Papa a Eco di Bergamo: Jo?o XXIII n?o conhecia a palavra inimigo
Cidade do Vaticano
Um homem e um santo ¡°que não conhecia a palavra inimigo¡±, que ¡°procurava sempre o que une¡±, consciente de que ¡°a Igreja é chamada a servir o ser humano e não somente os católicos; a defender primeiramente e em todo lugar os direitos da pessoa humana e não somente os da Igreja católica¡±.
Assim, o Papa Francisco define São João XXIII na entrevista ao jornal ¡°Eco di Bergamo¡±, em vista do retorno provisório das relíquias de Angelo Giuseppe Roncalli a Sotto il Monte, sua terra natal, e à Diocese de Bergamo, a partir desta quinta-feira (24/05) até 10 de junho próximo.
Os motivos da peregrinação da urna
¡°Um presente e uma ocasião¡± para um novo caminho de fé, sublinha o Pontífice, e com uma alegria que Francisco quer partilhar especialmente com todos aqueles que ¡°nunca puderam vir a Roma para rezar diante do túmulo situado na Basílica de São Pedro¡±: idosos, pobres e doentes para que se sintam interpelados pelo Papa Roncalli que ¡°nos convida a olhar para o que realmente conta¡±: ¡°aquele Crucifixo que tinha colocado diante de sua cama, com o qual falava e escutava, para o qual olhava e se sentia olhado¡±, exatamente como, conta Francisco, ele também faz.
O encontro com Jesus Cristo
No fundo, ¡°o cristianismo não é um ideal a seguir, uma filosofia a qual aderir ou uma moral a ser explicada¡±, mas ¡°um encontro com Jesus Cristo que nos faz reconhecer na carne dos irmãos e irmãs a sua presença¡±. É ir ao ¡°coração¡± do Evangelho e sentir ¡°o cheiro limpo do Evangelho¡±, explica. Francisco exorta a ¡°partilhar o pão com quem tem fome, a cuidar dos doentes, dos idosos, daqueles que não podem nos dar nada em troca¡±.
A história de Angelo Giuseppe Roncalli é ¡°cheia desses gestos de proximidade¡± a quem sofria, quem era necessitado, seja católico, ortodoxo ou judeu.
A missão da Igreja
Por outro lado, acrescenta, ¡°a Igreja é missionária por natureza¡± e deve ¡°sair¡± para testemunhar o ¡°fascínio¡± do Evangelho ¡°se não quiser ficar doente de auto-referencialidade¡±, com uma missão que não é ¡°difusão de uma ideologia religiosa¡± nem ¡°a proposta de uma ética sublime¡±, propondo ¡°verdades frias¡± ou ¡°doutrinação com métodos discutíveis¡±.
¡°As periferias são cada vez menos um conceito geográfico e cada vez mais um conceito existencial¡±, observa o Papa. Diante da missão da Igreja ¡°está Jesus Cristo que continua evangelizando¡±, tornando-se ¡°novamente e sempre nosso contemporâneo¡±.
Por isso, ¡°todos somos convidados a sair, a alcançar as periferias do desconforto, do sofrimento, da ignorância e do pecado¡±, trabalhando ¡°com o testemunho¡±.
O Pontífice relembra um trabalho pastoral que, ¡°se for o caso¡±, abandone ¡°o critério pastoral cômodo do ¡®sempre foi feito assim¡¯, repensando juntos os objetivos, estruturas, estilo e métodos de evangelização, e coordenação entre institutos missionários¡±.
Acolhimento desinteressado aos migrantes
Numa época em que diante da emergência migrante, se constroem muros que ¡°fecham¡± os corações, Francisco sublinha que o acolhimento verdadeiro deve ser ¡°totalmente desinteressado¡± e que existe hoje ¡°muito trabalho a ser feito¡± para ¡°criar uma nova cultura, uma nova mentalidade, educar as novas gerações a pensar, a pensar-se como única família humana, uma comunidade sem confins¡±.
