Para encontrar o Papa, fiéis indonésios irão a Timor-Leste, uma ocasião de reconciliação
por Paolo Affatato
O portão de sua residência, uma casa no centro da cidade de Kupang, está sempre aberto, mesmo à noite. Na porta da casa de Hironimus Pakaenoni, arcebispo metropolita de Kupang desde março de 2024, batem e entram sem nenhuma formalidade sacerdotes, missionários e fiéis que desejam compartilhar uma alegria ou um sofrimento.
Padre Raymond Maurus Ngatu, 31 anos, novo sacerdote indonésio da Congregação dos Missionários dos Santos Apóstolos, vai até lá pedir uma bênção na véspera da celebração de sua primeira Missa em uma paróquia de Kupang, sua cidade natal: depois partirá novamente para uma missão em Pontianak, no Bornéu indonésio. O arcebispo distribui sorrisos e conselhos, concede bênçãos, sobretudo diz uma palavra e um segredo para aquela obra missionária: “Confiar sempre em Deus, não em nós mesmos. Ser instrumentos em suas mãosâ€.
Kupang é o maior centro urbano da parte ocidental da ilha de Timor (a parte indonésia, a outra metade é o Estado independente de Timor Leste, ndr) e é a capital da província indonésia de Nusa Tenggara Oriental. Com mais de 430 mil habitantes, é uma típica cidade portuária asiática, bastante caótica, um burburinho de gente sempre ocupada, local de passagem, entre comerciantes e pescadores que cuidam do tráfego de mercadorias direcionadas para muitas outras ilhas do leste da Indonésia. E a Diocese de Kupang (que acolhe um total de 1,6 milhões de pessoas em todo o seu território) é uma das poucas que na Indonésia – a nação de 17 mil ilhas, o país de maioria muçulmana mais populoso do mundo – inclui uma população de maioria cristã. . A população local é 60% protestante, cerca de 35% católica e apenas 3-4% muçulmana.
O arcebispo “Roni†– como gosta de ser chamado pelos sacerdotes e pelos fiéis – está feliz por ter celebrado recentemente a ordenação diaconal de 14 jovens que “se Deus quiser em breve se tornarão sacerdotes, 12 deles em novembroâ€, diz à Agência Fides em sua residência. “E quatro deles – sublinha – já sabem que serão ‘missionários domésticos’, como chamamos os sacerdotes enviados para prestar serviço noutras dioceses indonésias, onde há necessidade de sacerdotes e religiosos, como em Sumatra, em Kalimantan (Bornéu indonésio) ou na Papua indonésia", afirma, falando com alegria da "solidariedade entre as dioceses indonésias". As 35 paróquias do território de Kupang (e outras 9 capelas que poderão em breve tornar-se uma só), diz o arcebispo, “registram um influxo e uma participação massiva dos fiéis na vida da Igreja e nos sacramentos. A fé está viva, vemos isso especialmente entre os jovens. Vemo-lo das vocações ao sacerdócio que o Senhor para nos dar: no Seminário Menor temos mais de 100 jovens, e no Seminário Maior 90. O Evangelho continua a atrair os jovens", relata, enquanto a Igreja local administra mais de 90 escolas católicas, do ensino fundamental ao ensino médio, graças também à ajuda de 53 congregações religiosas, entre masculinas e femininas, atuantes no território.
Pois bem, esta comunidade, conta o arcebispo, está concebendo uma “via breve†com o objetivo de encontrar o Papa Francisco, que estará na Indonésia de 3 a 6 de setembro e que estará na Ásia e na Oceania de 2 a 13 de setembro, para uma viagem que englobará quatro nações (Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor-Leste, Singapura). “Eles não o verão tanto em Jacarta, a capital, onde o Papa ficará três dias – observa – mas em Díli, em Timor-Leste, do outro lado da fronteira. Segundo as previsões, cerca de 10 mil fiéis , das Dioceses de Kupang e Atambua (outra cidade próxima da fronteira), se deslocará para a outra parte da ilha, para participar da Missa na Esplanada de Tesimolu, em Díliâ€, confirma dom Pakaenoni à Ag. Fides.
