Papua Nova Guiné: após saques, população começa a devolver bens roubados
“Neste dias se assiste a um fenômeno interessante e significativo: as pessoas que participaram nos saques dos últimos dias em Port Moresby estão restituindo o que roubaram. Os apelos da polícia e também de alguns sacerdotes estão produzindo um certo efeito. Algumas paróquias de igrejas cristãs de diversas denominações se envolveram e disseram: nossas portas estão abertas para quem quiser restituir os bens roubados. É uma espécie de arrependimento coletivo, que apela à consciência cristã de cada cidadão. Devo dizer que alguma coisa acontece, é um sinal de esperança, um sinal de que a consciência individual é, de alguma forma, iluminada pela fé”.
A consideração é do Pe. Victor Roche SVD, missionário indiano Verbita, em Papua Nova Guiné desde 1981, hoje Diretor Nacional das Pontifícias Obras Missionárias (POM), ao falar à Agência Fides sobre a violência e os saques ocorridos nos últimos dias no país da Oceania que deixou um saldo de 15 mortos. Várias lojas foram incendiadas.
O missionário relata que “a situação já se acalmou, visto que o governo declarou o estado de emergência e o exército está patrulhando as ruas". Os protestos foram convocados pela polícia após o corte repentino e inesperado de seus salários. Algumas pessoas, especialmente aquelas pobres, desesperadas, mas também pessoas envolvidas em gangues criminosas, aproveitaram a oportunidade e começarem a saquear, sem serem perturbadas.
"Logo o fenômeno se espalhou - conta o missionário - envolvendo legiões de jovens, especialmente as pessoas em dificuldade, os pobres e os desempregados. A polícia não interveio e quis enviar uma mensagem ao governo como: sem a nossa presença e ação não há segurança e o país é vítima da turbulência social. Assim, o governo prometeu resolver o problema, rever os contracheques e restituir o dinheiro. Os agentes já têm salários muito baixos, então aquele corte foi insuportável para eles”.
Padre Roche salienta ainda que, na base do que se constatou, “há um profundo mal-estar social, há desconfiança no governo devido à corrupção, há bolsões de pobreza e desemprego, especialmente para os jovens”.
O Diretor Nacional das POM, atualmente envolvido em um seminário de formação dedicado a cerca de 80 jovens universitários de diversas universidades e regiões da Papua Nova Guiné, comenta que “a Igreja Católica, uma instituição importante no país, bem como as demais Igrejas cristãs, também procuram dar um contributo neste sentido, acompanhando os jovens no seu crescimento pessoal, no desenvolvimento dos seus talentos e competências, especialmente por meio de obras sociais, e com empenho no campo da educação. Por exemplo, em muitas dioceses, crianças de rua são resgatadas e acolhidas e colocandas em cursos escolares. Há também bolsas para estudantes do ensino médio e universitário, oferecidas pelas Igrejas, destinadas a jovens de comunidades pobres e famílias necessitadas. O compromisso das instituições eclesiais no campo da educação é crucial para tentar dar um futuro aos jovens. É o serviço que prestamos, é uma forma de anunciar a fé em Cristo. E o fato de que hoje, depois da violência e do roubo, exista um processo de restituição dos bens roubados, significa que a fé ainda diz algo à consciência e à vida das pessoas deste país”.
Papua Nova Guiné, com aproximadamente sete milhões de habitantes, é um país que se inspira no cristianismo, como está escrito no preâmbulo da Constituição. 95% dos papuas professam a fé cristã. Os cristãos são principalmente protestantes (64%, a maior parte luteranos), os católicos são cerca de 26% e 5% pertencem a outras denominações.
*Com Agência Fides
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