Não à lógica das corporações, mesmo na Igreja
Diante da ¡°barbarização da sociedade¡±, o chamado é para olhar às pessoas e à verdade, porque ¡°é sempre o homem com sua livre responsabilidade que pode fazer das palavras, da comunicação, o lugar da compreensão e do encontro ou mesmo da oposição e da guerra fratricida¡±. Mesmo na Igreja, ¡°observa o Papa, ¡°quando não se vive a lógica da comunhão mas das corporações, pode acontecer que se empreendam verdadeiras e próprias estratégias de guerra pelo poder, que às vezes se exprime em termos econômicos, outras em termos de cargos importantes¡±. Portanto ¡°são justamente as pessoas a serem o antídoto contra as falsidades, não as estratégias¡±.
Lógica do Evangelho guie os governantes
No cinquentenário da Encíclica de João XXIII Pacem in terris (11 de abril de 1963), o Pontífice recorda a ¡°proposta de paz como compromisso permanente¡±. ¡°É verdade ¨C acrescenta ¨C que atualmente há mais guerras do que na época da Encíclica, mesmo porque os meios de comunicação nos mostram as imagens ao vivo provenientes de tantos lugares do mundo; e é verdade que se combatem com as armas, mas também de modo menos visível, guiadas por mecanismos de prepotência, ainda assim as palavras de João XXIII continuam válidas¡±. Respondendo às perguntas do jornal, Francisco diz-se preocupado pelos ¡°desequilíbrios, que estão sempre ligados¡±, a uma, ¡°desconsiderada exploração dos homens e dos recursos da natureza¡±, porém ¨C esclarece ¨C ¡°a verdadeira tarefa da Igreja não é mudar os governos, mas fazer com que entre a lógica do Evangelho no pensamento e nos gestos dos governantes¡±. Porque a paz ¡°não deve ser ligada à ausência de guerra¡±, mas sim, ¡°ao desenvolvimento integral das pessoas e dos povos¡±. É preciso compreender que ¡°o compromisso pelos grupos sociais e pelos estados é viver relações de justiça e solidariedade que não devem ficar apenas como palavras¡±, mas a superação concreta ¡°por parte de toda forma de egoísmo, individualismo, interesses de grupo em qualquer nível¡±.
Sociedade e Igreja precisam dos jovens
Este fator implica em uma nova perspectiva sobre os jovens, aos quais o Papa quis dedicar o Sínodo de outubro deste ano: a sociedade precisa dos jovens, como a Igreja¡± repete Francisco. São eles, com suas próprias histórias, que ¡°a Igreja deseja aproximar¡±, para restituir, ¡°o entusiasmo pelo Evangelho¡±. O Pontífice se preocupa com o desemprego dos jovens e diz que ¡°é pecado social e a sociedade é responsável por isso¡±. ¡°Uma verdadeira cultura do trabalho ¨C afirma ¨C não quer dizer apenas produzir, mas estar relacionada a modelos de consumo sustentável¡±. Se ¡°o trabalho pelo consumo¡± for liquidado, liquida-se também todas as ¡°suas palavras irmãs: dignidade, respeito, honra, liberdade¡±.
Terrorismo não significa islamismo
Na perspectiva da cultura do encontro, Francisco expõe também o papel das religiões, reiterando principalmente que terrorismo não significa islamismo. O convite é para promover uma ¡°verdadeira educação dirigida a comportamentos de responsabilidade¡±, também em relação ao cuidado da Criação. Depois, refletindo sobre o futuro do cristianismo no Ocidente, o Pontífice observa que isso leva ¡°a ver maiores motivos de inquietação do que razões de esperança, mas também que é preciso entender que esta identificação absoluta do cristianismo com a cultura ocidental não tem mais sentido¡±. O cristianismo tem ¡°dentro de si a força para se regenerar na sua natureza evangélica¡±. ¡°Acredito ¨C refere ¨C que pensadores e teólogos não estão errados em afirmar que o cristianismo futuro ou será mais concretamente católico, universal, plenamente eclesial, respeitoso das culturas, a África, a Ásia, a América Latina¡ ou correrá o risco da irrelevância quanto à proposta do Evangelho e à salvação do mundo¡±. Portanto, o chamado conclusiva é à ¡°prioridade da caridade, compromisso pela justiça e pela paz¡±.
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