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A dzá sob as garras de uma crise política e humanitária

A situação no país do Chifre da Áڰ tornou-se cada vez mais dramática após o adiamento das eleições e o aumento das tensões políticas. ONGs advertem: quase 8 milhões de pessoas estarão em risco até 2022

Francesca Sabatinelli e Alessandro Guarasci – Pope

A Somália está afundando numa nova crise política. O país, já devastado por uma profunda tragédia humanitária, minado pela violência de grupos jihadistas, como o Al-Shabaab, ligado à Al Qaeda, enfrenta nas últimas semanas a forte tensão entre o presidente da Somália, Mohamed Abdullahi Mohamed Farmaajo, e o primeiro-ministro do país, Mohamed Hussein Roble, suspenso dos seus poderes pelo presidente em 27 de dezembro último, por um alegado caso de corrupção.

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As eleições adiadas

O pano de fundo é o cancelamento das eleições previstas para 10 de outubro do ano passado, que já tinham sido adiadas várias vezes. O mandato de Farmaajo, que expirou em 8 de fevereiro, tinha sido prolongado por dois anos pela Câmara Baixa, mas esta decisão foi rejeitada pelo Senado por ter sido considerada inconstitucional devido à falta de aprovação por ambas as casas. Isto levou à eclosão de uma grave crise política, com confrontos entre facções opostas do exército em 25 de abril, que deixaram cerca de dez mortos, a maioria dos quais soldados. No final de abril, Farmaajo desistiu da ideia de prolongar o seu mandato e confiou a Roble a tarefa de liderar os preparativos para a votação, que foi sempre adiada até a enésima crise das últimas semanas.

Somália
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A comunidade internacional

Roble e a oposição acusam Farmaajo de tentar um golpe de Estado, com a remoção do primeiro-ministro e com o recente pesado destacamento militar em Mogadíscio. O país mergulhou assim numa nova crise política que suscitou preocupações internacionais. As Nações Unidas, a União Africana, a União Europeia, bem como os Estados Unidos, apelam para uma solução baseada no diálogo e que se evite qualquer provocação ou uso da força que possa minar a paz e a estabilidade.

Violência jihadista

Nesta difícil situação, os ataques do grupo Al-Shabaab continuam, facilitados, segundo muitos, pela crise e pelo impasse eleitoral. Os jihadistas, expulsos da capital pela União Africana em 2011, ainda controlam grandes áreas rurais e realizam regularmente ataques em Mogadíscio. Há alguns dias, teve lugar um ataque na região costeira de Lamu, Quênia, na fronteira com a Somália, no qual foram mortas seis pessoas. Infelizmente, é a amarga reflexão de Giuseppe Cavallini, diretor da revista Nigrizia, mensal dos missionários combonianos dedicados ao continente africano e aos africanos no mundo, "não há absolutamente nenhuma esperança de que as coisas se resolvam facilmente, parece que estamos caminhando para uma nova espiral de violência". O receio de Cavallini é que este confronto entre as forças do presidente e as do primeiro-ministro acabe mais uma vez por "dar voz aos militares", que de fato nunca deixaram o poder na Somália.

Somália
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Pandemia, seca e desnutrição

A grande esperança de muitos, "era também para nós na Nigrícia", prossegue Cavallini, que na Somália, depois de tanto sofrimento, pudéssemos começar a falar sobre o início de uma sociedade democrática, mas infelizmente os fatos mostram o contrário. "A situação", continua o diretor de Nigrizia, "está degenerando e tudo isto está associado à violência do Al-Shabaab, que, mesmo durante 2021, continuou a perpetrar ataques em todo o país, incluindo a capital. Para além de tudo isto, há a questão da pandemia, que não foi abordada; a seca no Sul, que é cada vez mais catastrófica com centenas de milhares de crianças em risco de morrer à fome; as invasões sistemáticas de gafanhotos que trazem catástrofes; os dois milhões e meio de deslocados internos e os cerca de um milhão de refugiados nos países vizinhos: Etiópia, Eritreia, Quênia.

O campo Dadaab

Os milhões de pessoas que deixam as suas casas na Somália fazem-no para escapar à fome, à pobreza e à violência jihadista. Um dos campos que acolhe os somalis em fuga é o Dadaab, no Quênia, na fronteira com a Somália, considerado o maior assentamento de refugiados do mundo, aberto em 1991 para acolher o fluxo de somalis em fuga da guerra civil. Atualmente existem três campos que albergam cerca de 218.000 pessoas, mas nos últimos anos o número subiu para 330.000. Na Somália não há apenas um problema de instabilidade política, explica Luciano Centonze, da ONG Cefa, presente no campo, "há um problema de movimentos populacionais devido a crises ambientais, portanto, refugiados internos que se deslocam para outras partes do país, e que criam uma pressão considerável do ponto de vista da coexistência e criam uma necessidade de alimentos em áreas que certamente não são fáceis, no norte, em direção às áreas de Puntland e Somaliland". Ao lado dos movimentos internos, existem naturalmente os movimentos para o exterior, deixando o país, especialmente em direção à fronteira com o Quênia, em direção ao campo Dadaab e em direção às rotas migratórias, que atravessam o Sahel para se deslocarem em direção à Europa.

A crise humanitária em 2022

Aqueles que vivem nos campos devem, infelizmente, suportar também pesadas consequências para a saúde. A mais grave de todas, explica Centonze, é criada pela "insegurança alimentar". Existem grandes problemas de desnutrição, uma vez que as crescentes alterações climáticas e a seca ameaçam o acesso aos alimentos. As condições sanitárias gerais não são as ideais, de modo que de vez em quando eclodem epidemias de cólera, sobretudo, é claro, a pandemia de Covid que, na realidade, ainda não é claro que efeito teve no país, uma vez que a capacidade de verificação de contágios é muito limitada". Acima de tudo, porém, existe o problema da desnutrição, que afeta milhões de pessoas, especialmente crianças que estão morrendo por causa da fome ou da falta de água. A seca está assim agravando uma crise que risca de aumentar o número de pessoas necessitadas de assistência humanitária em 2022,  de 30%, dos atuais 5,9 milhões para 7,7 milhões.

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08 janeiro 2022, 11:30