Israel e Palestina, dom Pizzaballa: serve confiança para superar muros
Amedeo Lomonaco, Silvonei José – Pope
O "Palazzo della Rovere", em Roma, sede do Grande Magistério da Ordem do Santo Sepulcro, foi o cenário da coletiva de imprensa transmitida online na última quarta-feira, (21/10) e centrada no tema "A Terra Santa e o Médio Oriente. Atualidade e possíveis perspectivas". A iniciativa foi promovida pelo Grande Mestre da Ordem, cardeal Fernando Filoni, no âmbito das celebrações da festa de Nossa Senhora da Palestina, padroeira da Ordem do Santo Sepulcro, no dia 25 de outubro. Respondendo às perguntas do jornalista da rede de televisão italiana Rai, Piero Damosso, o administrador apostólico do Patriarcado Latino de Jerusalém, dom Pierbattista Pizzaballa, enquadrou o cenário atual no Oriente Médio com estas palavras:
"O acordo entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, mediado por Trump, isolou ainda mais os palestinos. A questão israelense-palestina está há muito tempo fora da agenda pública internacional. Os palestinos já estão isolados há muito tempo. Agora, também em relação ao próprio mundo árabe, eles estão ainda mais isolados. Temos de nos perguntar como avançar, como continuar. Enquanto não houver uma solução clara e digna para o povo palestino, não poderá haver estabilidade no Oriente Médio. E a questão palestina se insere no contexto do Oriente Médio em grande transformação: a questão libanesa, a questão síria e o intervencionismo de Erdogan tornam muito claro que os equilíbrios em todo o Oriente Médio estão mudando. Os grandes 'jogadores' são a Turquia, os Emirados, a Arábia Saudita e o Irã. Depois há a Rússia, os Estados Unidos e a China. O Líbano e a Síria - também o Iraque - encontram-se como se fossem o campo de batalha". E a Europa - acrescenta - tão imersa nos seus próprios problemas, que parece ter esquecido a agenda internacional”.
Solução dois povos, dois Estados: hoje é mais difícil
A esta fotografia sobre a complexa realidade do Médio Oriente, dom Pizzaballa acrescentou uma consideração sobre a solução "dois povos, dois Estados":
"É muito difícil dizer que 'dois povos, dois Estados' não seja uma solução mais viável. Ao mesmo tempo pergunta-se como pode ser feito" porque neste momento "não há diálogo entre as partes. Israel e a Palestina não se falam há anos e existe uma falta de confiança. A comunidade internacional já não está de fato presente, por isso estamos assistindo a uma situação de suspensão, de espera. Portanto, a estrada existe, mas tecnicamente não parece viável. Para alcançar a paz que hoje parece uma utopia, portanto, "temos de trabalhar a longo prazo".
O futuro se constrói sobre a confiança
Mas a utopia ligada ao presente não pode impedir de construir o futuro. E o futuro de Israel e da Palestina, disse dom Pizzaballa, precisa acima de tudo de uma "cola":
"É preciso construir confiança entre as duas populações, que não existe neste momento. O muro que existe e que divide, é também um sinal da falta de perspectivas: precisamos de gestos que gradualmente reconstruam a confiança, e isto não acontece entre hoje e amanhã, requer também visão e liderança. Temos de começar de novo, tendo em conta as lições do passado, incluindo os fracassos, os fracassos de Oslo e de vários acordos. E isto vai levar tempo”.
Com a pandemia a economia palestina está mais frágil
O administrador apostólico do Patriarcado Latino de Jerusalém recordou também que, no início, a pandemia afetou o Oriente Médio muito menos do que a Europa. Depois houve uma onda mais preocupante. Para além da emergência sanitária, com as fronteiras fechadas, houve uma emergência social e econômica. Em particular na realidade palestina, a mais frágil economicamente, criou-se uma situação muito difícil para muitas famílias. Também na Jordânia, recordou dom Pizzaballa, tem havido um empobrecimento preocupante das famílias. "Foi um golpe muito duro do qual não sabemos como vamos sair". "Compreendemos que o vírus não faz distinção: afeta a todos". No Oriente Médio, o fechamento de igrejas, sinagogas e mesquitas foi "difícil de digerir" porque nesta região do mundo o culto e a oração são aspectos importantes da vida social.
A "fraternidade" para sair da crise
A crise atual apresenta muitas dificuldades mas pode também "tornar-se uma oportunidade se forem aprendidas lições". Pode ser uma lição, acrescentou, "se aceitarmos a ideia de que somos irmãos uns dos outros, que devemos viver juntos" e construir "parcelas de vida comum também no tecido social, religioso". Na Terra Santa, os judeus, cristãos e muçulmanos, recordou ele, sempre viveram juntos. A Terra Santa sempre conheceu a convivialidade, o estar juntos, mas também muitas dificuldades. Em um nível mais amplo e institucional talvez haja uma dificuldade constituída por preconceitos e estereótipos. Devem ser levados às realidades concretas do território, eventos como o de 2019 em Abu Dhabi, com a assinatura da declaração do Documento sobre a Fraternidade Humana para a paz mundial e a convivência comum, e o que se viveu terça-feira em Roma com o evento "Ninguém se salva sozinho", promovido pela Comunidade de Sant'Egidio.
Diálogo é partilha
O diálogo, disse dom Pizzaballa, "se constrói sobre a vida que se partilha juntos". Se constrói na realidade quotidiana. Referindo-se à encíclica do Papa Francisco "Fratelli tutti", o administrador apostólico do Patriarcado Latino de Jerusalém salientou finalmente que a esperança da fraternidade deve vencer as pressões do individualismo. E é precisamente a fraternidade, o caminho para abrir o canal de diálogo, para construir o futuro.
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