Papa: testemunho de juiz italiano, vítima da máfia, nos faça sentir irmãos
Andressa Collet - Pope
O Papa Francisco escreveu o prefácio do livro intitulado “Rosario Angelo Livatino. Do ‘martírio seco’ ao martírio de sangue” (título original: Rosario Angelo Livatino. Dal "martirio a secco" al martirio di sangue), organizado por Vincenzo Bertolone, da Editora Morcelliana. A obra já está disponível em língua original italiana nas principais livrarias do país.
Na apresentação do livro, o Pontífice lembra logo no início que o juiz Livatino, natural da cidade de Canicattì, província de Agrigento, na Sícilia, foi morto “tragicamente” por sua “coerência cristã e profissional” pelos “homens das máfias que dominavam o território siciliano nos anos 80”, citando os grupos “Stidde e Cosa Nostra”. Livatino era “um justo que sabia que não merecia aquela morte injusta” comandada por mafiosos, “revelando a negação intrínseca do Evangelho em todas as suas formas, apesar da ostentação secular de santinhos, de estátuas sagradas forçadas a reverências desrespeitosas, de religiosidade ostentada tanto quanto negada”.
Por essa razão e pensando à figura do magistrado siciliano, o Papa volta a reiterar no prefácio o que já tinha expressado na Sala Clementina, no Vaticano, em 29 de novembro de 2019: "Livatino é um exemplo não só para os magistrados, mas para todos aqueles que trabalham no campo do Direito: pela coerência entre a sua fé e o seu compromisso de trabalho, e pela atualidade das suas reflexões”.
Magistrado é referência luminosa para todos
Francisco, então, elenca algumas características espirituais de Rosario Livatino: a “fé que se torna a prática de justiça e que, portanto, faz o bem ao próximo”. O magistrado, lembra ainda o Papa, desde que se formou em Direito, pensava na melhor maneira de desempenhar o papel de juiz, como também sofria com os julgamentos porque, “ao mesmo tempo que tinha que julgar de acordo com a lei, como cristão, se colocava o problema do perdão”. Assim, o Pontífice afirma no prefácio:
Apelo de João Paulo II à concórdia
Francisco ainda lembra no prefácio a visita de João Paulo II a Agrigento e outros lugares da Sicília em 1993, quando pediu “concórdia” àquela terra: “concórdia sem mortes, sem assassinatos, sem medos, sem ameaças, sem vítimas! Que haja concórdia! Esta concórdia, esta paz à qual todos os povos, todos os seres humanos e todas as famílias aspiram!”. Um direito para se viver em paz perturbado por “culpados”, ainda dizia o Papa polonês, “que carregam em suas consciências tantas vítimas humanas” e que “devem entender que pessoas inocentes não devem ser mortas! Deus disse uma vez: ‘Não matarás’: nenhum homem, nenhum aglomerado humano, nenhuma máfia, pode mudar e pisotear esse direito santíssimo de Deus".
A beatificação de Rosario Livatino
O Papa Francisco finaliza o prefácio esperando que “o bom cheiro de Cristo que se espalha do corpo martirizado do jovem juiz se torne, então, uma semente de renascimento” para todos nós, especialmente “para aqueles que ainda vivem situações de violência, guerras, atentados, perseguições por razões étnicas ou religiosas, e vários abusos contra a dignidade humana”. A Rosario Angelo Livatino, que vai ser proclamado Beato em cerimônia prevista para 9 de maio na província de Agrigento, o Pontífice agradece pelo “exemplo que nos deixa, por ter lutado todos os dias a boa batalha da fé com humildade, mansidão e misericórdia. Sempre e somente em nome de Cristo, sem nunca abandonar a fé e a justiça, nem mesmo na iminência do risco de morte. É essa a semente plantada, é esse o fruto que virá”.
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