Cardeal Tempesta: Fraternidade e amizade Social
Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist. - Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Na Quarta-Feira de Cinzas, dia 14 de fevereiro de 2024, inicia-se o santo tempo da Quaresma em preparação à Páscoa do Senhor. Como é de costume a Igreja no Brasil realiza durante a Quaresma a Campanha da Fraternidade. A Campanha da Fraternidade é uma proposta para que todos os fiéis vivam de maneira mais concreta esse tempo quaresmal.
A Campanha da Fraternidade tem sempre um cunho social e é uma proposta da Igreja para que todos possam viver bem as práticas espirituais desse tempo quaresmal que são: penitência, oração e caridade (esmola). Através da Campanha da Fraternidade somos convidados a olhar a necessidade do próximo e estender-lhe a mão. A Campanha da Fraternidade tem seu início na Quaresma, mas o tema não deve durar somente no tempo quaresmal, pelo contrário deve durar o ano inteiro, o que a Campanha sugere é que a partir da Quaresma comece a nossa mudança de atitude, em relação ao próximo, ao planeta, e ao meio em que vivemos.
Ao longo dos anos alguns temas escolhidos para a Campanha da Fraternidade se destacam, como por exemplo: água, Amazônia, tráfico humano, Igreja e sociedade, e casa comum. Alguns temas como a água ocorreram mais de uma vez, devido a importância do tema.
O tema escolhido para a Campanha desse ano é: Fraternidade e amizade social e o lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs†(Mt 23,8). Esse tema é bem propício para o atual momento em que vivemos mundialmente com suas guerras, fora a violência urbana em nossas cidades cada vez mais evidente e frequentes. A construção da paz depende de cada um de nós, amando o nosso semelhante, procurando viver bem e respeitando o próximo. A partir desse tema da Campanha da Fraternidade somos convidados a rezar pela paz.
Somos irmãos e irmãs uns dos outros por meio do batismo, por isso devemos amar e respeitar o próximo. Amar e respeitar o próximo é uma forma de exercermos a caridade proposta para esse tempo quaresmal. Se não amamos o próximo suficientemente não vivemos de fato a nossa religião e o mandamento do amor. Sabemos que às vezes é difícil, mas temos que exercer a virtude da paciência e conviver bem com o próximo. Temos que saber perdoar se o próximo errou conosco, saber escutar, e resolver qualquer situação na base do diálogo e não da violência.
O mundo já está bastante violento, se nós que somos cristãos católicos não soubermos resolver as nossas questões, quem saberá resolver? Nós temos que, antes de tudo, dar o exemplo e não resolver nada na base da violência, mas sim, no respeito e diálogo mútuo. Temos que dar o exemplo aos outros, para ver se a partir do nosso exemplo a situação mundial muda.
A partir do tema da Campanha da Fraternidade deste ano, somos convidados a acolher aqueles que são diferentes de nós, ou seja, acolher aquele irmão ou irmã que tem algum tipo de deficiência, idosos, crianças e aqueles que tem um pensamento diferente do nosso. Sabendo acolher aquele que tem um pensamento diferente do nosso poderemos edificar o caminho da paz. Este tema inspirado no documento do Papa “Fratelli Tutti†nos questiona muito. Todos somos irmãos e, se vivemos nesse mundo, temos que aceitar e tratar bem uns aos outros. Não podemos abandonar os idosos e tratá-los mal, mas temos que cuidar dos idosos até o fim de suas vidas. Temos que cuidar das crianças educando-as no caminho do bem e ensinando os preceitos da fé, é das crianças que brotará o futuro da humanidade. Estamos num mundo em que o que mais falta é o diálogo, ao invés de dialogar, muitos partem para a guerra. Muitas nações brigam até mesmo por religião e fazem guerras em nome da religião. Meus irmãos, que a nossa atitude possa ser diferente e ao invés de brigar com aqueles que tem religião diferente de nós possamos nos abrir ao diálogo. Que todos sejam um como diz Jesus, e somente o diálogo pode construir a paz como diz o amado Papa Francisco.
Sempre é bom recordar que a Campanha da Fraternidade nasceu por inspiração de meu venerável predecessor, o Cardeal Eugenio Araujo Salles, quando era Administrador Apostólico de Natal. Depois ela foi assumida em nível nacional pela CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
A Campanha da Fraternidade deste ano de 2024 tem por objetivo aprofundar a fraternidade entre todos, contrapondo o ódio, guerras e a indiferença que tem marcado a sociedade brasileira e o mundo. O tempo da Quaresma é um caminho penitencial e nos propõe a conversão e a mudança de vida, por isso, somos convidados a nos converter acolhendo aquele que pensa diferente de nós e colocando em prática a vontade de Deus, de que todos sejamos irmãos e irmãs.
Uma das expressões mais deprimentes de ódio são aquelas das “fake News†nas mídias em geral que, infelizmente, tentam destruir quem ousa pensar diferente.
Vivamos intensamente a campanha da fraternidade 2024 e que o tema não dure apenas os quarenta dias da quaresma, mas perdure o ano inteiro. Que possa despertar em cada um o espírito de solidariedade e fraternidade e olhar com amor para o próximo. Lembremos sempre, acolhendo um irmão ou uma irmã que vem até nós, estaremos acolhendo o próprio Cristo.
Uma Santa Quaresma e boa campanha da fraternidade para todos!
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