O lugar e postura da presidência na liturgia
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
No nosso Espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a falar de liturgia, trazendo no programa de hoje o tema “O lugar e postura da presidência na liturgia”.
“A liturgia é viva (...). Sem a presença real do mistério de Cristo, não há qualquer vitalidade litúrgica (...). Sem o coração pulsante de Cristo não existe qualquer ação litúrgica”, disse o Papa Francisco no aos participantes da 68ª Semana Litúrgica Nacional, ocasião em que reiterou, “com certeza e com autoridade magistral que a reforma litúrgica é irreversível”.
A liturgia, ademais, "é vida para todo o povo da Igreja". E “a Igreja está deveras viva se, formando um só ser vivente com Cristo, é portadora de vida, é materna, é missionária, sai ao encontro do próximo, solicita a servir sem perseguir poderes mundanos que a tornam estéril”.
Nas orientações e normas litúrgicas, está prevista a postura e a atuação da presidência na celebração, como nos explica o padre Gerson Schmidt:
“Podemos cair em dois extremos na questão da reforma litúrgica: um demasiado legalismo, que é o apego às normas, um rigorismo fechado não dando lugar a uma criatividade sadia prevista pelas normas litúrgicas; ou então no liberacionismo, que desconhece ou passa por cima das normas litúrgicas, desrespeita o essencial da celebração, confunde criatividade com novidade, invencionices e caprichos e desventuras pessoais.
Na renovação litúrgica, na boa intenção de tornar a missa mais participativa e envolvente, muitas vezes exageramos na dose da criatividade e tornamos a liturgia um show à parte, e, ao invés de celebrar, empanturramos a liturgia de aspectos atrativos demasiados. Outras vezes, quem preside se torna um “showmen”, exaltando o glamour e um exibicionismo ridículo e desconexo do verdadeiro sentido da liturgia. Quantas vezes vimos, sobretudo nas redes sociais, o sacerdote ficar dançando de qualquer jeito no altar, desfocando o mistério eucarístico para fazer uma apresentação e show à parte. A criatividade tem hora e lugar. Pensamos que trazer o Ostensório, templo a dentro, sustentado por um drone, como aconteceu recentemente no Brasil, é no mínimo falta de bom senso e uma grave falta de postura litúrgica.
Não condenamos aqui os padres cantores. Mas se o sacerdote, na celebração, é mais artista do que celebrante, algo está errado e descompassado. E isso serve também para o grupo de cantores e animadores. Precisamos aqui rever o verdadeiro lugar da presidência e de cada ministério, quais as possibilidades e quais os limites para que atua de maneira a não distorcer sua função litúrgica.
Na expressão de São João Crisóstomo, somos um corpo comunitário. Um corpo é coordenado por uma cabeça. A Igreja sabe que sua cabeça é Jesus Cristo. Ele é o único dirigente, e o Espírito Santo é o único animador, a alma da comunidade. Mas precisamos ter entre nós um sinal visível, um sacramento de Cristo-cabeça. Na Missa é sempre o bispo ou o padre.
Nas celebrações ou culto dominical é alguém da própria comunidade, devidamente preparado para desempenhar esta função. O presidente da celebração não se coloca acima da comunidade, nem faz tudo sozinho. Preocupa-se em fazer com que toda a comunidade se torne um povo celebrante, ativo e participante, um povo sacerdotal.
Embora seja o celebrante principal, não celebra sozinho, não celebra para o povo ou em favor do povo. Quem celebra é todo o povo. O presidente deve, pois, celebrar com o povo, sabendo-se parte dele. Deve ouvir a palavra, cantar, rezar, comprometer-se com Jesus Cristo, junto com todo o povo e ajudá-lo a fazer o mesmo.
Nas orientações e normas litúrgicas está prevista a postura e a atuação da presidência na celebração. Prevê-se até mesmo o lugar da presidência, como aponta a Instrução INTER OECUMENICI: “Em relação ao plano da igreja, a cadeira para o celebrante e os ministros deve ocupar um lugar que seja claramente visível a todos os fiéis e que dê a entender que o celebrante preside a inteira comunidade. A cadeira deve ficar atrás do altar e qualquer semelhança a um trono, prerrogativa de um bispo, deve ser evitada[1]. Muitas coisas práticas poderíamos falar aqui sobre a presidência ou outras funções litúrgicas. Não é o lugar, nem o tempo nos permite para esses pormenores.
Cabe aqui lembrar os princípios contidos na SC, como afirma no número 28: “Nas celebrações litúrgicas, seja quem for, ministro ou fiel, exercendo o seu ofício, faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa ou pelas normas litúrgicas lhe compete” (SC, 28)”.
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[1] Instrução INTER OECUMENICI, CONSILIUM AD EXSEQUANDAM CONSTITUTIONEM DE SACRA LITURGIA para a reta aplicação da Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II, 26/09/1964, n.92.
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