Cardeal Zuppi: não se resignar ao aumento de armas e nem à guerra como caminho de paz
Antonella Palermo - Pope
O presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), cardeal Matteo Zuppi, dedicou um amplo espaço ao grande e atualíssimo tema da paz em discurso de abertura da sessão de primavera do Conselho Permanente que termina nesta quarta-feira, 20 de março, em Roma.
Devemos esperar o irreparável para escolher?
"Devemos esperar o irreparável para compreender e escolher?". Essa é a pergunta crucial e inquieta que o cardeal Zuppi faz e coloca aos bispos italianos, observando também "as consequências das 'não escolhas', dos adiamentos culpados, das oportunidades perdidas. É a própria fraternidade que é colocada em questão", insiste ele, "a possibilidade de viver juntos sem ter que competir ou mesmo eliminar o outro para viver". Diante de um tempo de conflitos, de divisões, de sentimentos nacionalistas, de ódios, de oposições, o serviço da Igreja pela unidade brilha como uma luz de esperança, observa o presidente da Conferência Episcopal Italiana. A exortação é para que cada um se comprometa, em nível pessoal e comunitário, a "ser artífices da paz, tecelões da unidade em todos os contextos, pacíficos nas palavras e no comportamento, admoestados até mesmo a dizer 'louco' ao próximo, a aprender a amar o inimigo e a fazer dele o que ele é novamente: irmão". Que a violação dos direitos elementares das pessoas não se perca "na indiferença ou no hábito".
As palavras de Francisco sobre a paz, longe da ingenuidade
Ele cita a Ucrânia, o cardeal, e enquanto anuncia que um dia de oração, jejum e solidariedade será realizado durante a próxima Assembleia Geral, ele espera que, por exemplo, um amplo acolhimento de férias de verão seja organizado para crianças órfãs ou vítimas da catástrofe que é a guerra. Em seguida, ele observa com amargura que "estamos vivendo uma Sexta-feira Santa muito longa" e faz questão de salientar que "as palavras do Santo Padre sobre a paz estão longe de ser ingenuidade. É um compartilhamento doloroso e dramático de uma dor que nunca seremos capazes de medir". Ele se concentra na empatia e na piedade que, segundo ele, "prevalecem sobre tudo, sobre qualquer avaliação, por mais indispensável que seja, dos agressores e dos atacados, do certo e do errado. A vida vem em primeiro lugar. A Igreja é uma mãe e vive a guerra como uma mãe para quem o valor da vida é superior ao raciocínio ou aos lados que estão longe disso".
Votação da UE: triunfe o senso de responsabilidade supranacional
O cardeal Zuppi analisa a votação europeia de junho. Ele convida a compartilhar o apelo dos bispos europeus, esperando que os deputados escolham com responsabilidade e que o direito e o senso de responsabilidade supranacional triunfem. "A história exige que encontremos uma nova estrutura, um paradigma diferente, envolvendo a comunidade internacional para encontrar uma paz justa e segura junto com as partes envolvidas. É precisamente nessa frente que os Estados e os povos europeus, as próprias instituições da União Europeia, devem redescobrir sua vocação original, imbuindo as relações internacionais de cooperação por meio de - aqui cita Schuman na Declaração de 9 de maio de 1950 - realizações concretas que, antes de tudo, criam uma solidariedade de fato".
Caminho sinodal, entre resistências e o desejo de envolvimento
Relembrando a história bíblica de José e seus irmãos - não desprovida de ingenuidade e astúcia, sonhos e decepções, inocência e violência - o presidente da Conferência Episcopal Italiana também nos exorta a sair do individualismo generalizado. "Há necessidade do nós, da comunidade, de lugares de verdadeiro relacionamento entre as pessoas, daquela aliança que se torna amizade", enfatiza. Em seguida, o discurso enfatiza o caminho sinodal à luz da leitura dos materiais recebidos das dioceses italianas, que, observa Zuppi, revelaram entusiasmo, energia, paciência, vontade, escuta, mas também dificuldades, desilusão, a tentação de se contentar em definir, medos, indiferença e resistência para iniciar tal processo. "Se por um lado", explica ele, "percebemos uma crise na participação na vida comunitária, por outro lado queremos um lugar familiar onde possamos nos envolver. Na primeira fase do Caminho, aprendemos que, quando ouvem, os cristãos se tornam hospitaleiros".
