A vida n?o ¨¦ mercadoria: "Compromisso de cuidar da vida onde ela ¨¦ ferida"
Padre Modino - CELAM
É de se perguntar o que pode acontecer na mente de uma menina de 8 anos que é abusada e traficada? O que uma mulher maltratada por traficantes que a forçam a se prostituir, que passa fome, pode pensar? O que elas pensam, o que sentem, mas também o que está sendo feito para superar a mercantilização da vida?
O Dia Internacional contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças, celebrado neste dia 23 de setembro foi uma oportunidade para refletir sobre uma realidade presente na sociedade de hoje, da qual mulheres e meninas representam 72% das vítimas, e para rezar pelas vítimas. Organizada pela CLAR, a Rede Clamor e as redes da vida consagrada da América Latina e do Caribe contra o tráfico humano, mais de 70 participantes se encontraram virtualmente, em um dia em que a Campanha "A vida não é mercadoria, é tráfico humano" foi encerrada.
À luz da Campanha e do Evangelho deste dia, Ir. Liliana Franco afirmou que "ver Jesus é a condição para transformar nossas vidas, para nos colocarmos ao lado das vítimas". A presidente da Confederação Latino-americana de Religiosos e Religiosas (CLAR), insistiu que "as opções têm que ser povoadas por rostos e têm que ser povoadas por histórias".
A Campanha serviu para ouvir os gritos das vítimas, mas também para denunciar aqueles que querem comercializar o mal, como disse a religiosa. Diante disso, o desafio é "ver Jesus nas vítimas, trabalhar juntos", exigindo a promoção da intercongregacionalidade e da interinstitucionalidade. O objetivo deve ser "gerar nichos afetivos nos quais a vida e a dignidade das pessoas sejam restauradas, que o que vemos nos descomponha e nos ajude a defender a dignidade humana", insistiu a Irmã Liliana.
Diante de um fenômeno que triplicou nos últimos 15 anos, como é o número de vítimas entre as crianças, cada vez mais capturadas através de redes sociais, onde se tornam vítimas fáceis, o encontro serviu para mostrar a necessidade de "uma geopolítica da esperança", para entender os territórios como lugares para defender e dar novo sentido à vida, tornando as crianças embaixadoras de um mundo melhor. Um sentimento que estava presente, como foi demonstrado nos testemunhos de dezenas de crianças, que falaram de seus sonhos, mas também de seus medos.
Como a Irmã Carmen Ugarte García denunciou, a exploração sexual existiu ao longo da história, mas é algo que está crescendo a cada dia. É mais um fruto de uma sociedade que estabelece diferenças marcantes entre homens e mulheres, que incentiva "a objetivação das mulheres, o que contribui para uma cultura global de exploração", algo a ser enfrentado a fim de promover a dignidade e a igualdade de todas as pessoas.
A representante da CLAR na Rede Talitha Kum, denunciou as "barreiras visíveis e invisíveis contra as mulheres que impedem a igualdade e a equidade", algo que está presente no mundo do trabalho e na própria Igreja. Ugarte destacou os esforços do Papa Francisco para aumentar a presença das mulheres nos órgãos eclesiais de tomada de decisões. Na verdade, segundo a religiosa, a Palavra de Deus mostra o papel da mulher na preservação da vida e a atitude de Jesus em defesa da mulher em uma sociedade marcadamente sexista.
O trabalho que a vida religiosa faz, com muitas pessoas dando suas vidas para que as vítimas possam recuperar sua dignidade roubada e as causas estruturais do tráfico sejam abordadas, foi motivo de gratidão por parte de Elvy Monzant. O secretário executivo da Rede Clamor lembrou os frutos de uma campanha realizada durante 8 meses, citando os frutos tangíveis (antologia poética, fotografias, audiovisuais) e os frutos intangíveis (experiência de comunhão entre organizações que trabalham contra o tráfico).
A irmã Rose Bertoldo recolheu em uma cuia, como expressão de tantas mulheres e homens, de tantas redes, que "ajudaram a conectar nos momentos de dor sofridos pelas vítimas do tráfico humano". A representante da Rede Um Grito pela Vida destacou que "encerramos a campanha com mais força e com a certeza de continuar o trabalho porque a violação da vida continua". É um "compromisso de cuidar da vida onde ela é ferida, das mulheres e crianças que são vítimas deste crime".
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