Papa Francisco e o caminho da verdadeira felicidade
Sergio Centofanti – Cidade do Vaticano
“A busca da felicidade – afirma Papa Francisco – é comum a todas as pessoas de todos os tempos e de todas as idades” porque o próprio Deus colocou “no coração de cada homem e de cada mulher um desejo irreprimível de felicidade” e “de plenitude”. Os nossos “corações estão inquietos buscando sem cessar um bem que possa saciar a sua sede de infinito” (), invisível nostalgia d’Aquele que nos criou e é Ele mesmo amor, alegria, paz, beleza, verdade. Reunimos em dez pontos algumas reflexões do Papa Francisco sobre o tema da felicidade.
1. O início da alegria é começar a dar atenção aos outros
O caminho da felicidade inicia contracorrente: é preciso sair do egoísmo e pensar nos outros. Ser tristes – diziam os Padres do deserto – é quase sempre pensar em si mesmos. Deste modo – observa Francisco – “quando a vida interior se fecha nos próprios interesses” e “não há mais espaço para os outros”, não se deleita mais “da doce alegria”. De fato “não se pode ser feliz sozinhos”. O Papa convida a redescobrir a generosidade, porque “Deus ama quem doa com alegria” (2Cor 9,7). É preciso vencer a tentação de se fechar em si mesmo, de se isolar, acreditando-se autossuficiente, porque todos precisamos de fraternidade. A vida adquire sentido “ao buscar o bem do próximo”, desejando a felicidade dos outros: “Se consigo ajudar uma só pessoa a viver melhor, isso já é suficiente para justificar o dom da minha vida” (Evangelii gaudium, 182).
2. Livrar-se da melancolia
Francisco gosta muito de citar uma passagem do Eclesiástico: “Filho, se tens posses, faze o bem a ti mesmo… Não te prives do bem de um dia” (Eclo 14, 11.14). “Deus deseja a felicidade dos seus filhos ainda aqui na terra, porque somos chamados à plenitude eterna, porque ele criou todas as coisas” para que possamos “aproveitá-las”. “O cristianismo – recorda o Papa - não consiste numa série de proibições que sufocam os nossos desejos de felicidade, mas num projeto de vida que pode fascinar os nossos corações!” (). Portanto o cristão expulsa a tentação maligna da melancolia e da tristeza. Deus “nos quer positivos”, simples para alegrarmo-nos com as pequenas coisas de todos os dias e não prisioneiros “de infinitas complicações” e pensamentos negativos. O Papa recorda um famoso ditado: a verdadeira santidade é alegria, porque “um santo triste é um triste santo”.
3. Não o poder, o dinheiro ou os prazeres efêmeros, mas o amor da alegria
“A felicidade não se compra no supermercado – sublinha Francisco – a felicidade está apenas no amar e no deixar-se amar” (Palavras à Peregrinação de Macerata a Loreto, 9 de junho de 2018). “Quando procuramos o sucesso, o prazer, a riqueza de modo egoísta e idolatrando-os, podemos experimentar também momentos de inebriamento, uma falsa sensação de satisfação; mas, no fim de contas, tornamo-nos escravos, nunca estamos satisfeitos, sentimo-nos impelidos a buscar sempre mais” (Mensagem JMJ 2014). “A alegria não é a emoção de um momento: é outra coisa! A verdadeira alegria não vem das coisas, do ter, não! Nasce do encontro, da relação com os demais, nasce do sentir-se aceito, compreendido, amado e do aceitar, do compreender e do amar: e isto não pelo interesse de um momento, mas porque o outro, a outra é uma pessoa. A alegria nasce da gratuidade de um encontro!” (Discurso aos seminaristas, 6 de julho de 2013). O que dá felicidade não são as coisas efêmeras, mas apenas o amor sacia a sede de infinito que há dentro de nós.
