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Rei Hassan II dá as boas-vindas ao Papa João Paulo II no Marrocos em 1985 Rei Hassan II dá as boas-vindas ao Papa João Paulo II no Marrocos em 1985 

No Marrocos, João Paulo II falou a 80.000 jovens muçulmanos

De 30 a 31 de março, o Papa Francisco estará no Marrocos. Somente São João Paulo visitou o país precedentemente, em 19 de agosto de 1985, quando em Casablanca participou de um encontro sem precedentes com milhares de jovens muçulmanos. Oferecemos um resumo das palavras pronunciadas pelo Papa Wojtyla naquela ocasião.

Adriana Masotti - Cidade do Vaticano

João Paulo II visitou o Marrocos em 1985. Francisco será, portanto, o segundo Pontífice a visitar o país, depois de 34 anos: visitará a cidade de Rabat. A de João Paulo II, no Marrocos, foi a última etapa de uma viagem apostólica que incluiu vários países africanos: Togo, Costa do Marfim, Camarões, República Centro-Africana, Zaire, Quênia. Em Casablanca, no dia 19 de agosto, o Papa Wojtyla falou aos jovens muçulmanos, dirigindo um caloroso convite para a construção de um mundo mais fraterno, em diálogo com seus coetâneos cristãos. Suas palavras são de extrema atualidade.

Um encontro sem precedentes entre fiéis

 

"É a primeira vez que me encontro com jovens muçulmanos", disse o Papa Wojtyla ao iniciar seu discurso. E imediatamente reconheceu:

“Cristãos e muçulmanos, temos muitas coisas em comum, como crentes e como homens. Vivemos no mesmo mundo, marcado por numerosos sinais de esperança, mas também por múltiplos sinais de angústia. (...) Cremos no mesmo Deus, o Deus único, o Deus vivo, o Deus que cria os mundos e leva as suas criaturas à perfeição”.

João Paulo II, testemunha da fé em Deus

 

João Paulo II se oferece como testemunha da fé cristã, representante da Igreja Católica, sucessor de Pedro, bispo de Roma, chamado a ser "garante da unidade de todos os membros da Igreja". Como crente, com simplicidade, queria compartilhar "aquilo em que acredito, aquilo que desejo para a felicidade dos homens meus irmãos", isto é, a fé em Deus. Um Deus que "orienta nosso destino", nos torna "capazes de amar" e que pede aos homens que escutem sua voz, que façam a sua vontade "em uma adesão livre da inteligência e coração. É por isso que, diante dele, somos responsáveis ​​". E continuou:

Em um mundo que deseja a unidade e a paz e que conhece todavia milhares de tensões e conflitos, os crentes não deveriam favorecer a amizade e a união entre os homens e os povos que formam uma única comunidade na Terra? Sabemos que eles têm a mesma origem e o mesmo fim último: o Deus que os criou e que os  espera, porque os unirá”.

Um diálogo mais do que nunca necessário

 

O Papa Wojtyla comunicava então aos jovens o compromisso da Igreja Católica, a partir do Vaticano II, "a buscar a colaboração entre os crentes", expressando "uma atenção particular pelos crentes muçulmanos, dada sua fé no único Deus, o seu sentido de oração e sua estima pela vida moral". E ele concluía:

“O diálogo entre cristãos e muçulmanos hoje é mais necessário do que nunca. Ela deriva de nossa fidelidade a Deus e supõe que sabemos reconhecer Deus com fé e testemunhá-lo com palavras e ações em um mundo que é cada vez mais secularizado e, às vezes, até ateu”.

O devido respeito por todas as tradições religiosas

 

O apelo dirigido aos jovens é o de construir um futuro melhor, empenhando-se "em edificar este novo mundo de acordo com o plano de Deus". E ainda de testemunhar ao mundo que "Deus é a fonte de toda a alegria". E este testemunho – enfatizava - "se faz no respeito a outras tradições religiosas, porque cada homem espera ser respeitado pelo que ele é, de fato, e por aquilo que ele conscientemente acredita". Há necessidade da livre adesão da consciência em relação a Deus e é "este é o verdadeiro significado da liberdade religiosa, que respeita quer Deus como o homem". Se Deus é Pai, devemos nos tratar como irmãos, enfatizou ainda:

Por isto, esta obediência a Deus e este amor pelo homem deve nos levar a respeitar os direitos do homem, esses direitos que são a expressão da vontade de Deus e a necessidade da natureza humana como Deus a criou”.

É necessário – recordava - a reciprocidade em todos os âmbitos, sobretudo no que diz respeito às liberdades fundamentais e, em particular, à liberdade religiosa.

Ninguém deve desprezar seu irmão, mesmo que ele seja diferente

 

Deus não quer que o homem permaneça passivo, afirmava João Paulo II, Ele confiou a terra para fazê-la frutificar e os jovens que, naturalmente, olham para o futuro e "aspiram a um mundo mais justo e mais humano", são os "responsáveis ​​pelo mundo" de amanhã”. E a esses jovens ele recomendava trabalhar junto com os adultos, a serviço dos outros:

“Neste trabalho global, a pessoa humana, homem ou mulher, nunca deve ser sacrificada. Cada pessoa é única aos olhos de Deus, é insubstituível neste trabalho de desenvolvimento. Cada um deve ser reconhecido pelo que é e depois respeitado como tal. Ninguém deveria usar o seu gosto; ninguém deve explorar seu igual; ninguém deveria desprezar seu irmão”.

Com base nisso poderá "nascer um mundo mais humano, mais justo e mais fraterno", no qual cada um poderá "encontrar seu lugar na dignidade e na liberdade". O mundo hoje conhece conflitos e injustiças – observava - e isso porque "os homens não aceitam suas diferenças: eles não se conhecem o suficiente" e rejeitam o que é diferente.

A tradição de abertura do Marrocos

 

O Papa Wojtyla reconhece diante dos  jovens muçulmanos que o escutam, a tradição de abertura e de tolerância do Marrocos, desde sempre um local de estudo e de encontro de civilizações. Vocês jovens marroquino – disse - estão preparados para dialogar com todos os jovens do mundo para construir a paz, a justiça, a distribuição equitativa da riqueza, mas também para o crescimento da vida espiritual e interior das pessoas.

“O homem é um ser espiritual. Nós, crentes, sabemos que não vivemos em um mundo fechado. Nós acreditamos em Deus, somos adoradores de Deus, somos buscadores de Deus. A Igreja Católica olha com respeito e reconhece a qualidade do caminho religioso de vocês, a riqueza de sua tradição espiritual. Também nós cristãos, temos orgulho de nossa tradição religiosa”.

Valores comuns, mas também diferenças a serem aceitas com respeito

 

Tantos valores nos unem – prosseguiu - mas também devemos reconhecer e respeitar nossas diferenças, antes de tudo no que diz respeito à pessoa de Jesus:

Cristãos e muçulmanos, geralmente somos mal compreendidos e, às vezes, no passado, nos opusemos e até mesmo nos perdemos em controvérsias e  guerras. Creio que Deus nos convide hoje a mudar nossos velhos hábitos. Devemos nos respeitar uns aos outros e também nos estimular uns aos outros nas boas do bem no caminho de Deus”.

E neste compromisso, concluía João Paulo II, "estejam certos da estima e da colaboração de seus irmãos e irmãs católicos, que eu represento entre vocês esta noite".

 

 

 

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29 março 2019, 17:57