Papa em Mianmar: a esperan?a de um povo em conflito
Bianca Fraccalvieri - Yangun
¡°Se o Papa quer ver a periferia, ele veio ao lugar certo¡±: essas palavras de um missionário irlandês espelham bem a realidade de Mianmar.
Depois de quase 60 anos de regime militar, o país anseia por abertura e quer sair do anonimato. Outro sacerdote, chamado carinhosamente de ¡°jovem Francisco¡± devido aos seus 81 anos, coetâneo do Papa, afirma que se esta viagem apostólica servir somente de ¡°curiosidade¡± para que as pessoas procurem no mapa onde fica Mianmar, já vai ter valido a pena. Estes são os sentimentos: paz, liberdade, reconciliação.
A chegada do Papa está prevista para amanhã, segunda, às 13h30 locais. Mas as milhares de pessoas que acolherão Francisco em Yangun já iniciaram sua viagem há pelo menos dois dias. A expectativa é tanta, que alguns fiéis chegam a dizer que é como receber a visita do próprio Cristo - que vem para conhecer de perto a realidade em que vivem.
Esses testemunhos foram colhidos no Estado de Kachin, no norte do país, que faz fronteira com a China. Nessa região, de maioria cristã, ainda se vive um conflito civil. Na capital, Myitkyina, existem 32 campos que acolhem deslocados. Quatro deles são administrados pela Igreja Católica.
A situação é precária: casas de bambu, sem luz e água. Os banheiros são comunitários. O Programa Mundial de Alimentos distribui a comida, que cada família deve preparar com a lenha no chão. Não há um refeitório, assim como não há clínicas: os doentes têm que se deslocar até o hospital público.
Os campos foram montados a partir de 2011, quando a guerra se acirrou entre o grupo rebelde local e o exército federal. Em jogo, estão a soberania do povo kachin e as riquezas naturais. A falta de perspectiva provoca a emigração, principalmente dos jovens.
Quem conseguiu estudar, tenta alcançar metas como Austrália, Estados Unidos ou Europa. Quem não conseguiu, atravessa a fronteira com a China e a Tailândia, tornando-se presa fácil do tráfico humano, do trabalho escravo e da prostituição.
É por isso que os católicos apostam tanto nesta visita do Papa. Os fiéis realmente acreditam que Francisco provocará uma transformação. ¡°Sozinhos não somos capazes de resolver nossos problemas¡±, disse o Padre Giovanni La Sam, sempre do Estado de Kachin.
Esperança excessiva nessa viagem do Pontífice? Talvez, mas por enquanto a população não tem a quem recorrer.
Conheça a capital, Nay Pyi Taw, onde o Papa estará na terça-feira (28/11) para encontrar autoridades. A RV transmitirá ao vivo o evento a partir das 8h40, horário de Brasília.
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