Haiti: ainda situação dramática um mês após o terremoto
Giancarlo La Vella, Silvonei José – Pope
O Haiti ainda está contando os danos e as vítimas causados pelo terremoto do mês passado. Uma série de tremores extremamente violentos atingiu o país, que já havia sido severamente abalado por outro terremoto desastroso em 2010, outros desastres naturais, pelas ações de criminosos e por uma crise política que ainda não foi resolvida. O inesperado epílogo entre 6 e 7 de julho com o assassinato do presidente Jovenel Moise, eleito em 2016. Muitos observadores internacionais acreditam que o Haiti está agora à beira da guerra civil. Nos últimos dias o ponto de virada judicial do dramático evento com a acusação de homicídio do primeiro-ministro Ariel Henry solicitada pelo Ministério Público.
Um povo apegado à vida
Diante desta série de desastres, o povo haitiano mostra uma força incrível baseada em uma forte esperança e fé em Deus. Foi o que disse o missionário camiliano, padre Antonio Menegon, em uma entrevista à Rádio Vaticano - Pope. A ordem religiosa trabalha há anos no Haiti.
Padre Menegon, um mês após o desastroso terremoto que atingiu o Haiti, qual é a situação?
Ainda é muito dramática, especialmente nos vilarejos das montanhas, onde o terremoto atingiu mais duramente, porque eles já estavam lutando com sérios problemas de miséria. E agora este terremoto destruiu o que nem se pode chamar de casas, feitas de barro, feitas de papelão. E acima de tudo, são vilarejos onde é muito difícil chegar com as ambulâncias. Portanto, eles estão bastante isolados. O outro aspecto, infelizmente, é o de um Estado nas mãos de quadrilhas armadas, que se tornaram ainda mais ferozes desde o terremoto: matam, sequestram e atacam comboios humanitários. A situação é verdadeiramente dramática.
Como os haitianos nesta situação fazem para ir avante?
Acho que os haitianos vão avante por desespero e por serem apegados à vida. Quando eles estão prestes a levantar a cabeça, um terremoto, um ciclone ou a criminalidade dessas gangues armadas os derrubam. Mas é um povo forte, porque lhes falta tudo, a natureza é adversa, os homens são mais adversos que a natureza. Portanto, eles realmente têm uma coragem indomável, uma grande força diante da vida.
Um país, o Haiti, também lutando com uma crise política muito grave...
Toda vez que um presidente da República é eleito, há sempre tumulto e violência. Agora há um governo muito fraco, deveria se realiza eleições, mesmo que não saibamos quando serão, e assim, nesta situação a realidade política é ainda mais preocupante, pois ao invés de resolver agrava os problemas e a situação que estas pobres pessoas estão vivendo.
Como os missionários camilianos estão trabalhando neste momento?
Nós interviemos imediatamente e ainda estamos intervindo no que diz respeito à emergência. Primeiro de tudo, nosso hospital em Porto Príncipe, São Camilo, está recebendo cada vez mais pessoas doentes, traumatizadas, que estão sendo tratadas e operadas. Depois, de São Camilo, ambulâncias, médicos e enfermeiros partem para as zonas sísmicas para ajudar os doentes e feridos. Também enviamos caminhões com alimentos para dar de comer ao povo, porque um dos grandes problemas no Haiti por causa de todas essas coisas é a fome. Isto é o que estamos fazendo agora, mas já começamos a reconstrução. No sentido de que estamos começando a reconstruir as casas, o que já fizemos no primeiro terremoto em 2010. A primeira coisa é a construção de uma escola, justamente porque na escola as crianças encontrarão um lar, educação, encontrarão a possibilidade de comer uma vez por dia e porque em um país como este a educação é fundamental, mesmo que haja fome, é importante fazer com que o povo, o povo e aqueles que virão, tenham consciência de que são os protagonistas de suas vidas e são eles que devem mudar radicalmente o destino deste país tão pobre. Portanto, estamos começando com a escola e depois já planejamos a construção das primeiras dez casas e continuaremos assim enquanto houver necessidade.
O que despertou nos haitianos a proximidade expressa pelo Papa após o terremoto?
O Papa é uma figura de referência para este povo, que é muito religioso, um povo que se abandona e sempre se confia a Deus. Eles têm uma grande fé em Deus. Muitos, diante de situações como esta, correm o risco de perder sua fé, mas renovam seu abandono, sua confiança em Deus que é o único que lhes dá a força e a verdadeira grande coragem para poder viver e enfrentar um futuro tão difícil e dramático. Deus é verdadeiramente "o bom pai", como eles o chamam aqui, o pai de suas vidas que lhes dá grande força e grande esperança.
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