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 Massimiliano Ferragina Massimiliano Ferragina 

As cores do Espírito: Pentecostes e os carismas

Com a aproximação da festa de Pentecostes, o Pope conversou com o artista italiano Massimiliano Ferragina, sobre inspiração do Espírito Santo, Sagrada Escritura, evangelização, arte, beleza, meditação, catequese e muitos outros temas.

Padre Arnaldo Rodrigues - Cidade do Vaticano

O Papa Joao Paulo II, um grande apaixonado pela arte e de modo especial por aqueles que se deixaram levar pela inspiração de Deus, escreveu certa vez:

“a constituição sobre a sagrada liturgia Sacrosanctum Concilium lembrou a histórica amizade da Igreja pela arte e, falando mais especificamente da arte sacra, vértice da arte religiosa, não hesitou em considerar como nobre ministério a atividade dos artistas, quando as suas obras são capazes de refletir de algum modo a beleza infinita de Deus e orientar para Ele a mente dos homens.Também através do seu contributo, o conhecimento de Deus é mais perfeitamente manifestado e a pregação evangélica torna-se mais compreensível ao espírito dos homens. (Cartas aos artistas, 1999).”

Inspirados por este mesmo espírito, conversamos com o artista Massimiliano Ferragina, que dos dias 18 a 20 de maio em Milão, apresentará uma exposição  “Carisma”, sobre a “presença e revelação” do Espírito Santo na Bíblia. A exposição tem a intenção de relembrar a importância das diversas representações artísticas na Sagrada Escritura e de como esta arte está a serviço da evangelização.

Pope - Massimiliano, conte-nos um pouco sobre a exposição:

Massimiliano Ferragina - A exposição é chamada de Carisma e está incluída em um evento organizado pela Arquidiocese de Milão unida a pastoral de Santo Antônio Abade e Santíssimo Redentor, que prevê conferências, momentos de catequese e concertos. O evento é chamado “As Cores do Espírito” e acontecerá em Pozzo d'Adda (Milão)  de 18 a 20 de maio, por ocasião de Pentecostes. Minha obra é uma tentativa de retomar com as diferentes linguagens da arte contemporânea a "presença e revelação" do Espírito Santo na Bíblia. “Carisma” é uma jornada de conhecimento e reflexão sobre como, a partir da Bíblia e especialmente do Evangelho, o Espírito Santo agiu na história e continua a agir. A cor será o elemento privilegiado para expressar tudo isso, a cor como a possibilidade de anunciar uma verdade de fé, respeitando a verdade em si. A exposição será montada em uma bela igreja transformada em um espaço de exposição com um cenário especial, jogaremos com luz, sombras e cores.

VN – Massimiliano, a arte pode ajudar ao homem a encontrar-se com Deus? Ajuda a tornar-nos pessoas melhores?

MF - Esta pergunta me leva necessariamente a via pulchritudinis (beleza). A beleza da arte, em cada expressão pode se tornar uma via privilegiada, via da beleza de fato para aproximar-nos da contemplação da verdadeira beleza, a beleza Divina que é do único e grande artista, o Criador. A arte ajuda a humanidade a pensar Deus, a conhece-lO como fonte inexaurível de amor e beleza, como Aquele que criou todas as coisas “e viu que tudo era bom” como na citação do Gêneses. O artista que crê é como quem empresta as suas mãos a Deus para pintar a invisível beleza celeste. O homem aprende na escola da beleza e necessariamente se pergunta sobre Deus. Sim! O homem através da arte, e sobretudo aquela sagrada, tem todas as possibilidades para elevar-se, e tornar-se melhor. Converter-se a beleza, poderia assim dizer. É aquilo que busco fazer com a minha pesquisa artística.

VN -  Dostoievski nos disse que a beleza salvará o mundo. Isto foi citado também pelo Papa Bento XVI. Como ver esta beleza em um mundo aparentemente caótico?

MF A beleza deve recuperar o seu papel na vida de cada pessoa. Um papel profético, artistas como profetas da beleza da fé, representada pela arte. Obviamente artistas que creem ou que  aceitam a proposta da Igreja.

Existem muitos artistas sem nenhuma pertença. Muitas obras confundidas com beleza. Como um artistas que crê, mas sobretudo como um homem que crê, vejo que muitos jovens dificilmente fazem a experiência daquela beleza salvadora que redime. Falta o encontro com Jesus, o mais belo entre os filhos do homem. Este encontro pode gerar a necessidade de fugir do caos do mundo, da violência gratuita, da vulgaridade, da ofensa a vida humana e todo o mau que o homem contemporâneo é capaz de realizar.

Papa Bento XVI é um grande Papa. Um grande homem de fé. Fez da sua vida uma contemplação perpétua da beleza de Jesus, nos deu três livros sobre Jesus de Nazaré que são três pérolas belíssimas para a humanidade. Nas escolas do governo italiano, onde sou professor de religião, faço meus alunos lerem seus textos como textos culturais. São uma obra de arte.

