Dos católicos sul-coreanos, ǰçã e votos de paz aos compatriotas do Norte
No ano do 70º aniversário do armistício que pôs fim à Guerra da Coreia (1950- 1953), o arcebispo de Seul e administrador apostólico de Pyongyang, Peter Soon-taick Chung, na mensagem de Natal divulgada aos fiéis, faz votos de que "a alegria do Natal possa encher o mundo inteiro, levando esperança e força especialmente às populações das nações atingidos pelo medo e pela ameaça de guerra, incluindo os nossos compatriotas do Norte, e a todos aqueles da nossa sociedade que são pobres, marginalizados e necessitam de conforto."
Assim, a Igreja na Coreia do Sul expressa o desejo de que o Natal de 2023, ano em que se recorda o fim da guerra, se torne uma oportunidade para chegar a um verdadeiro tratado de paz, que substitua aquele acordo, ainda tecnicamente em vigor, de mera pausa no conflito.
Após a Segunda Guerra Mundial, a Coreia foi dividida em duas partes: o Sul democrático garantiu o apoio do Ocidente, enquanto os comunistas assumiram o controle da Coreia do Norte com o apoio da China e da Rússia. A guerra fratricida entre o Norte e o Sul eclodiu em 1950 e, em 1953, os comandantes militares dos Estados Unidos, da Coreia do Norte e da China assinaram um acordo de armistício que previa a "cessação completa das hostilidades e de todos os atos de força armada até que se chegasse a uma solução pacífica final".
O referido Acordo continua a ser o único mecanismo juridicamente vinculativo que mantém a paz, embora precária, na península. As Coreias do Norte e do Sul reconfirmaram a sua validade no âmbito do pacto assinado em 1991, conhecido como “Acordo de Base”, que confirmava a não agressão, o intercâmbio e a cooperação mútua. Contudo, em 70 anos, todos os esforços para substituir o armistício temporário por um verdadeiro acordo de paz na península falharam.
Nesta situação, os católicos na Coreia do Sul têm trabalhado intensamente ao longo de décadas para superar os conflitos do passado e almejar uma paz duradoura: em particular o "Comitê de Reconciliação" da Arquidiocese de Seul, com o objetivo de "construir um futuro partilhado de coexistência e prosperidade", e buscando "soluções inovadoras", reitera "o compromisso da Igreja Católica como mediadora e promotora da reconciliação, com o objetivo de alcançar a paz na península coreana".
O movimento para superar a lógica do armistício também encontra amplo apoio de outras Igrejas Cristãs: o rev. Hong-Jung Lee, pastor protestante coreano, ex-secretário geral do Conselho Nacional de Igrejas na Coreia, um órgão ecumênico, observa que “a abordagem da paz e da justiça na península coreana é baseada em um trabalho de cura e reconciliação”. A consciência da interdependência e um caminho de “esvaziamento de si” são “pilares espirituais para sustentar este trabalho”, observa. “Cura e reconciliação são o cerne da vida de Deus e do ministério de cada batizado. Sem um processo contínuo de cura e reconciliação, não haverá integração entre justiça e paz”, afirma Lee.
O pastor recordou a importância dos encontros “face a face” entre cristãos da Coreia do Norte e do Sul, realizados no passado durante eventos ecumênicos internacionais, por meio do Conselho Mundial de Igrejas, e disse que teve várias oportunidades de encontrar os líderes de a Federação Cristã Coreana (KCF), um órgão norte-coreano.
Segundo Lee, “se olharmos para a história do povo coreano a partir da perspectiva da ação salvadora de Deus no mundo - que é a perspectiva do Natal - a divisão da península coreana não é o fim da história do povo coreano A divisão, argumenta ele, é, em vez disso, “um deserto criado pelo homem, uma violação da vontade de Deus. O caminho da cura, da reconciliação, da justiça e da paz levará a uma reunificação cheia de vida para a nação coreana”. Nessa perspectiva, Lee defende a substituição do armistício estabelecido em 1953 por "um tratado de paz, que supere a divisão e a mentalidade da Guerra Fria, abrindo caminho para a estabilidade e a fraternidade".
As Igrejas Cristãs, conclui o rev. Lee, são chamadoa a realizar ações de “linha de frente” para promover a paz na Península Coreana: movimentos ecumênicos de oração, reuniões e seminários de educação para a paz, promoção dos direitos humanos, iniciativas para aumentar a conscientização sobre a desmilitarização e o desarmamento nuclear, caridade, cooperação e desenvolvimento para a população pobre do Norte.
O no passado dia 16 de setembro no Vaticano, dirigiu-se a eles, convidando-os a “redescobrir a vossa vocação de apóstolos da paz em todos os âmbitos da vida” e a ser “testemunhas de reconciliação”, porque “o o futuro se constrói não com a força violenta das armas, mas com a força suave da proximidade”.
*Agência Fides
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