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Ecoteologia: caminhos de esperan?a e convers?o integral

O ano de 2025 marca um tempo de importantes reflex?es para a Fam¨ªlia Franciscana e para a Igreja, com as celebra??es do centen¨¢rio do ¡°C?ntico das Criaturas¡± e do Jubileu da Esperan?a. Al¨¦m disso, a Campanha da Fraternidade deste ano, traz uma abordagem ambiental, com o objetivo de ¡°promover, em esp¨ªrito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de convers?o integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra¡±.

Adriana Rabelo ¨C jornalista, Franciscanos

¡°A grande motivação para este momento de unidade ecumênica foi a celebração franciscana e os 10 anos da publicação da Carta Encíclica Laudato si¡¯¡±. Em 2023, seguindo as orientações da Igreja e da Ordem dos Frades Menores, bem como sua imersão em temáticas acadêmicas voltadas para o cuidado com a Casa Comum, Frei Vitorio Mazzuco Filho, mestre em Teologia Espiritual e Franciscanismo pelo Pontifício Ateneo Antonianum de Roma, publicou um material pedagógico intitulado Ecoteologia, pela editora da USF (Universidade São Francisco).

A publicação está dividida em 4 temáticas centrais que conduzem a litura para temas transversais complementares: Inter-relações e contribuições ecoambientais das religiões; Cuidado da criação e preocupações socioambientais, espiritualidade responsável em face à degradação da natureza e a Ecologia integral e a Ecoteologia.

Com autorização da Universidade São Francisco, o material está sendo disponibilizado em módulos no blog de Frei Vitorio, hospedado no site Franciscanos, com o objetivo de ampliar o debate sobre a temática. O acesso é livre e gratuito: https://carismafranciscano.blogspot.com/.

De acordo com o frade, o desenvolvimento do material se deu devido a pertinência do tema na atualidade. ¡°A Teologia é a fala da fé, a fé que procura compreender. E hoje é urgente o cuidado pela vida no seu todo. Falar sobre a necessidade do uso controlado dos recursos naturais. Cuidar do planeta, como diz o Papa Francisco, na Laudato Sì, cuidar da Casa Comum. A Ecoteologia propõe uma espiritualidade que não seja desconectada da realidade de mundo. É uma teologia inter-religiosa e ecumênica. Enfim, é preciso escrever uma Teologia que atue junto as grandes questões do mundo, de um modo especial as questões ambientais¡±, disse.

Além disso, Frei Vitorio salientou que sua iniciativa está vinculada ao seu compromisso com uma Evangelização Conscientizadora. ¡°O pensamento franciscano diz que converter-se é mudar de lugar. Em que lugar estou neste mundo? Mudar de mentalidade também supõe uma conversão ecológica. Somos criaturas entre as criaturas. É uma questão vital: estar do lado da vida. É uma questão moral. Deus cria o mundo, nós recriamos com ele sem destruir ou usar a criação através de sistemas utilitários. É um novo jeito de pensar a f顱.

A apostila foi produzida para o Núcleo de Estudos a Distância da Universidade São Francisco, para o Curso de Teologia, que traz em sua grade curricular a disciplina Ecoteologia. O frade explicou que o propósito da produção é apresentar vieses teóricos com o propósito de unir humano e divino, espírito e matéria, religião e natureza, além de despertar os estudantes para a questão do desafio das mudanças climáticas e ambientais. ¡°A intenção foi mostrar de um modo franciscano uma relação fraternal com tudo e com todos, apresentando os autores pioneiros na reflexão presente nesta área, de forma que fosse possível ajudar a estar no mundo de um modo consciente diante da realidade. Estamos passando por uma crise ambiental, que precisamos de setas indicativas para um caminho de soluções¡±, reforçou.

Sendo a Ecotologia um importante caminho para pensar a fé no horizonte da consciência planetária, seguindo uma dinâmica ecumênica, Frei Vitorio abordou a questão da unidade das religiões para o cuidado da Casa Comum, assim como a relação desse movimento integrativo a partir da espiritualidade. Nesse aspecto, o professor trouxe uma abordagem que consiste na relação pacífica voltada à promoção do bem comum é da fé.