Citando o escritor russo, Bento XVI levou ao centro da atenção midiática um problema que está na base do mundo contemporâneo, ou seja, a ideia que não temos mais necessidade de sermos salvos. Ao contrario, esta necessidade é um grito, que eu como artista sinto fortíssimo, e o único modo de acolher e consolar este grito é conduzindo o povo a Deus.  A beleza é o caminho de salvação. Artistas não se improvisam. Precisa cumprir um caminho de pesquisa da beleza salvadora. Um caminho de estudo e conversão. Somente assim teremos credibilidade na mensagem.

VN – Existem muitas representações artistas de Pentecostes na história. O Espírito Santo inspira artistas para que conheçam um pouco da beleza de Deus e do seu desejo para o mundo?

MF - Pentecostes, como narrado nos Atos dos Apóstolos, é o quadro perfeito. Um estrondo como de um trovão e línguas como de fogo que abraça os apóstolos. É uma imagem forte. Muitas representações tentam tornar visíveis uma experiência pessoal e íntima dos apóstolos. Essas representações tiveram uma função didática, catequética e representativa na história. O Pentecostes, que estará  na exposição “Carisma”, além de ter essas funções tenta necessariamente dar um novo passo, a função evocativa de levar o espectador a se questionar, fazer surgir nele ou nela a pergunta sobre o sentido, leva-los de volta ao texto de Atos dos Apóstolos e movimentar a sua consciência.

Meu trabalho retrata os apóstolos por trás, em fila, prontos para partir, levantar a cabeça e encontrar coragem para anunciar. Não desejos apenas retratar o fato, mas o momento em que os apóstolos se conscientizaram do que aconteceu com eles no encontro com o Mestre. Eis o que eu gostaria de suscitar da visão do meu Pentecostes.

“O Espírito Santo é como um vento que sopra onde quer, decide livremente quem inspirar, quem chamar para anunciar. Eu acredito que os artistas têm um coração predisposto a receber este vento criativo”

O Espírito Santo é poderoso, transformando o deserto em um jardim de flores. Com isso quero dizer que mesmo o artista mais árido no final se deixa inspirar,  porque o Espírito sopra onde quer e onde menos se espera.

VN – O que é, como você chama, “pintura emocional bíblica”? Que projeto esta levando para as paroquias italianas?

MFA pintura emocional é o meu campo de pesquisa. Se trata de uma pintura que nasce de um forte momento introspectivo, de uma leitura das próprias emoções. Tudo se concentra no poder cromático e no uso de símbolos que se referem ao mundo interior e espiritual. Torna-se uma pintura emocional bíblica quando o trabalho artístico surge da leitura das emoções suscitadas pela meditação de um texto bíblico. Uma espécie de lectio que termina com um gesto pictórico, com a realização de uma obra de arte. A Bíblia é uma fonte infinita de emoções, emoções na e da relação entre Deus e o homem.

Como diz o cardeal Ravasi:

“O estado emocional (na Bíblia) é transformado, portanto, de maneira a conhecer e encontrar Deus, tornando-se assim um componente estrutural da fé.”

Nos meus workshop de pinturas emocionais bíblicas nas paroquias italianas, e começam a ser muitas, realizo percursos de estudos bíblicos, mas do ponto de vista da experiência emocional e emotiva dos protagonistas bíblicos. Esta leitura particular reflete sobre suas emoções e nos trás um ensinamento, uma conclusão que se torna patrimônio pessoal de fé. Tudo termina retratando esse conteúdo de fé com a linguagem artística da pintura emocional. Este é um laboratório para pessoas adultas que desejam se envolver. Um laboratório dividido em duas fases.

A primeira fase, sempre guiada por mim, envolve a exploração de um texto bíblico do ponto de vista original das emoções dos personagens bíblicos. Uma fase "exegética" destinada a identificar quanto emotiva e emocional é a revelação divina.

A segunda fase envolve um exercício de visualização das emoções causadas pelo conteúdo bíblico e associado à própria experiência do momento, nesta fase as emoções identificadas através das cores primárias são transferidas para a tela. Pessoalmente nesta fase, acompanho cada participante, a fim de fornecer-lhe as bases técnicas para trabalhar com cores e construir sua própria obra. A pessoa levará para casa seu "trabalho emocional" e poderá continuar o percurso depois. Este caminho pedagógico  foi totalmente projetado por mim.

Massimiliano Ferragina  nasceu em  Catanzaro, se mudou para Roma ainda jovem, onde cursou filosofia e teologia na Universidade Pontifícia Gregoriana. Sua expressão artística foi fortemente influenciada tanto por sua carreira acadêmica, quanto por uma viagem de três meses à América do Sul e por três experiências formativas e artísticas em Paris (2005), Dublin (2011) e Copenhague (2012). Em janeiro de 2012 começou na Itália com o premio Open Art. Seus inúmeros projetos artísticos têm uma mensagem profunda e introspectiva, na qual o mundo interior é o protagonista e o motor imóvel. Participa de numerosas exposições, sejam coletivas ou pessoais. Atualmente vive e trabalha em Roma.

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07 maio 2018, 12:19