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População Rohingya de Mianmar em fuga do país População Rohingya de Mianmar em fuga do país 

Tribunal de Haia em defesa da minoria Rohingya

No Tribunal Penal Internacional de Haia foram retomadas as audiências sobre o suposto genocídio contra a minoria Rohingya de Mianmar

Guglielmo Gallone – Pope

Os representantes da Junta militar de Mianmar pediram a arquivação do caso que acusa a nação do sudeste asiático de genocídio contra a minoria étnica Rohingya. De acordo com a defesa, o Tribunal Penal Internacional não tem jurisdição sobre o assunto. O confronto entre as partes, que começou ontem (22) em Haia, continua e também se estendeu a outra questão: quem deveria representar Mianmar no Tribunal Penal Internacional de Haia? Hoje, não é mais a ex-presidente Aung San Suu Kyi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 1991, mas a junta militar que, por causa de um golpe, está no poder desde 1° de fevereiro de 2021. "Estamos satisfeitos pelo avançamento do caso", disseram alguns representantes de organizações humanitárias internacionais, "mas achamos profundamente preocupante que os militares possam comparecer perante o tribunal como representantes da Birmânia”.

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Violação dos direitos dos Rohingya

A perseguição aos Rohingya, um grupo étnico islâmico na região de Rakhine, na Birmânia, começou entre 2016 e 2017. A repressão militar pelo exército birmanês obrigou cerca de 700 mil Rohingya a fugirem através da fronteira para Bangladesh. Ali nasceu o maior campo de refugiados do mundo: localizado no distrito de Cox Bazar, divisão de Chittagong, é chamado de Kutupalong e abriga pouco mais de 500 mil migrantes. Diante da desastrosa situação política e humanitária, as Nações Unidas lançaram uma série de investigações que levaram à descoberta de violações de direitos humanos em larga escala: estupros de grupos, incêndios criminais, assassinatos extrajudiciais, infanticídios e execuções sumárias.

A intervenção do Tribunal Internacional de Justiça

Assim, em 2019, a Gâmbia trouxe à tona o caso dos Rohingya para a justiça internacional: o governo da Gâmbia entregou um dossiê no Tribunal Penal Internacional de Haia, que revelou que os militares de Mianmar haviam supostamente cometido genocídio contra a minoria étnica islâmica. As alegações foram feitas utilizando uma série de mapas, imagens de satélite e fotografias da campanha militar birmanesa. A Gâmbia pediu então ao Tribunal que se pronunciasse sobre o caso. O tribunal emitiu uma decisão provisória, ordenando a Mianmar que fizesse todo o possível para impedir o genocídio contra os Rohingya, enquanto se aguarda o final do processo.

Inicialmente, foi a própria Aung San Suu Kyi que foi à corte para defender Mianmar contra acusações de assassinato em massa, estupro e destruição da comunidade Rohingya por seus militares. Agora a ex-líder birmanesa foi substituída no tribunal pelo Ministro da Cooperação Internacional da junta militar, Ko KoHlaing, e seu Procurador Geral, Thida Oo. Os dois representantes da administração militar argumentam que o caso deve ser encerrado por dois motivos. O primeiro é que o Tribunal Penal Internacional só ouve casos entre Estados e a denúncia dos Rohingya foi apresentada pela Gâmbia em nome de uma organização internacional. O segundo motivo: de acordo com os representantes militares de Mianmar, a Gâmbia não pode levar o caso ao tribunal porque não está diretamente ligada a eventos em Mianmar. Uma resposta dos advogados da Gâmbia é esperada para esta quarta-feira (23).

Intervenção da União Europeia

Nesse meio tempo, Bruxelas também agiu. Na segunda-feira (21) a União Europeia impôs novas sanções a 22 representantes do governo militar de Mianmar, incluindo ministros, membros do Conselho Administrativo do Estado, a Comissão Eleitoral e as forças armadas. As medidas incluem congelamento de bens e proibição de viagens para as fronteiras europeias. Esta é a quarta onda de medidas restritivas impostas por Bruxelas a Naypyidaw em pouco mais de um ano desde o golpe. Atualmente, a assistência financeira direta ao governo birmanês foi suspensa. Permanecem em vigor o embargo de armas, a proibição de treinamento e cooperação militar e restrições à exportação de tecnologia de comunicação. As intervenções da União Europeia são motivadas por uma situação que se "deteriorou gravemente" desde que os militares birmaneses chegaram ao poder.

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23 fevereiro 2022, 11:23