Col?mbia, toque de recolher e milhares de deslocados pela ¡°greve armada¡± do ELN
Giada Aquilino ¨C Pope
Uma ¡°greve armada¡± foi proclamada na Colômbia pelos guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN) no Departamento de Chocó, uma região do país latino-americano com vista para o Oceano Pacífico. A medida, que inclui um toque de recolher permanente e um bloqueio generalizado de todas as atividades a partir do último dia 18, confinando os habitantes em seus municípios e dificultando o acesso a alimento e assistência médica, permanecerá em vigor até à meia-noite de 21 de fevereiro, de acordo com um comunicado do ELN. No verão passado, uma decisão semelhante afetou uma população de cerca de 50 mil pessoas.
"É a vigésima medida desse tipo nos últimos três anos do grupo armado ELN, movimento guerrilheiro que atualmente está colocando em maior dificuldade o projeto de paz total do presidente Gustavo Petro", explica Simone Ferrari, pesquisador da Universidade Estadual de Milão, na Itália, em Culturas Indígenas e Conflitos Armados na Colômbia. "Algumas regiões do país viram uma melhora nas condições do conflito, enquanto Chocó", observa o estudioso, relatando dados da Acled, "é um território onde a violência mais aumentou. Historicamente, eram as FARC, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, que controlavam a região até o grande acordo de paz de 2016. Depois, o ELN se expandiu gradualmente, assim como o Clã do Golfo, uma organização que podemos definir como narcocriminosa. Chocó é habitada principalmente por pessoas de origem afro-colombiana e populações indígenas, numa área com pouca infraestrutura, onde as pessoas se deslocam principalmente por via fluvial: isso torna essas rotas particularmente ¡°interessantes¡± para o mercado do narcotráfico e para os mercados ilegais de madeira e ouro".
Conflitos entre Eln e o Clã do Golfo
Durante duas semanas, os confrontos no departamento entre a guerrilha do ELN e o cartel Clã do Golfo, especialmente pelo controle do Rio San Juan, deslocaram pelo menos 3.600 pessoas e deixaram mais de 12.000 retidas, segundo dados das autoridades locais. "Os grupos armados do Chocó", ressalta Ferrari, "não têm absolutamente nenhum apoio do tecido social ou de parte dele: é uma espécie de ocupação militar, na qual quase não há contato com a população, exceto para colocá-la em dificuldades com migrações forçadas ou, como neste caso, com limitações de movimento ou com mecanismos como extorsão e sequestro, que são outros sistemas de financiamento desses grupos".
Na quinta-feira da semana passada, o escritório na Colômbia do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos lançou o alarme sobre a grave situação no Departamento de Chocó, onde também foram relatados o recrutamento de menores e a presença de minas antipessoais. A Igreja local, com o bispo de Istmina-Tadó, dom Mario de Jesús Álvarez, pediu para ¡°acompanhar¡± e não deixar as comunidades locais ¡°sozinhas¡±. O pesquisador da Universidade Estadual de Milão aponta outro aspecto a ser analisado. ¡°Chocó é uma região de fronteira com o Panamá e parte dela também é afetada por um grande fenômeno de ¡°controle econômico¡± do processo migratório, já que muitos dos migrantes que se dirigem aos Estados Unidos devem passar por essa área, numa rota complicada que leva à floresta de Darién¡±, uma área de floresta densa infestada de gangues criminosas.
Impasse nas negociações de paz
Os guerrilheiros, em sua nota, denunciaram a ¡°grave situação humanitária¡± no Departamento de Chocó e o ¡°avanço paramilitar¡± na área, atribuindo a ¡°responsabilidade¡± ao governo de Bogotá, que também enviou 150 soldados para a área em apoio aos 340 já presentes e mobilizou vários veículos militares anfíbios. ¡°Tanto os guerrilheiros quanto os grupos paramilitares agem da mesma forma em ações territoriais. No caso do Eln, há uma matriz ideológica por trás da qual os guerrilheiros tentam justificar suas ações como políticas; na realidade, o ELN, ainda mais do que as dissidências das Farc, perdeu essa vocação política, sobretudo devido à sua estrutura muito descentralizada. Talvez o comandante possa ter uma visão política, mas, na verdade, as unidades territoriais operam absolutamente como um exército dedicado ao controle dos mercados criminosos. Então¡±, continua ele, ¡®é verdade que o Estado está mais ausente em regiões como Chocó: é um problema secular e de longo prazo, por um lado ligado aos estados-nação na América Latina que nasceram com fronteiras imaginárias e, por outro lado, correlacionado ao fato de que mesmo este governo, que tem o objetivo de chegar a todos os territórios, está progressivamente percebendo que não tem os meios ou a capacidade de fazê-lo, porque muitas regiões estão totalmente nas mãos de grupos armados¡¯.
A ¡°greve armada¡± também ocorre no momento em que o impasse nas negociações de paz entre Bogotá e o ELN piorou nos últimos meses e os confrontos entre guerrilheiros e dissidentes das extintas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) se intensificaram na região de Catatumbo, onde 14 combatentes foram presos nas últimas horas. "Em Catatumbo, outra região fronteiriça, neste caso com a Venezuela, o conflito é talvez ainda mais complexo, porque", recorda Ferrari, "está mais imerso no tecido social: é uma zona rural com muitos cultivadores da planta de coca, da qual se obtém depois a cocaína, e isso torna-a particularmente ¡°atraente¡± para os dois grupos que disputam o território".
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