Dom Crociata: “a dinâmica do rearmamento é um golpe no coração da União Europeia"
Pope
“O que está acontecendo, sobretudo com a atual dinâmica de rearmamento, constitui uma formidável evidente contradição e um golpe no coração para o projeto que está na origem da União Europeia, que nasceu como uma comunidade de nações e povos que pretendia tornar impossível o retorno da guerra ao solo europeu e entre os países europeus”.
Foi o que afirmou na sexta-feira (25/10) dom Mariano Crociata, presidente da Comissão dos Episcopados Católicos da União Europeia (Comece), falando no Dia de Estudo e Reflexão intitulado “Existe uma guerra justa? Os valores europeus em tempos de agressão”, realizado em Roma, na Pontifícia Universidade Gregoriana.
A União Europeia nasceu como um projeto de paz
“É de se perguntar - continuou o bispo - se isso não deveria significar uma espécie de mudança na natureza original de uma União Europeia que até agora viu um processo de integração de natureza principalmente econômica e regulatória”, mas “ainda não - e agora mais difícil do que nunca - de natureza política”.
“A União Europeia nasceu como um projeto de paz”, enfatizou dom Crociata. “Ela ainda será assim depois de tudo o que está acontecendo? E o que ela vai querer ou deverá se tornar?”
A paz não é meramente a ausência de guerra
Muitas são as interrogações, observou o presidente dos bispos da UE, que surgem diante das violações que estão ocorrendo em todas as frentes e “são tantas que alguns observadores apontam que se tornou impossível, em muitos casos, distinguir entre guerra e terrorismo”.
“Que paz pode realmente existir, nos perguntamos, quando guerras como as que estão ocorrendo atualmente estão acontecendo?” “E ainda: se a paz não é meramente a ausência de guerra, que paz pode haver sob a ameaça de uma nova guerra? E que paz é essa quando os direitos, a liberdade e a verdade estão sendo conculcados?”.
O Papa, não podemos mais pensar na guerra como solução
Foi nesse ponto que dom Crociata lembrou as palavras da Encíclica “Fratelli tutti”, onde o Papa escreve que “não podemos mais pensar na guerra como solução”. Daí, um apelo: “Devemos recorrer a todos os instrumentos e utilizar todos os recursos culturais e espirituais, políticos e diplomáticos para elaborar iniciativas eficazes, adequadas à gravidade do momento”, disse Crociata.
E acrescentou: “como bispos da Comece, queremos reiterar, a uma União Europeia que está iniciando uma nova etapa em sua história, nosso incentivo para desempenhar um papel ativo na formação e na oferta ao continente e ao mundo de uma visão renovada de estabilidade, justiça e paz”.
A proteção da dignidade humana em tempos de guerra
O Dia de estudo e reflexão teve quatro painéis nos quais foram discutidos temas como o direito de defesa e o Estado de direito em tempos de guerra; a legitimidade da guerra como remédio para ditaduras e crimes contra a humanidade; a proteção da dignidade humana em tempos de guerra; e os processos de construção da paz, ou seja, como garantir uma justiça sustentável após a guerra.
Professores e embaixadores, membros do Parlamento Europeu, da Caritas Europa, da Cruz Vermelha Italiana, do Ordinariato Militar e de outras instituições conduziram as discussões. As conclusões foram confiadas ao professor João Vila-Chã, S.J. (Faculdade de Filosofia, Pontifícia Universidade Gregoriana).
(com Sir)
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