¡°Um dos paradigmas modernos mais evidentes hoje é que há mais verdades presentes no conjunto das religiões do que nos dogmas isolados de cada uma delas. Os caminhos que nos levam a Deus são pontuados pela riqueza da pluralidade. Cada religião é portadora de uma singularidade específica. A unidade está na partilha e na riqueza da diversidade. Deus não está na monotonia das uniformidades. Ele mesmo não se repete. A beleza da unidade das diferenças de suas obras maravilhosas nos circundam. O panenteísmo franciscano diz que Deus se manifesta em todas as coisas. As coisas não são Deus (panteísmo), mas Ele está em todas as coisas (panenteísmo). Tudo não é Deus, mas Deus está em tudo e tudo está em Deus por causa da Criação, pela qual Deus deixa a sua marca registrada e garante a sua presença permanente em todas as criaturas. Esta é a base e o princípio da Espiritualidade Franciscana em relação a criação¡±, explicou.

Seguindo uma linha teórica fundamentada nos princípios da Ecoteologia, o frade aborda e esclarece no material pedagógico o sentido da Espiritualidade Responsável, que mergulha na realidade para perceber a força do natural; para perceber a força da tecnociência e transformar tudo isto numa força de conhecimento. Somos a porção da terra que pensa e cria consciência. ¡°O mundo é a nossa Casa e nossa causa. Despertar para a verdade que a natureza é parte essencial da vida e não apenas o consumo desenfreado de produtos¡±.

Segundo ele, a proposta da Espiritualidade Responsável é de nos recolocar na natureza para percebermos que cada criatura tem uma mensagem vital própria, de forma que ajude todo ser humano entender que a Terra é uma herança comum e que estamos todos numa mesma filiação. ¡°O humano é imagem e semelhança da força do divino. Não pode haver uma ecologia sem antropologia, não pode haver uma teologia sem uma Ecoteologia. O ser humano é fusão de espírito e matéria. Conversão é também uma conversão ecológica: reconciliar-se com a Criação. Todos somos chamados a criar um mundo novo em Deus e com Deus. A espiritualidade responsável nos convoca a descentrar-se de si mesmo e ser um guardião, uma guardiã das obras de Deus¡±, esclarece.

Sobre a presença atual de São Francisco, trazida na produção, especialmente quando trata da unidade para preservação e amor à criação o frade salienta que: São Francisco de Assis é o patrono da Ecologia porque é o personagem que nos ensinou a sentir-se bem na Casa Comum e viver uma consanguinidade criatural. Ele tem um amor incondicional a todo ser criado. Para ele viver é dar graças e glória¡±.

De acordo com Frei Vitorio, ontem e hoje São Francisco nos ensina que temos que ser irmãos e irmãs de toda criatura. ¡°Ele instaura uma fraternidade, uma irmandade, uma sororidade com tudo e todos, une afetividade e espiritualidade que não separa matéria e espírito. Teve e continua nos dando a inspiração que é preciso ¡®Reconstruir a Casa¡¯, e isto significa instaurar uma convivência de muito cuidado. Para Francisco de Assis a vida não é apenas uma exposição de belos quadros para ser apreciada, mas sim a imersão numa paisagem real e encantar-se com ela. Aí sim somos artistas da vida¡±.

O autor continuou dizendo que São Francisco rompeu com o modelo econômico de seu pai e de sua época para abraçar a sobriedade e a desapropriação. ¡°Ele trouxe a humanização das relações porque viveu uma ética humanizadora e não apenas normativa. Não quis salvar almas sem se preocupar com o mundo e com a cultura de seu tempo. Leu o Evangelho e o recolocou nas estradas do mundo. Ele sabia por experiência o que era justiça, inclusão e compaixão. Não aplicou a ética apenas a seres humanos, mas enfrentou o lobo de Gubbio para pacificá-lo, mostrando que sua força não estava nos dentes, mas na sua natureza. Conviveu com plantas, pedras e pássaros para aprender a sensibilidade. Abraçou o leproso para sentir a misericórdia e abraçar o humano quando ele é totalmente descuidado e excluído.  Ele é sempre novo, nós envelhecemos. Se quisermos salvar a vida temos que seguir seu jeito. Dialogar com o mundo, saber que tudo tem a ver com tudo, que tudo é relação¡±, finaliza.