É mais fácil chegar a Timor-Leste, a cerca de 10 horas de ônibus de Kupang, do que organizar uma viagem custosa a Jacarta onde, entre outras coisas, a organização convocou cerca de 100 delegados de cada diocese. Os fiéis de Timor Ocidental desfrutam, portanto, de uma oportunidade especial: o Papa Francisco estará na mesma ilha que eles, mesmo que seja na pequena nação vizinha.
“Estamos colaborando com o governo indonésio para ajudar os católicos a participarem na visita do Papa em Díli. Pedimos aos sacerdotes, religiosas e fiéis para se registarem nas paróquias. E a diocese fez um acordo com o escritório de imigração para a concessão de documentos de viagem. Muitos fiéis não têm passaporte e será preparada uma autorização especial para eles, somente para a peregrinação. Ou então os funcionários promoveram um procedimento especial com emissão de passaportes no prazo de três dias, em vez das habituais duas semanasâ€, informa o prelado. Alguns fiéis também sairão das ilhas vizinhas (indonésias) de Rote, Alor e Sabu. Em Díli, capital de Timor-Leste – onde o Papa Francisco estará de 9 a 11 de setembro, depois das escalas na Indonésia e em Papua Nova Guiné – é também esperada a presença de fiéis indonésios. “Há pleno acordo com a Conferência Episcopal de Timor-Leste. Teremos de providenciar o acolhimento, a hospitalidade e o sustento dos peregrinos indonésios. A organização já está trabalhandoâ€, revela o arcebispo.
O Papa Francisco celebrará a Missa no dia 10 de setembro na Esplanada de Tesimolu, nos arredores de Díli, no mesmo local onde São João Paulo II celebrou uma Missa durante a sua visita em 1987, quando Timor-Leste estava sob domínio indonésio. As feridas desse passado foram quase completamente curadas por um caminho de reconciliação, baseado num caminho que é ao mesmo tempo psicológico, de cura de traumas e espiritual. Mas ainda existem marcas e cicatrizes que sangram. Depois de 1999, quando Timor-Leste declarou a sua independência em um referendo sob os auspícios da ONU, houve um período de tensão e confusão, marcado pela violência e massacres por parte de milícias pró-indonésias. Mesmo nos anos seguintes, um fluxo de pessoas deslocadas fugiu de Timor-Leste e foi para Atambua e Kupang, devido às desordens. Os refugiados eram 250 mil pessoas que regressaram gradualmente a Timor-Leste nos anos sucessivos. Naquele momento histórico, a comunidade católica em Kupang aproximou-se dos deslocados com iniciativas de solidariedade, distribuição de alimentos e cuidados de saúde.
Agora, segundo o arcebispo, Deus oferece uma oportunidade a esse doloroso acontecimento: “A presença do Papa poderá confirmar e selar o caminho de reaproximação e reconciliação. A sua é uma visita não somente para os católicos, mas para toda a população. Há de ser dito que entre as Igrejas de Timor Ocidental e de Timor-Leste não há problema e estamos em plena comunhão. Algumas dificuldades e sofrimentos ainda existem em segmentos da população, em famílias que perderam entes queridos na violência e ainda enxergam os algozes do outro lado da fronteira. Eu acredito que a visita do Papa Francisco seja providencial. Poderá ser um momento de graça especial, um kairòs também para a reconciliação entre famílias marcadas pelo luto. Poderá ser um momento de pedido e recebimento de perdão, na fé em Deus que cura as feridas. Vejo que entre as pessoas existe boa vontade e nós, como católicos, podemos ser mediadores e facilitadores neste processo que sabemos ser difícil, pois envolve as emoções e a interioridade. Por isso pedimos a ajuda de Deus e confiamos n'Eleâ€.
*Agência Fides
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