4. Ter senso de humor
O caminho da alegria – afirma Papa Francisco – é feito também de senso de humor: saber rir das coisas, dos outros e de si mesmo é profundamente humano, é um comportamento “próximo da graça. É aquele relativismo bom, o relativismo da alegria” que “nasce do Espírito Santo”. “Sem perder o realismo”, tornamo-nos capazes de iluminar os outros “com um espírito positivo e rico de esperança”. É de particular importância a autoironia para vencer a tentação do narcisismo: os narcisistas – disse o Papa – “olham-se no espelho, penteiam-se”. E dá este conselho: quando vocês se olharem no espelho “riam de vocês mesmos. Isso fará bem” (Discurso aos estudantes dos Colégios Eclesiásticos, 16 de março de 2018). Mais ou menos o que dizia Bento XVI citando Chesterton: “Sabem por que os anjos voam? Porque não dão peso a nada”. E Papa Ratzinger acrescentava: “Porque não se levam à sério” e “nós talvez poderíamos voar um pouco mais se não nos déssemos tanta importância”.
5. Saber agradecer
Alegria é também conseguir ver os dons que se recebe todos os dias. É o maravilhamento diante da beleza da vida e das coisas grandes e pequenas que preenchem as nossas jornadas. Papa Francisco indica o exemplo de São Francisco de Assis, que era “capaz de se comover de gratidão perante um pedaço de pão duro, ou de louvar, feliz, a Deus só pela brisa que acariciava o seu rosto” (Gaudete et exsultate, 127). “Às vezes a tristeza tem a ver com a ingratidão, com o estar tão fechados em nós mesmos que nos tornamos incapazes de reconhecer os dons de Deus” (Gaudete et exsultate, 126). Viver com alegria, ao invés, é a “capacidade de apreciar o essencial” com sobriedade e de partilhar, capacidade de renovar “todos os dias a admiração pela bondade das coisas, sem sucumbir à opacidade do consumo voraz” (Angelus, 29 de janeiro de 2017). Um coração que sabe ver o bem, sabe agradecer e louvar, é um coração que sabe exultar.
6. Saber perdoar e pedir perdão
Em um coração cheio de ódio e rancores não há lugar para a felicidade. Quem não perdoa faz mal principalmente a si mesmo. O ódio gera tristeza. Francisco fala da alegria de quem perdoa os outros e sabe pedir perdão. A raiz desta alegria está em compreender que será perdoado por Deus. O Papa cita o profeta Sofonias: “Alegra-te exulta porque o Senhor aboliu a sentença contra ti” (Cfr. Sof 3-14-15), ou seja “te perdoou, não és culpado, esqueceu” as suas culpas. Infelizmente – observa Francisco – as vezes “não somos conscientes do perdão” de Deus e isso pode-se ver nos rostos tristes. Recorda o que dizia um filósofo: “Os cristãos dizem que têm um Redentor; acreditarei no Redentor, quando eles tiverem a cara de remidos, alegres por terem sido redimidos” (Missa na capela da Casa Santa Marta, 21 de dezembro de 2017). Portanto eis o que faz o perdão: “Alarga o coração, gera compartilhamentos, doa serenidade e paz” (Angelus, 26 de dezembro de 2018).
7. A alegria do compromisso e do repouso
O Papa convida e provar a alegria de trabalhar com os outros e pelos outros para construir um mundo mais justo e fraterno. Significa viver as fadigas do dia a dia com o espírito das Bem-aventuranças: este é o “caminho da verdadeira felicidade” que Jesus indicou. Trata-se de “uma novidade revolucionária, de um modelo de felicidade oposto” ao “pensamento dominante” (Mensagem JMJ 2014). Bem-aventurados os “simples, os humildes que deixam espaço a Deus, que sabem chorar pelo próximo e pelos próprios erros, permanecem mansos, lutam pela justiça, são misericordiosos para com todos, preservam a pureza do coração, trabalham sempre pela paz e vivem na alegria, não odeiam e até quando sofrem respondem ao mal com o bem. (Angleus, 1º de novembro de 2017). As Bem-aventuranças “não requerem gestos sensacionais”, não são para super-homens, mas é um estilo de vida para os que precisam de Deus. São para pessoas simples que “respiram como todos o ar poluído do mal que há no mundo, mas ao longo do caminho nunca perdem de vista o caminho de Jesus”: estão sempre ao lado d’Ele na fadiga e sabem repousar com Ele para retomar o caminho com alegria.
