Vila Velha: trabalhadores celebram 50 anos da Pastoral Operária
Cristian Oliveira - Convento da Penha
A Santa Missa foi presidida pelo padre Vitor César Zille Noronha e toda a Liturgia da Palavra contou com a presença dos membros das pastorais da Arquidiocese de Vitória. No início, a coordenadora estadual, Kátia Mariano, recordou a atuação da pastoral que atua no seio da classe trabalhadora sempre à luz da Doutrina Social da Igreja Católica e da Palavra de Deus. Atualmente, a Pastoral Operária está presente em mais de 80 dioceses brasileiras, distribuídas em em 16 dos 27 estados do do país
A banda de congo Beatos de São Benedito animou os peregrinos, especialmente os agentes da pastoral que carregavam bandeiras e estandartes com imagens de mártires da caminhada, como Paulo César Vinha, Padre Gabriel e tantos outros. A Imagem da Virgem da Penha, padroeira do Espírito Santo, foi levada por trabalhadores até o altar, dando início à celebração.
História de resistência e luta
No Estado, a Pastoral Operária nasceu da participação ativa dos cristãos leigos, trabalhadores da construção civil, dos portos e da indústria que, refletindo sobre as condições precárias de trabalho e moradia, se organizaram em sindicatos e associações de trabalhadores. “Ao longo dos anos, muitos trabalhadores e trabalhadoras, religiosos e religiosas, acompanharam esse processo do trabalho de base da pastoral para lutar por um mundo mais justo, condições melhores para os trabalhadores, por isso, neste momento, diante da situação econômica e social, quer ser essa voz dos trabalhadores e trabalhadoras também no âmbito eclesial. Jesus Cristo trouxe para nós, valores de justiça, paz e solidariedade. Queremos ser esta Igreja em saída, que vai ao encontro daqueles que são pobres e marginalizados, mas também trabalhadores e desempregados, por isso, para nós é muito significativo este momento”, afirmou Kátia Mariano.
Muitos trabalhadores de Minas Gerais e da Bahia chegaram para trabalhar nos empreendimentos urbanos, nas indústrias e na infraestrutura da mineração, e se estabeleceram nas periferias, vivenciando condições precárias de trabalho, transporte, moradia e saneamento básico. Este foi o campo de atuação dos grupos de base da Pastoral Operária, onde os cristãos operários se colocaram em ação.
Os padres missionários franceses, vindos para o Espírito Santo na década de 1980 e o apoio das religiosas em Nova Brasília (Cariacica), proporcionaram a multiplicação dos grupos de bases da pastoral. A partir disso, foram realizadas formações, assembleias e participação em movimentos grevistas, pelas discussões democráticas.
Ação sociotransformadora da Igreja
Na homilia, padre Vitor começou recordando que o próprio Deus santificou o trabalho. “Segundo as palavras de Dom Pedro Casaldáliga: ‘O Verbo de Deus ser fez carne no ventre de Maria e o mesmo Verbo de Deus se fez classe na oficina de José’. Para nós há um sentido salvífico, isto é, o Verbo de Deus se fez trabalhador e, assim, Deus verdadeiro e Seu Filho que trabalharam a Plenitude da Salvação, se fez classe, assumiu a condição de trabalhador. Sua dificuldade, seu suor na testa, suas horas de trabalho, sua pouca remuneração… Assim, a Pastoral Operária é ação sociotransformadora da Igreja, que assume essa realidade, que assume o mundo do trabalho. É verdade que esses compromissos nem sempre foram compreendidos e assim, quando veio a ditadura civil-militar em 1964, que perseguia, que violentava, que torturava, que coisa terrível… A JOC (Juventude Operária Católica) foi perseguida e podemos dizer que a JOC de algum modo morreu, mas como páscoa, fez da morte à vida, de modo que em 1974, se reuniu uma assembleia em São Paulo e foi fundada a Pastoral Operária”, recordou o sacerdote.
Na sequência, o jovem sacerdote fez um resgate histórico da longevidade da Pastoral e de sua atuação no estado capixaba. “A Pastoral Operária no Espírito Santo tem uma história muito bonita. Participou de tantas mobilizações, de tantas greves e assim, inspiradas pela Doutrina Social da Igreja que fala da importância da sindicalização – que é criar solidariedade entre os trabalhadores, que é lutar por condições de trabalho juntas, que é lutar por salário juntos. A Pastoral se organizava em duas frentes, uma frente propriamente do mundo do trabalho e outra através dos territórios, participando das lutas por saneamento, por educação, saúde, transporte, portanto, vivendo uma fé que é encarnada, que assume as coisas terrestres, porém nelas, o espírito das coisas celestes, como nos pediu o Concílio Ecumênico Vaticano II, disse.
“Vivíamos em tempos no qual a terceirização foi aprovada, iniciou a precarização do trabalho com mais força, aumentaram os contingentes de populações pobres, miseráveis, crianças em situação de rua. Nessa situação, a Pastoral Operária se fez resistência, mas ela também foi sinal do Reino de Deus propondo a economia solidária popular e organizando trabalhadores. Muitas iniciativas que ainda permanecem hoje, como as cooperativas de catadores, de produção de blocos, foram se estabelecendo como redes de economia, algo que parte do chão de nossa história, uma rede de economia que vai sendo alternativa de vida para famílias, que não tinham nada. Ao mesmo tempo esse contexto aponta para uma realidade na qual nós sonhamos, que a economia esteja a serviço da vida e não a serviço do lucro e do capital”, contextualizou Padre Vitor.
Ainda em sua reflexão, o presbítero ressaltou que os trabalhadores são “peregrinos” em busca dos sonhos e causas. “Somos peregrinos, devemos ocupar as ruas, devemos colocar nas ruas nossos sonhos, causas, esperanças e assim, cantando, sonhando, se unindo, se articulando, vamos gestando um mundo novo. Também somos chamados a estabelecermos sinais que apontam para a doação de si mesmo, que se dá em plenitude na vida configurada à Cruz de Jesus […] É verdade que a Pastoral Operária fez muitas lutas ontem, mas faz muitas lutas hoje. A sua resistência, com apoio da CNBB, à reforma trabalhista e à reforma da previdência, por exemplo”.
Durante o ofertório, os agentes da Pastoral levaram até o presbitério, frutos do trabalho. Os alimentos foram doados para ajudar as famílias acompanhadas pela Campanha Arquidiocesana Paz e Pão, organizada pelo Vicariato Para Ação Social, Política e Ecumênica.
Após a Liturgia Eucarística, foi feita uma homenagem a Maurício Amorim, atuante na Pastoral. Também fizeram a leitura de uma poesia escrita por José Machado, celebrando as cinco décadas de história da Pastoral Operária.
Fotos: Cristian Oliveira - Convento da Penha
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