Saiba mais sobre as temáticas abordadas na produção

a) Inter-relações e contribuições eco-ambientais das religiões

Religiões não podem ficar fora das questões mais contundentes e urgentes de nosso tempo. Hoje temos muitos movimentos de espiritualidade que tem as suas eclesiologias próprias que tiram as pessoas do chão da realidade. Como a questão ambiental é real devido à falta de cuidado da vida no seu todo, as religiões têm que se apresentar, falar, denunciar e criar consciência. O Papa Francisco, liderando o posicionamento do cristianismo católico, com as encíclicas Laudado Sì, Laudate Deum e em suas falas faz sempre um apelo profético de cuidado pela Casa Comum. Ele convoca líderes mundiais para se posicionaram.

Tudo está interligado; e a experiência de fé tem que alertar para o uso desenfreado de bens naturais e o futuro da humanidade. O mundo Islâmico se reúne em Istambul, na Turquia e faz a sua Declaração Islâmica sobre o clima. Faz apelo para que líderes mundiais, governantes e a empresários tenham metas bem claras e cumpram o que é preciso para monitorar as emissões de gases de efeito estufa e a exploração irresponsável do ambiente. O Judaísmo, em seus ensinamentos conclama a responsabilidade em relação aos recursos naturais, animais e outras manifestações da natureza.

Todo apelo é não destruir. O Budismo tem grandes ensinamentos sobre a natureza e sobre todas as formas de vida. A harmonia em todas as forças de vida tem efeitos no coração, na mente e nas práticas. As religiões de Matrizes Africanas priorizam os elementos da natureza em forma ritual. O Espiritismo destaca, a partir dos ensinamentos de Allan Kardec, a Lei de Conservação e a Lei de Destruição. Tudo seria suficiente se os seres humanos soubessem contentar-se com o apenas necessário.

b) Cuidado da Criação e preocupações socioambientais

As religiões, sobretudo as monoteístas, destacam que tudo é criação de Deus e cuidar da vida na terra é contribuir com a obra criadora. A ajuda às pessoas, as ações e obras de solidariedade, a defesa dos direitos humanos e a defesa da vida, a pregação sobre o bem comum, a justiça e paz, a dimensão fraterna da existência, geram ações coletivas em favor da vida em seu todo.

c) Espiritualidade responsável em face a degradação da natureza

As visíveis mudanças climáticas têm a raiz no modo irresponsável dos seres humanos, que na era do antropoceno, tem um sistema utilitário de uso dos recursos de nosso planeta. Em oposição vem a espiritualidade responsável como um apelo espiritual, moral e social. Temos que mudar o nosso modo de estar no mundo e no uso de tudo o que a natureza nos oferece. A espiritualidade responsável nos oferece uma visão espiritual do mundo para despertar uma nova sensibilidade. Estamos num solo sagrado que precisa ser respeitado.

É preciso resgatar o afeto para com tudo e com todos.  Fazer a verdade de todas as coisas passar pelo coração. Cuidar do que existe, regenerar o que foi depredado, priorizar a vida e não os mecanismos de morte. Respeito a todo ser vivo. Viver a fecundidade social do amor e do companheirismo através da solidariedade e da cooperação. Retomar a nossa força coletiva para fundar uma bio-civilização e conduzir os destinos da terra.

d) Ecologia integral e Ecoteologia

A Ecologia Integral sai do campo da natureza e avança para o cuidado total da vida. O meio ambiente tem que gerar uma justiça social que traga a paz a tudo e a todos. A Ecoteologia traz a ecologia integral para a fé e faz disso uma disciplina teológica diferenciada.

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28 janeiro 2025, 13:11