8. Oração e fraternidade
O caminho para a alegria é dificultado pelas provas e pelos fracassos da vida que levam ao desencorajamento. O Papa oferece duas indicações para não perder a esperança e não desistir: perseverar na oração e nunca caminhar sozinhos. “Podemos estar certos que Deus responderá” à nossa oração, mesmo se às vezes é árida. “Talvez tenhamos que insistir durante a vida inteira, mas ele responderá” (Audiência Geral, 9 de janeiro de 2019). “A oração muda a realidade, não nos esqueçamos disso. Ou muda as coisas ou muda o nosso coração, mas sempre muda. Rezar é desde o início a vitória sobre a solidão e sobre o desespero”. Segunda indicação: Há sempre alguém na vida “que nos dá a mão para nos levantarmos” porque “o Senhor nos salva tornando-nos parte de um povo”. O Papa alerta sobre o perigo do individualismo: “Não permitam que o mundo faça crer a vocês que é melhor caminhar sozinho. Sozinho, nunca se consegue. Poderás, sim, conseguir um êxito na vida, mas sem amor, sem companheiros, sem pertença a um povo, sem aquela experiência tão bela que é arriscarmos juntos. Não se pode caminhar sozinho” (Encontro com os jovens em Vilnius, 22 de setembro de 2018).
9. Abandonar-se nas mãos de Deus
Na vida há o tempo da cruz, há os momentos tristes que nos sentimos abandonados por Deus e neste silêncio de Deus é preciso mais do que nunca se abandonar nas suas mãos. Então – observa Francisco – vamos ao “primeiro degrau da alegria” que é a paz, a profunda paz que vêm da entrega total a Deus. É uma “alegria sobrenatural” que nada pode destruir e “se adapta e se transforma, e permanece sempre com uma pequena luz que nasce da certeza” que “as graças do Senhor não acabaram, não esgotaram as suas misericórdias” porque “é grande a sua fidelidade” como diz Jesus: a vossa tristeza há-de converter-se em alegria” e “ninguém vos poderá tirar a vossa alegria”. “A Boa-Nova é a alegria de um Pai que não quer que se perca nenhum dos seus pequeninos” (Evangelii gaudium, 237).
10. Saber ser amados
A verdadeira alegria – afirma o Papa – nasce do encontro com Jesus, em acreditar que Ele nos amou chegando a dar a vida por nós. A alegria é saber que somos amados por Deus que é Pai. A verdadeira alegria não é fruto dos nossos esforços, mas do Espírito Santo que pede apenas para abrirmos nossos corações para enchê-los de felicidade. “Se deixarmos que o Senhor nos arranque da nossa concha e mude a nossa vida, então poderemos realizar o que pedia São Paulo: ‘Alegrai-vos sempre no Senhor! De novo o digo: alegrai-vos!’ (Gaudete et exsultate, 122)”. Portanto a alegria é ouvir de Deus: “Tu és importante para mim, amo-te e conto contigo”. Daqui nasce a alegria, no momento em que Jesus me olhou: “Sentir-se amados por Deus, sentir que para Ele não somos números, mas pessoas, e sentir que é Ele que nos chama” (Discurso aos seminaristas, 6 de julho de 2013). Os santos – observa Francisco – não são super-homens, mas são os que descobriram o segredo da felicidade autêntica, que mora no fundo da alma e tem como fonte o amor de Deus” (Missa em Malmö, 1º de novembro de 2016). “A felicidade não está em possuir algo ou se tornar alguém, não, a verdadeira felicidade é estar com o Senhor e viver por amor (Angelus, 1º de novembro de 2017), porque nascemos para nunca mais morrer, nascemos para gozar da felicidade de Deus! (Angelus, 1º de novembro de 2018).
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