"Continuar com a ǰçã e a educação para a paz", diz bispo sul-coreano, após interrupção das comunicações com o Norte
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A Coreia do Norte vem interrompendo há dias o acesso rodoviário e ferroviário com a Coreia do Sul, a fim de “separar completamente” os dois países. Os militares norte-coreanos disseram que estavam agindo para “isolar e bloquear permanentemente a fronteira sul”, reforçando as fortificações como uma “medida de autodefesa para inibir a guerra”, em resposta às exercitações militares conjuntas entre Coreia do Sul e Estados Unidos em andamento na Peníncula Coreana.
Dentro desse processo, nesta terça-feira, 15, a Coreia do Norte explodiu novos trechos das estradas que cruzam a fronteira entre o duas Coreias ao longo das costas oriental e ocidental da Península Coreana. A ação, de natureza principalmente simbólica, visto que todas as ligações terrestres entre as duas Coreias estão interrompidas há anos - segue-se à acusação por parte da Coreia do Norte de que Seul lançou drones sobre os céus de Pyongyang com o lançamento de panfletos com slogans contra o governo de Kim Jong-un.
O líder da Coreia do Norte convocou ontem uma reunião de alto nível sobre a segurança nacional onde foi discutida a adoção de um plano de "ação militar imediato", em um contexto de tensões crescentes com a Coreia do Sul. Kim" delineou a ação militar imediata e indicou as tarefas importantes a serem realizadas na operação de dissuasão da guerra e no exercício do direito de legítima defesa", informou a agência de notícias oficial "Korean Central News".
Nos últimos dias, o líder norte-coreano havia afirmado que o país acelerará ainda mais os esforços destinados a consolidar o país como uma "superpotência militar dotada de armas atômicas", e reiterou que a doutrina de Pyongyang não exclui o uso de armas atômicas em caso de agressão.
Diminui esperança de reconciliação entre os jovens
Os sinais de fechamento como este – com um valor altamente simbólico – caracterizam um momento histórico em que as tensões entre as Coreias atingiram o nível mais alto dos últimos anos. A sociedade do Sul também parece ter sido afetada e “o desejo de reunificação está diminuindo”, afirma dom Peter Soon-Taick Chung, arcebispo de Seul e administrador apostólico de Pyongyang, em entrevista à Agência Fides, ao analisar o tema da relação Norte-Norte Sul.
“Acredito que muitos jovens do Sul começam a pensar que a reconciliação ou a reunificação não são caminhos viáveis. A esperança está diminuindo”, observa. Por isso, acrescenta, “penso que seja oportuno sonhar, a imagem da convivência em paz e continuar a manter viva a luz da esperança na sociedade coreana, especialmente hoje, no atual impasse, com o bloqueio total da comunicação, a situação é muito sombria." Por isso, acrescenta, “a nossa missão é continuar com a oração e a educação para a paz: a Igreja continua a perguntar-se o que pode e deve ser feito pela paz”. “Aproximamo-nos do Jubileu, que tem como tema a esperança: somos peregrinos de esperança também nas relações com o Norte”, observa.
Fechamento da Coreia do Norte e produção bélica
Já dom Simon Kim Ju-young, bispo de Chuncheon e presidente da Comissão Episcopal para a Reconciliação, observa com amargura que “ambos os lados se olham com certa animosidade e todos os canais estão fechados, também aquele das ajudas humanitárias que no passado era mantido aberto. E embora a opinião pública coreana ainda possa estar bastante dividida sobre as políticas a serem adotadas em relação ao Norte, no que diz respeito à oportunidade de enviar ajuda humanitária à Coreia do Norte, todo o povo coreano está de acordo. Mas a Coreia do Norte mantém todos os canais fechados, também aquele humanitário."
Esta atitude, segundo observadores de política intencional, tem também outra razão: no atual contexto internacional, marcado por guerras também na Europa e no Médio Oriente, o mercado de armas tem registado um aumento e a Coreia do Norte está entre as nações que vendem equipamentos do próprio arsenal bélico. Este setor funciona como uma força motriz para a economia da Coreia do Norte, que é, portanto, menos dependente e menos necessitada de ajuda externa.
Oração para que as portas se abram
Neste momento de fechamento, portanto, "nós rezamos sobretudo para que as portas se abram. Todos os fiéis da Igreja na Coreia unem-se a esta oração. Por exemplo, em algumas dioceses, às nove da noite, os fiéis reúnem-se para pedir a Deus pela reconciliação e pela paz. Em Seul, todas as semanas, celebra-se uma Missa nesta intenção e na minha Diocese de Chuncheon, no dia 25 de cada mês, celebramos uma oração especial”, conta dom Simon Kim Ju-young.
Em todas as dioceses coreanas existe a Comissão diocesana para a reconciliação e unificação do povo coreano, na qual sacerdotes, religiosas e leigos se reúnem "para falar de paz e continuar a sensibilizar as pessoas para a questão da paz, com iniciativas dirigidas aos fiéis católicos mas também aos não católicos”, recorda.
Outra modalidade que é quase “um exercício de acolhimento” é sugerido pelo abade beneditino Blasio Park Hyun-dong, OSB, administrador apostólico da Abadia territorial de Tokwon, na Província de Hamkyongnam, na Coreia do Norte: hoje, o prédio da Abadia de Tokwon é usado como Universidade da Agricultura. Devido à Guerra da Coreia, em 1952 monjas e monges beneditinos fugiram do Norte e fundaram um novo mosteiro em Waegwan, Coreia do Sul e hoje o abade de Waegwan, que também é administrador apostólico da Abadia territorial de Tokwon, diz que “podemos continuar a mostrar solidariedade concreta e acolhimento para com os refugiados que conseguem chegar ao Sul vindos do Norte. Como comunidades religiosas, fazemos o nosso melhor para prestar ajuda a estes refugiados, em todos os níveis. Portanto, mesmo que a reunificação seja ainda distante, isso para nós é uma espécie de preparação para a convivência e serve para manter viva a esperança da reconciliação”.
A esperança de um dia rezarem juntos novamente
Para recordar as relações diretas com o Norte, é necessário recuar no tempo e os bispos recordam que, em dezembro de 2015, a Comissão de Reconciliação da Conferência Episcopal visitou Pyongyang para se encontrar com a comunidade católica local e celebrar uma Missa na Igreja de Changchung. “Naquela ocasião – recorda dom Simon Kim Ju-young, então sacerdote – comunicamos aos fiéis locais que às nove da noite, todos os dias, os católicos sul-coreanos rezavam pela reconciliação. Pedimos a eles para se unirem a esta oração e nos asseguraram que o fariam”. E acrescenta: “Lembro-me dos seus rostos e das suas palavras. Eram pessoas que se confessavam cristãs e no meu coração senti que o diziam com sinceridade de coração e autenticidade do Espírito Santo. Hoje, ouvindo as histórias dos refugiados, mesmo não tendo notícias do além-fronteira, temos a esperança de que lá ainda existam os fiéis em Cristo. Esperamos um dia poder nos reunir e rezar juntos novamente”.
*Com informações de Agência Fides e agências internacionais
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