele falou para nós dessa evangelização, dessa nova evangelização que ele tanta convidou a todos para fazermos.
Milhares de pessoas estavam naquele dia no “papódramo†para ouvir o Papa, e o Papa teve para nós também um grande momento de nos fazer descobrir, que sendo Igreja de Cristo, nós somos chamados a seguir o exemplo de nossos mártires. Não podemos nos esquecer jamais desses que deram a sua vida por causa da Eucaristia, da força do Evangelho, da vivência Igreja.
Agora, passados 30 anos, nós só temos a dizer “Muito obrigado Senhor, muito obrigado por ter enviado a nós São João Paulo II, muito obrigado por ter deixado que nós pudéssemos viver esse momentoâ€. Recordo que naquele período eu estava no primeiro ano do curso de Filosofia e para mim foi um momento muito marcante, viver essa experiência de encontrar o Sucessor de Pedro o Vigário de Cristo, o doce Cristo na terra.
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