Sinodalidade é fraternidade
Nas palavras do presidente Zuppi, há um anseio por uma Igreja que esteja aberta ao diálogo, em vez de uma Igreja que se fecha ao se sentir sitiada. "Percebe-se uma fraqueza que parece investir questões como o lugar dos pobres dentro da Igreja e a valorização de sua contribuição, o diálogo com a cultura, as relações ecumênicas e inter-religiosas, a interlocução com os mundos da economia, das profissões, da política, mas também a contribuição da vida consagrada", relata. E então ele especifica o que a sinodalidade deve ser: deve significar maneiras concretas e formas de vida comum, simples, verdadeiras, exigentes e muito humanas, pessoais e comunitárias, de modo que a Igreja seja comunidade, serviço, relacionamento, amor pela Palavra e pelos pobres, um lugar de paz e encontro. "A sinodalidade" - especifica - "deve ser acompanhada pelo frescor da fraternidade, vivida mais do que interpretada, oferecida mais do que teorizada, na vida e não em um laboratório, capaz de revisitar e animar os nossos ambientes. Fraternidade não virtual, simbólica, mas real".
Reconstruindo a confiança na Igreja, em comunhão com o Papa
Com relação à questão que parece estar emergindo de vários setores sobre a diminuição da relevância e da consistência da Igreja, o cardeal admite que "o debate não nos assusta. O importante é que seja feito em diálogo, entre muitos cristãos, de maneira popular como aconteceu "e não em polêmicas digitais, estéreis e polarizadas por conveniência". Ele convida a não olhar para trás com nostalgia para uma suposta idade de ouro: aquela antes do Concílio para alguns, depois do Vaticano II para outros. "Precisamos recompor um clima de confiança e esperança em nossa Igreja, libertar-nos da amargura e fazer dela um compromisso, um projeto, uma experiência", exorta em conclusão, sem esquecer que é necessário fazê-lo "em plena comunhão com Pedro, a ser defendido e amado sempre".
Idosos e jovens, uma emergência
Zuppi expressa preocupação com a resiliência do sistema do país, especialmente com as áreas que vêm lutando contra a crise econômica e social, com o despovoamento e a falta de serviços há algum tempo. Como líder dos bispos italianos, ele garante vigilância máxima e constante nessa área. "Que não falte uma estrutura institucional que possa promover o desenvolvimento unitário", ele apela, "de acordo com os princípios de solidariedade, subsidiariedade e coesão social". Sua proximidade com a condição dos idosos, definida como uma verdadeira "emergência", e dos jovens é total. É justamente sobre os jovens que serão dedicadas abundantes reflexões nestes dias de trabalho, com base nos dados da pesquisa realizada sobre o universo juvenil pelo Instituto Toniolo. Para os idosos, "é necessário continuar a trabalhar - sociedade civil, órgãos eclesiais e instituições - para concretizar a reforma delineada na Lei Delega de março de 2023 e não trair as expectativas dos indivíduos, famílias e operadores".
Fim de vida: mais cuidados paliativos sem discriminação
Reiterando que todo sofredor deve sempre ser acompanhado por cuidados, o cardeal espera que os cuidados paliativos, "regulamentados por uma boa lei, mas ainda desconsiderados, sejam aumentados e disponibilizados a todos sem qualquer abordagem discricionária em uma base regional", porque representam uma maneira concreta de garantir a dignidade até o fim, bem como uma alta expressão de amor ao próximo. Além disso, "a aplicação integral da lei sobre as disposições relativas ao tratamento avançado é uma garantia adicional de dignidade", conclui, "e de uma aliança para proteger a pessoa em seu sofrimento e fragilidade".
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