Teóloga Houshmand: Documento, resultado de coragem e sabedoria
Cidade do Vaticano
Shahrzad Houshmand Zadeh teóloga muçulmana, professora na Faculdade de Estudos Orientais da Universidade La Sapienza de Roma e na Pontifícia Universidade Gregoriana, considera a assinatura da Declaração conjunta entre a Igreja Católica e a Universidade de Al Azhar na presença do Papa Francisco e do Grande Imame Al-Tayyib, uma importante etapa alcançada para o diálogo inter-religioso. Uma etapa muito almejada pelo Papa Francisco.
Houshmand: É uma etapa particular porque, como sabemos, foi a primeira vez que um Papa da Igreja Católica foi a uma terra da Arábia, no centro, e no coração do Islã. Neste sentido creio que tenha sido realmente uma viagem histórica, com êxito positivo porque quando os dois líderes das religiões – o grande xeque Ahmad Al-Tayyib, que é um grande representante do mundo islâmico, podemos dizer a figura mais importante, sobretudo para os sunitas, e o bispo de Roma, que representa uma parte da humanidade – se abraçam, e se olham e se chamam de irmãos, tornam-se mestres para todos os povos que poderão se olhar nos olhos, sabendo que podem se chamar irmãos. E nesta viagem aos Emirados Árabes, acredito que o aspecto mais importante da sua mensagem seja:
Também vemos na “Laudato si” como vê em cada criatura, não apenas na humana, um sinal de Deus, um rosto de Deus. E então, com mais certeza no rosto humano se deveria ver o sinal de Deus. E ele quis fazer exatamente isso:
O Papa usou palavras fortes: “Devemos desmilitarizar o coração do homem”, e referiu-se a conflitos como o do Iêmen, da Síria, do Iraque e da Líbia e tocando também um tema diplomaticamente delicado, pelo fato dos Emirados Árabes Unidos fazerem parte de uma coalizão que esta combatendo no Iêmen…
Houshmand: Ele não teve medo de dizer nada e colocar no lugar certo todos os nomes. De fato, tocou um assunto muito delicado porém, como é próprio dele mesmo: um revolucionário, que agita; vai em todos os lugares, não tem medo de nada e de ninguém: antes de uma sua viagem a um país africano tinha sido avisado que seria uma viagem muito perigosa. Ele não teve medo. Fez a viagem – e fez com que o imame local subisse no papamóvel para saudar a multidão – no momento crucial da criação do outro como o rosto do terror, do inimigo. E aqui também não teve medo da dar voz aos povos que estão sob as bombas e vivem entre ruínas da destruição. Pede a todos os homens, e ali também aos muçulmanos e a todos os outros homens que estão ouvindo, que a guerra é a palavra mais feia que possa existir. Assim como não teve medo, entrando na ONU, primeiro com seu comportamento paterno, citando todos os bens que as Nações Unidas tinham criado: os direitos da infância, o direito ao estudo, o direito à casa e ao trabalho…e depois no final do discurso disse:
Aqui também: o Papa vai e diz a sua palavra, aperta a mão da fraternidade, olha no rosto do outro cheio de amor: não finge, nunca. Porque para ele não existe inimigo. Se ele é seguidor de São Francisco de Assis, e também, de um Jesus que até mesmo – a teologia cristã explica – é o próprio Deus que se encarna na forma humana para amar a todos, para aquele Jesus, não existe inimigo ou inimiga: ele se oferece a todos. Então, seguindo seu próprio Jesus ele não tem medo de encarar ninguém, com amor mas também, onde deve corrigir, diz a sua palavra porque fazendo isso também somos irmãos, mas devemos nos recordar que as armas não podem ser a lógica que guia a humanidade. E vejamos, há muitos povos que sofrem gravemente e se não somos indiferentes, devemos ter o coração de paz e de compaixão para todos os seres humanos.
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