Na COP23, o sofrimento do povo ancestral Krenak
Cristiane Murray - Bonn
Os Krenaks são um povo indígena nativo do estado de Minas Gerais. Eles ainda vivem ali, em sua reserva, onde até 2 anos atrás podiam se banhar, nadar, consumir e realizar seus rituais. Desde então, isso não é mais possível. Em 5 de novembro de 2015, a maior tragédia ambiental da história do Brasil mudou as suas vidas, tirando deles o que lhes era mais sagrado. Tida como sagrada há gerações, toda a água utilizada pelos índios está ainda contaminada pela lama escoada do estouro das barragens da mineradora Samarco.
Depois de milênios, não podem mais fazer o Atoran, um rito em que se banhando no rio, limpam as almas de toda a impureza e pedem ao Criador para transformá-la em coisas boas. Porque o ‘Watu’ - o rio Doce - é sagrado.
Geovane Krenak é uma liderança deste povo. Ele foi até a Alemanha, à cidade de Bonn, diante de milhares de representantes, estadistas, ativistas de todos os países do mundo participantes da Conferência , para denunciar a situação de sua comunidade, que há anos reivindica também a posse da Terra Indígena Krenak situada no Parque Estadual de Sete Salões, no leste do estado. A Fundação Nacional do Índio (Funai) deve concluir o processo até dezembro. Segundo Geovane, ‘seria um modo de recompensar seu povo’ neste momento tão triste de sua história.
“Nosso povo, quase 700 pessoas, vivemos às margens do Rio Doce. Fomos atingidos de uma maneira que é difícil explicar. Ao longo de nossa história, mantemos o hábito de nadar, caçar e pescar, e usar a própria água para matar a sede”.&Բ;
“Tem sido complicado, não está sendo fácil para nós. As crianças não têm lugar para aprender a nadar. Nosso povo sempre foi conhecido como excelente nadador. Talvez esse seja o pior momento da história do povo Krenak”.
“Temos uma reivindicação em relação ao Território dos Sete Salões, que é uma área que ainda tem água limpa. Em alguns lugares podemos nadar, pescar. Talvez seria uma forma de amenizar todo o sofrimento do nosso povo. Estamos aqui para justamente também exigir esta demarcação. Já se encontra na Funai um estudo, mas o governo brasileiro resiste em demarcar o nosso território. Esta é uma luta, sabemos que não é fácil, mas a nossa vinda aqui à Alemanha é justamente para denunciar isto e ver de que forma a comunidade internacional pode nos auxiliar neste processo de direitos”.&Բ;
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