Papa foi peregrino da paz na sua Visita Apostólica ao Iraque
Rui Saraiva – Portugal
Decorreu de 5 a 8 de março de 2021 a visita do Papa Francisco ao Iraque. Foi a 33ª Viagem Apostólica do pontificado de Francisco e revestiu-se de uma enorme importância histórica e missionária. O Papa queria estar próximo de quem tanto tem sofrido e os cristãos do Iraque ansiavam pela sua presença.
Não obstante as dificuldades da pandemia e o perigo do terrorismo, Francisco foi o primeiro pontífice a visitar o Iraque. Esteve na terra natal de Abraão onde o cristianismo está presente desde o século I.
Em forma de reflexão sobre esta viagem apostólica, decorreu no passado mês de maio uma webinar sobre o significado dessa visita e os planos de colaboração entre cristãos e muçulmanos.
Numa organização do Alto Comité para a Fraternidade Humana, participaram neste evento o cardeal Raphael Louis Sako, Patriarca Caldeu de Bagdad e o cardeal Miguel Angel Ayuso Guixot, presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso. O tema foi "Um Momento de Fraternidade Humana: O impacto da histórica visita do Papa Francisco ao Iraque". Os participantes foram unânimes em destacar a importância da visita ao Iraque do Papa Francisco para todo o Médio Oriente.
Volvidos 3 meses recordamos aqui alguns destaques da histórica Visita Apostólica do Papa Francisco. Na memória do sofrimento da guerra e da violência dos atentados, esta foi uma viagem no caminho da paz, do diálogo e da reconciliação.
Extremismo e violência são traições
O encontro inter-religioso na planície de Ur, na terra de Abraão, marcou profundamente a Visita de Francisco no dia 6 de março. Na pátria do Patriarca que une o destino de judeus, cristãos e muçulmanos foi intensa a oração em palavras pronunciadas junto às ruínas consideradas como a casa de Abraão. Em árabe foram evocados para o futuro os valores do perdão, da reconciliação e da paz por uma “sociedade mais justa e fraterna”.
Francisco declarou que o extremismo e a violência são traições da religião: “Hostilidade, extremismo e violência não nascem dum ânimo religioso: são traições da religião. E nós, crentes, não podemos ficar calados, quando o terrorismo abusa da religião. Antes, cabe a nós dissipar com clareza os mal-entendidos. Não permitamos que a luz do Céu seja ocultada pelas nuvens do ódio!” – disse o Papa.
Maior é quem é pobre, manso e misericordioso
No final da tarde de sábado, 6 de março, o Papa celebrou Eucaristia na Catedral de S. José (Bagdad), uma igreja que foi alvo de um atentado terrorista perpetrado pela Al-Qaeda em 2010. Francisco foi o primeiro Papa a presidir em rito caldeu, um dos principais do oriente católico.
O Santo Padre rezou pelos mártires do último século e os que sofrem perseguições por causa da fé em Jesus. Na sua homilia, Francisco ressaltou a importância das bem-aventuranças, sublinhando que a lógica cristã é diferente das prioridades de sucesso, poder e dinheiro da sociedade:
“A inversão é total: os pobres, os que choram, os perseguidos são declarados bem-aventurados. Como é possível? Bem-aventurados, para o mundo, são os ricos, os poderosos, os famosos! Vale quem tem, quem pode, quem conta. Para Deus, não: não é maior quem tem, mas quem é pobre em espírito; não quem pode tudo sobre os outros, mas quem é manso com todos; não quem é aclamado pelas multidões, mas quem é misericordioso com o irmão” – afirmou.
Fraternidade é mais forte do que o fratricídio
No domingo, 7 de março, o Papa esteve em Mosul, o antigo bastião do autoproclamado Estado Islâmico no norte do Iraque. Presidiu a uma oração na praça das Igrejas. Neste local há quatro igrejas danificadas ou destruídas entre 2014 e 2017, pertencentes à comunidade siro-católico, arménio-ortodoxa, siro-ortodoxa e caldeia. Francisco rezou pelas vítimas da guerra e do terrorismo:
“Hoje afirmamos a nossa convicção de que a fraternidade é mais forte do que o fratricídio, que a esperança é mais forte do que a morte, que a paz é mais forte do que a guerra. Esta convicção fala com uma voz mais eloquente do que a do ódio e da violência e jamais poderá ser sufocada no sangue derramado por aqueles que pervertem o nome de Deus ao percorrer caminhos de destruição” – disse o Santo Padre.
Mais tarde, nesse mesmo domingo dia 7, o Papa visitou a cidade cristã de Qaraqosh, no norte do Iraque. Aí deixou uma mensagem de esperança às populações atingidas pela violência. Francisco a todos encorajou afirmando que aquele encontro do Papa com os cristãos na Catedral da Imaculada Conceição “demonstra que o terrorismo e a morte nunca têm a última palavra”. Esta Catedral tinha sido vandalizada e queimada pelo Estado Islâmico e foi agora restaurada em 2020.
Iraque fica no meu coração
Grande celebração eucarística no Estádio Franso Hariri, em Erbil, na tarde de domingo 7 de março. Presentes o arcebispo caldeu de Erbil, D. Bashar Warda, e o patriarca da Igreja Assíria do Oriente, o ‘catholicos” Mar Gewargis III.
O Papa Francisco recordou que nestes dias no Iraque ouviu “vozes de sofrimento e angústia”, mas também “vozes de esperança e consolação”. Declarou que o Iraque ficará sempre no seu coração:
“Aproxima-se o momento de voltar para Roma. Mas o Iraque ficará sempre comigo, no meu coração. Peço a todos vós, queridos irmãos e irmãs, que trabalheis juntos em unidade por um futuro de paz e prosperidade que não deixe ninguém para trás nem discrimine ninguém. Asseguro-vos as minhas orações por este amado país” – disse Francisco na Missa a que presidiu em Erbil, capital do Curdistão Iraquiano, no final da sua Visita Apostólica ao Iraque.
Era preciso fazer pontes de diálogo inter-religioso e enxugar as lágrimas de tantos cristãos que têm vivido o martírio da guerra e do terror. Francisco, peregrino da paz, nos dias 5 a 8 de março de 2021, foi ao encontro de um povo sofrido que desde a Guerra do Golfo em 2003 perdeu mais de um milhão de cristãos. “Sois todos irmãos”, foi o lema da Visita do Papa ao Iraque.
Laudetur Iesus Christus
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