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Desde 2020, a Somália sofre a pior seca dos últimos 40 anos Desde 2020, a Somália sofre a pior seca dos últimos 40 anos

Insegurança alimentar, as guerras agravam a fome no mundo

Conflitos, choques econômicos e a crise climática estão na raiz de uma situação dramática denunciada pela FAO, pelo PAM e pela União Europeia. 260 milhões de pessoas em risco, sendo os casos mais dramáticos na Somália, República Democrática do Congo, Etiópia, Afeganistão, Nigéria, Iêmen, Mianmar, Síria, Sudão, Ucrânia e Paquistão

Giada Aquilino – Pope

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Uma acusação "contundente" contra a incapacidade da humanidade de acabar com a fome e alcançar a segurança alimentar e uma melhor nutrição "para todos". O secretário-geral da ONU, António Guterres, não faz rodeios ao se deparar com os dados do último Relatório global de segurança alimentar (Gfsr), que coloca, preto no branco, uma realidade desconcertante: quase 260 milhões de pessoas no mundo passam fome. Para ser exato, 258 milhões.

O aumento da insegurança alimentar

O documento, elaborado pelos 16 atores da rede global sobre crises alimentares, que inclui a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Programa Mundial de Alimentos (PAM) e a União Europeia, especifica que, em apenas um ano, as pessoas afetadas por "insegurança alimentar grave" aumentaram de 21,3% em 2021 para 22,7% em 2022, um aumento de 1,4%. 58 países e territórios foram afetados, contra 53 em 2021, um novo aumento pelo quarto ano consecutivo.

Guerras, motor por trás das crises alimentares

Os conflitos, de acordo com as organizações internacionais mobilizadas, continuam sendo o "principal motor" das crises alimentares, envolvendo 117 milhões de pessoas, embora esse número tenha diminuído em relação a 2021. Além das consequências de mais de um ano de guerra na Ucrânia e das instabilidades globais, há outros fatores, como os choques econômicos também ligados à pandemia da Covid-19, que tiveram um peso maior nos últimos doze meses, principalmente no Afeganistão, na Síria e no Sudão do Sul. E, por último, mas não menos importante, os eventos climáticos e meteorológicos extremos, que foram catastróficos para quase 57 milhões de pessoas em 12 países.

Estresse alimentar

A insegurança alimentar aguda, observa o relatório, agora em sua sétima edição, representa uma ameaça imediata aos meios de subsistência e à vida das pessoas, fazendo com que elas caiam na penúria. Desde 2016, o número de pessoas que vivem sob estresse alimentar mais do que triplicou, passando de 83,3 milhões para 253 milhões em 2022. Também é destacada a natureza prolongada de muitas das emergências. As dez maiores crises alimentares em 2022, que afetarão 163 milhões de pessoas, representando 63% da população global, em ordem de magnitude, são as da República Democrática do Congo, Etiópia, Afeganistão, Nigéria, Iêmen, Mianmar, Síria, Sudão, Ucrânia e Paquistão.

A tragédia do Chifre da África

A insegurança alimentar aguda, observa-se, abrange os níveis 3 a 5 na escala internacional, o que significa que as condições são de "crise", "emergência" e "desastre". A última categoria inclui a Somália, onde, desde 2020 - assim como no restante do Chifre da África - ocorreu a pior seca dos últimos 40 anos. A dramaticidade do quadro que emerge do relatório torna-se ainda mais preocupante quando, ao examiná-lo, percebe-se que mais de 35 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade passaram fome. Se Guterres, no prefácio do documento, fala de uma situação "inconcebível", o diretor do Escritório de emergências e resiliência da FAO, Rein Paulsen, chama o quadro de "muito preocupante". "Quatro relatórios por quatro anos consecutivos – enfatiza ele - registraram uma piora constante da situação", exigindo ações urgentes e o "tipo certo de ação a ser tomada para enfrentar" a crise. Porque, acrescenta ele, "não devemos esperar até que seja tarde demais". Até o final de 2023, espera-se a chegada do fenômeno climático "El Niño", cujas consequências podem ser ainda mais devastadoras.

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05 maio 2023, 16:44