Papa e Suu Kyi: dois líderes, único ideal
Cidade do Vaticano
O discurso do Papa às autoridades na capital birmanesa marcou também o primeiro encontro entre Francisco e a Conselheira de Estado, Aung San Suu Kyi.
Antes da cerimônia pública, os dois se reuniram a portas fechadas no Palácio Presidencial. “The Lady”, como é conhecida, representa a peça fundamental deste momento político em Mianmar.
O seu ativismo vem de berço, pois Suu Kyi é filha do General Aung San, Secretário do Partido Comunista Birmanês assassinado por opositores políticos em 1947. Ele é considerado o principal artífice da independência do país dos colonizadores britânicos.
A filha seguiu os passos do pai e sua luta paciente e não-violenta pela democracia é comparada a de ícones como Nelson Mandela. Passou anos na condição de prisioneira política e hoje é Presidente da Liga Nacional pela Democracia (NLD) e ocupa o cargo de Conselheira de Estado.
A trajetória de Suu Kyi não a exime das críticas, sobretudo oriundas da comunidade internacional sobre a gestão do conflito na fronteira com Bangladesh. Mas o seu poder é limitado, pois ainda estão nas mãos dos militares a pasta da Defesa e a segurança das fronteiras. De fato, Mianmar ainda não goza de uma democracia plena.
Todavia, “the Lady” tem o apoio popular e é vista pela população como pessoa imprescindível neste processo de transição.
Discurso
Com esta autoridade, Suu Kyi se dirigiu ao Papa Francisco manifestando sua alegria e satisfação em recebê-lo no país. Num discurso sensível e incisivo, com referências ao Evangelho e ao magistério do Pontífice, a Conselheira recordou os anseios que moveram os pais fundadores da nação de conciliar liberdade com justiça e mencionou os desafios atuais, sendo a paz o mais urgente:
“Nosso esforço mais apreciado é levar adiante o processo de paz com base no Acordo de cessar-fogo nacional que foi iniciado pelo governo anterior. O caminho para a paz nem sempre é suave, mas é o único caminho que levará o nosso povo ao sonho de uma terra justa e próspera que será seu refúgio, seu orgulho e sua alegria.”
Suu Kyi citou então pela primeira vez nesta viagem de Francisco o conflito no Estado de Rakhine com a minoria muçulmana:
“Dos muitos desafios que o nosso governo está enfrentando, a situação em Rakhine atraiu mais fortemente a atenção do mundo. À medida que abordamos questões de longa data, sociais, econômicas e políticas, que corroem a confiança, a compreensão, a harmonia e a cooperação entre diferentes comunidades em Rakhine, o apoio de nosso povo e de bons amigos que só nos desejam sucesso em nossos esforços, tem sido inestimável.”
A Conselheira concluiu seu discurso mantendo a promessa de continuar a trabalhar com probidade e humildade pela paz: “Sua Santidade, os filhos de sua Igreja neste país também são filhos de Mianmar, amados e apreciados. O caminho a seguir é longo, mas nós caminhamos com confiança, confiando no poder da paz, do amor e da alegria”.
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