Justin Trudeau e Mary May: com pedido de ã, o convite a trabalhar juntos na reconciliação
Marília Siqueira - Cidade do Vaticano
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, emitiu declarações sobre o pedido de desculpas feito pelo Papa Francisco aos sobreviventes do sistema de escolas residenciais no Canadá. No mesmo sentido, pronunciou-se a governadora-geral Mary Mey Simon.
Declaração de Justin Trudeau: no espírito de reconciliação e cura, juntos construiremos um futuro melhor
Justin Pierre James Trudeau é um educador e político canadense que atua como o 23º primeiro-ministro do Canadá desde 2015. Trudeau é o segundo mais jovem primeiro-ministro canadense depois de Joe Clark, sendo líder o Partido Liberal desde 2013.
As atitudes incompatíveis com o Evangelho realizada por muitos cristãos durante o período das escolas residenciais, foi um dos motivos ao qual Francisco realizou o pedido de perdão aos indígenas no Canadá. Sobre este gesto, o primeiro-ministro assim se pronunciou:
“Hoje, Sua Santidade o Papa Francisco esteve em Maskwacîs, situada no território do Tratado 6, terras tradicionais das Primeiras Nações e Métis, onde reconheceu os abusos sofridos nas escolas residenciais que resultaram em destruição cultural, perda de vidas e traumas contínuos vividos por Povos Indígenas em todas as regiões deste país. Sua Santidade implorou 'perdão pelo mal cometido por tantos cristãos contra os povos indígenas'.
O sistema escolar residencial tentou assimilar as crianças indígenas, forçando-as a abandonar suas línguas, culturas, espiritualidades, tradições e identidades. Mais de 150.000 crianças foram retiradas de suas famílias e comunidades para frequentar escolas residenciais. Muitos sofreram abuso físico, emocional e sexual, e milhares de crianças nunca retornaram para suas casas. Um legado doloroso do sistema de escolas residenciais que se vive até hoje.
Em 2015, a Comissão de Verdade e Reconciliação, divulgou seu relatório final – entregando 94 Chamadas à Ação para abordar e reparar os danos sofridos nas escolas residenciais. A ação de número 58 faz um pedido especificamente ao Papa para que emita um pedido de desculpas aos sobreviventes, suas famílias e comunidades pelo papel da Igreja Católica Romana no abuso espiritual, cultural, emocional, físico e sexual de crianças das Primeiras Nações, Inuit e Métis em escolas residenciais geridas por católicos. Desde o seu lançamento, as Primeiras Nações, Inuit e Métis pediram ao Papa para cumprir este chamado. No início deste ano, em uma imensa demonstração de bravura e determinação, sobreviventes, líderes indígenas e jovens viajaram ao Vaticano para contar suas verdades diretamente a uma das instituições responsáveis e pediram desculpas à Igreja Católica.
Hoje é sobre as crianças que foram tiradas de suas famílias e roubadas de suas infâncias. Os impactos intergeracionais das escolas residenciais continuam a ecoar nas comunidades indígenas hoje, à medida que os sobreviventes, suas famílias e suas comunidades continuam a lidar com o trauma resultante. O governo do Canadá continuará apoiando sua jornada de cura e continua comprometido em implementar plenamente os apelos à ação da Comissão de Verdade e Reconciliação.
A reconciliação é responsabilidade de todos os canadenses. É nossa responsabilidade estar aberto, ouvir e compartilhar. É nossa responsabilidade ver nossas diferenças não como um obstáculo, mas como uma oportunidade de aprender, de nos entendermos melhor e de agir. Ninguém deve esquecer o que aconteceu nas escolas residenciais em todo o Canadá e todos devemos garantir que isso nunca aconteça novamente. No espírito de reconciliação e cura, juntos construiremos um futuro melhor – para os povos indígenas e todos os canadenses”.
Declaração de Mary Simon: trabalhando juntos, podemos fazer progressos reais através da reconciliação
A líder Inuit Mary Simon é a 30ª governadora-geral do Canadá, anunciada pelo primeiro ministro Justin Trudeau. Ela está fazendo história como a primeira indígena deste país a assumir o cargo.
O Papa Francisco em seu primeiro discurso em terras canadenses fez o seu “pedido de perdão pelo mal cometido por tantos cristãos contra os povos indígenas”. E foi sobre este pedido que Mary Simon emitiu a seguinte declaração:
“Hoje, os sobreviventes, suas famílias e comunidades em todo o país ouviram Sua Santidade o Papa Francisco se desculpar, expressando palavras de profunda tristeza, arrependimento e horror pelo abuso sofrido no sistema escolar residencial.
Existem alguns fatos inegáveis. Verdades da nossa história que são difíceis de enfrentar. Sabemos que as crianças indígenas foram cruelmente retiradas de suas casas. Famílias foram separadas. E o impacto dessas ações repercute até hoje. Os povos indígenas, especialmente os sobreviventes, viveram com um trauma de abusos que deixaram cicatrizes em suas vidas e na vida daqueles que os amam. Algumas crianças e famílias nunca se recuperaram. Algumas crianças nunca retornaram para as suas casas.
Ao longo dos anos, meses e semanas que levaram a este momento histórico, as comunidades indígenas não mostraram nada além de bravura, coragem e resiliência enquanto buscavam um pedido de desculpas significativo. Hoje foi um dia que nos moveu para frente, dando voz aos sobreviventes que podem ajudá-los a se curar. No entanto, é também um dia que pode suscitar emoções complexas, especialmente à medida que a visita papal continua. Cabe a cada sobrevivente e suas famílias decidir como se sentem e o que precisam para seguir em frente. E cabe a cada um de nós continuar abraçando a esperança e apoiando a reconciliação não apenas com palavras, mas também com ações.
Hoje, somos lembrados de que os seres humanos são imperfeitos e que as instituições podem causar grandes danos sem uma liderança vigilante. Mas também somos lembrados de que o espírito humano pode perseverar e que, trabalhando juntos, podemos fazer progressos reais através da reconciliação.
Para os povos indígenas, este não é o começo nem o fim da jornada de cura. Como país, devemos nos perguntar: “Para onde queremos ir a seguir? Quem queremos ser?” Enquanto continuamos nossa conversa sobre reconciliação, vamos todos trabalhar juntos em um espírito de esperança e renovação para ajudar a construir uma sociedade mais justa e um amanhã melhor”.
Numerosos encontros com povos indígenas, incluindo ex-alunos das escolas residenciais e os fiéis vêm acontendo durante nesta Viagem Apostólica de Francisco ao Canadá, com uma agenda cheia de compromissos, alternada com momentos de descanso devido à sua condição física.
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