O Papa aos birmaneses: o Senhor escuta o clamor do seu povo e enxuga suas l¨¢grimas
Raimundo de Lima ¨C Pope
¡°Hoje quero depor sobre o altar do Senhor os sofrimentos do vosso povo e rezar convosco para que Deus converta os corações de todos à paz. Que a oração de Jesus nos ajude a guardar a fé mesmo nos momentos difíceis, ser construtores de unidade, arriscar a vida pela verdade do Evangelho. E não percais a esperança! Jesus ainda hoje reza ao Pai e intercede por todos nós, para que nos guarde do maligno e nos livre do poder do mal.¡±
Foi o que disse o Papa na missa na manhã deste domingo ¨C VII Domingo da Páscoa ¨C, em muitos países também Ascensão do Senhor, celebrada com os fiéis birmaneses na Basílica de São Pedro, sinal de proximidade do Santo Padre para com o povo deste país do sudeste asiático, que passa por uma fase difícil de violências e opressões após o golpe militar de 1º de fevereiro passado.
Comentando o Evangelho pouco antes proclamado, Francisco ressaltou que ao aproximar-se o momento de carregar no seu coração e na sua carne todo o pecado do mundo, Jesus continua a amar-nos e reza por nós. ¡°A partir desta oração de Jesus aprendamos, também nós, a atravessar os momentos dramáticos e dolorosos da vida¡±, foi o convite do Santo Padre.
Em seguida, Francisco deteve-se de modo particular no verbo guardar usado por Jesus na sua oração ao Pai. ¡°Queridos irmãos e irmãs, tendo diante dos olhos Mianmar, o vosso amado país ferido pela violência, o conflito, a repressão, perguntemo-nos: Que somos chamados a guardar?¡±
Guardar a fé
Em primeiro lugar, disse o Papa, guardar a fé. ¡°Devemos guardar a fé para não sucumbir à tribulação nem cair na resignação de quem já não vê uma saída. Com efeito, antes das palavras, o Evangelho faz-nos contemplar uma atitude de Jesus: rezava¡±, prosseguiu Francisco.
¡°Guardar a fé é manter o olhar voltado para o céu, quando na terra se combate e derrama sangue inocente. É não ceder à lógica do ódio e da vingança, mas ficar com o olhar voltado para o Deus do amor que nos chama a ser irmãos entre nós.¡±
A este ponto de sua reflexão, o Pontífice destacou que a oração é a única arma que temos para guardar o amor e a esperança no meio de tantas armas que semeiam morte.
¡°Talvez nos venha vontade de protestar, gritar o nosso sofrimento também a Deus: não devemos ter medo de o fazer; também isso é oração. Em certos momentos, é uma oração que Deus atende mais depressa que outras, porque nasce dum coração ferido, e o Senhor sempre escuta o clamor do seu povo e enxuga as suas lágrimas¡±, frisou o Papa.
Guardar a unidade
Um segundo aspecto do guardar, disse, guardar a unidade. Jesus reza ao Pai para que guarde os seus na unidade. São muitos os pecados contra a unidade: ¡°as invejas, os ciúmes, a procura de interesses pessoais em vez do bem de todos, os juízos contra os outros. E estes pequenos conflitos que existem entre nós refletem-se depois nos grandes conflitos, como o que tem vivido nestes dias o vosso país¡±.
Quanta necessidade há de fraternidade, sobretudo hoje, frisou. ¡°Sei que algumas situações políticas e sociais são maiores do que vós, mas o empenho pela paz e a fraternidade nasce sempre de baixo: cada qual, na medida das suas possibilidades, deve fazer a própria parte.¡±
¡°Cada um há de empenhar-se, na medida das suas possibilidades, por ser um construtor de fraternidade, um semeador de fraternidade, há de trabalhar por reconstruir o que se rompeu em vez de alimentar a violência. Somos chamados a fazê-lo, também como Igreja: promovamos o diálogo, o respeito pelo outro, a custódia do irmão, a comunhão!¡±
Guardar a verdade
Por fim, enfatizou, guardar a verdade. Jesus pede ao Pai para consagrar na verdade os seus discípulos, que são enviados por todo o mundo a fim de continuar a sua missão. ¡°Guardar a verdade não significa defender ideias, tornar-se guardiões dum sistema de doutrinas e dogmas, mas permanecer ligados a Cristo e consagrados ao seu Evangelho.¡±
Francisco lembrou que Jesus reza para que os discípulos, vivendo no mundo, não sigam os critérios deste mundo. Que não se deixem fascinar pelos ídolos, mas guardem a amizade com Ele; que não dobrem o Evangelho às lógicas humanas e mundanas, mas guardem íntegra a sua mensagem. Guardar a verdade significa ser profeta em todas as situações da vida, isto é, consagrar-se ao Evangelho e tornar-se sua testemunha mesmo quando o preço a pagar seja o de ir contra corrente.
¡°Ser fiéis ao Evangelho e artesãos de paz onde há guerra, violência, ódio significa comprometer-se, mesmo através das opções sociais e políticas, arriscando a vida. Só assim podem mudar as coisas.¡±
Antes de concluir, Francisco fez uma premente exortação: ¡°O Senhor não precisa de gente tíbia: quer-nos consagrados na verdade e na beleza do Evangelho, para podermos testemunhar a alegria do Reino de Deus mesmo na noite escura da tribulação e quando o mal parece mais forte.¡±
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