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Papa Francisco no voo de regresso do Marrocos Papa Francisco no voo de regresso do Marrocos 

O livro de Bergoglio: “Cartas da tribulação”

Em 29 de janeiro de 2019, foi publicado na Itália o livro “Cartas da tribulação” de Jorge Mario Bergoglio (ed. Ancora), com o prefácio do Papa Francisco e a introdução do Pe. Antonio Spadaro, SJ diretor da revista “La Civiltà Cattolica”. O livro repropõe um texto inédito de 1987 de Jorge Mario Bergoglio sobre a “doutrina da tribulação” publicado na revista dos Jesuítas

Cidade do Vaticano

Durante o encontro com os jornalistas no voo de regresso do Marrocos (31/03), ao responder a pergunta de um jornalista Papa Francisco citou o livro “Cartas da tribulação” de Jorge Mario Bergoglio. O livro, lançado em janeiro de 2019, tem o prefácio do Papa Francisco e a introdução do Pe. Antonio Spadaro, SJ diretor da revista “La Civiltà Cattolica”.

Jornalista Cristiana Caricato da Tv2000: O senhor tem medo do risco que as ditaduras podem gerar. Ainda hoje um ministro italiano, em referência à Conferência de Verona, disse que mais do que a família, é preciso ter medo do Islã. Estamos em risco de ditadura? E depois uma curiosidade: o senhor com frequência denuncia a ação do diabo, o fez no recente encontro sobre a proteção dos menores. Que podemos nós fazer para combatê-lo, especialmente no que se refere aos escândalos da pedofilia?

Papa Francisco: “Um jornal, depois do meu discurso no final do encontro sobre a proteção dos menores, disse: ‘O Papa foi inteligente, primeiro disse que a pedofilia é um problema mundial, depois disse algo sobre a Igreja, no final lavou as mãos e culpou o diabo. Um pouco simplista, não é? Um filósofo francês, nos anos 70, fez uma distinção que me deu muita luz. Ele disse: para entender uma situação é preciso dar todas as explicações e depois procurar os significados. O que significa socialmente? O que significa pessoalmente ou religiosamente? Eu tento dar todas e também as medidas das explicações. Mas há um ponto que não se pode compreender sem o mistério do mal. Pense na pornografia infantil virtual.

Houve dois encontros, pesados, em Roma e Abu Dhabi. Pergunto-me por que se tornou algo do cotidiano? Porque - estou falando de estatísticas sérias - se você quer ver abuso sexual de crianças ao vivo, pode se conectar à pornografia infantil virtual, eles mostram. Eu não minto. Eu me pergunto, os responsáveis não podem fazer nada? Nós na Igreja faremos de tudo para acabar com esta chaga, faremos de tudo. Naquele discurso, dei medidas concretas. Já existiam, antes do encontro, quando os presidentes da conferência me deram a lista que dei a todos. As pessoas responsáveis por essas sujeiras, são inocentes? Aqueles que ganham dinheiro com isto? Em Buenos Aires, com duas autoridades da cidade, fizemos uma portaria, uma disposição não vinculativa para hotéis de luxo, que dizia "coloque na recepção deste hotel, não se permitem relações com menores". Ninguém quis colocá-la. Não, mas você sabe, não se pode, parece que estamos sujos, você sabe que nós não fazemos isso, mas sem o anúncio. Um governo não consegue identificar onde fazem estes filmes com as crianças? Todos filmes ao vivo. Para dizer que o flagelo mundial é grande, mas também que se não pode entendê-lo sem o espírito do mal, é um problema real.

Para resolver isto, há duas publicações que recomendo: um artigo de Gianni Valente no Vaticano Insider onde ele fala dos donatistas. O perigo que a Igreja hoje corre de se tornar donatista ao fazer prescrições humanas, esquecendo as outras dimensões. Oração, a penitência, que não estamos habituados a fazer. Ambos! Porque para vencer o espírito do mal não é 'lavar-se as mãos', dizer 'o diabo faz isso', não. Também nós temos de lutar com o diabo, com as coisas humanas.

A outra publicação foi feita pela “Civiltà Cattolica”. Eu tinha escrito um livro, em 1987, as Cartas da Tribulação, eram as cartas do Padre Geral jesuíta quando a companhia estava prestes a ser dissolvida. Fiz um prólogo, estudaram essas cartas, e estudaram as cartas que fiz ao episcopado chileno e ao povo chileno. Como agir com isso, as duas partes, a parte científica contra a parte espiritual. O mesmo foi feito com os bispos dos Estados Unidos, as propostas eram demasiadas metodológicas, sem vontade, a dimensão espiritual foi negligenciada. Gostaria de dizer o seguinte: a Igreja não é congregacionalista, é católica, onde o bispo deve pegar pela mão e o Papa também deve pegar pela mão como pastor. Mas como? Com medidas disciplinares e também com a penitência, com a oração, com a acusação de si mesmo. Eu ficaria grato se vocês estudassem as duas coisas: a parte humana e a espiritual.

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01 abril 2019, 11:30