"Agrofloresta Papa Francisco": testemunho de cuidado ao meio ambiente na periferia de Curitiba
Andressa Collet - Pope
A Irmã Anete Giordani é só louvor a Deus e gratidão a todos que ajudaram a construir a missão pensada e desenvolvida em Curitiba, no Paraná, lá na década de 80 por três religiosas e um grupo de leigos, o que ela descreve como uma "grande rede de misericórdia". De um "trabalho simples e generoso, mas sensível ao sofrimento das pessoas que moravam nas periferias", o cresceu na Vila Sabará, no bairro Cidade Industrial (CIC) - o mais violento da capital paranaense. A instituição viveu grandes embates na sua história de 40 anos, mas principalmente ajudou a cuidar de muitas vidas, com voluntários sempre movidos pelo amor e pela solidariedade.
Gestora do CASDM desde a década de 90, Irmã Anete celebra os "muitos e bons frutos" dados por esta árvore regada diariamente por muitas mãos e por corações inspirados na Bem-aventurada Madre Clélia Merloni, fundadora das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, e também no Papa Francisco:
"O que tem nos dado muita luz nesses últimos anos é realmente a presença e o testemunho e também as palavras do nosso querido Papa Francisco. O seu amor a Deus e ao ser humano e à casa comum, nos inspiram a sermos e a fazermos melhor e com mais esperança. Uma palavra muito forte do Papa Francisco que está na nos impulsiona, quando ele disse que nós precisamos ser sempre mais uma Igreja em saída. A frase é forte que ele coloca na exortação apostólica: 'prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças'. Nós queremos ser obedientes a esta palavra do Papa Francisco."
Agrofloresta "Papa Francisco"
Tanto de homenageá-lo dentro da própria organização em 2021, quando a agrofloresta foi batizada com o seu nome: "Agrofloresta Papa Francisco". Um mutirão de 50 pessoas provenientes de movimentos, entidades e grupos de voluntariado construíram o espaço a partir de 10.600 mudas de legumes, verduras e temperos, além de 200 mudas de árvores frutíferas e nativas plantadas em uma área de 3 mil metros. O local faz parte do Centro de Integração Social Divina Misericória (CISDIMI), mantido pelo CASDM, e faz parte da realização de um sonho cultivado há 15 anos para ajudar crianças, adolescentes e idosos a resgatar o amor pelo planeta e a valorização da vida.
A colheita de verduras e legumes já está dando para abastecer as 4 unidades da instituição que atende mais de 200 idoso e 250 crianças e adolescentes, além de poder inclusive vender para ajudar no pagamento das despesas da instituição e na compra de mais mudas. Tudo iluminado pela , como diariamente recorda a todos a frase gravada na placa de inauguração da "Agrofloresta Papa Francisco": ¡°por ¡®ouvir o clamor da terra e o clamor dos povos¡¯, cuidamos da casa comum¡±. E a Irmã Emily Luci Buch, coordenadora geral, justifica ainda mais a escolha do nome da agrofloresta:
¡°Por que Papa Francisco? Porque temos uma admiração e um amor enorme pelo Papa Francisco, ele é realmente um enviado de Deus, é inspirado pelo Espírito pra este momento que a Igreja está passando e está vivendo. E, desde que ele lançou a Laudato si¡¯, nós entendemos assim que os ensinamentos dele, em relação a todas as questões ambientais, toda crise socioambiental que o planeta está passando, é de uma inspiração do Espírito Santo para nós hoje. Então, em homenagem ao Papa Francisco, a toda a sua luta e aos seus ensinamentos não só à Igreja Católica, mas a toda a humanidade para esse cuidado com a casa comum, então nós resolvemos homenagear uma pessoa significativa: na hora nos veio, ¡®ah! A nossa agrofloresta vai se chamar Papa Francisco.¡±
O Centro de Assistência Social Divina Misericórdia
A agrofloresta é apenas uma das tantas iniciativas do Centro de Assistência Social Divina Misericórdia em Curitiba que tem 4 unidades: o Centro Juvenil Madre Clélia (CJMC), sede da entidade e onde há produção de alimentos e aulas de informática; o Centro de Convivência para Pessoas Idosas Divina Misericórdia (CECOPI) que atende 150 pessoas para atividades desde canto e dança até inclusão digital; o Centro de Integração Social Divina Misericórdia (CISDIMI) que recebe cerca de 200 crianças e adolescentes para acompanhamento pedagógico e atividades artísticas e esportivas; e o Centro Intergeracional Divina Misericórdia (CEIDM) que atende até 100 crianças e 100 idosos com projeto semelhante às outras unidades dando ênfase a ações intergeracionais.
Uma "grande rede de misericórdia", direcionada "ao trabalho de promoção humana e social e não de puro assistencialismo", recorda Ir. Emily, que vem cumprindo seu papel numa das regiões mais violentas de Curitiba, prestando serviços na área da assistência social e da educação, particularmente ao público infanto-juvenil e às pessoas idosas. Os projetos são desenvolvidos através do lema inspirador do exemplo de Jesus que ¡°crescia em estatura, sabedoria e graça¡± (Lc 2,52). Desde a fundação, a instituição procura pautar as ações nos valores do Evangelho, como fez a própria Irmã Anete ao ter que administrar uma situação que acabou fundando uma das unidades, como lembra Ir. Emily:
"Até que um dia a Irmã foi chamada num final de semana porque tinha umas crianças aqui dentro da unidade quebrando tudo. E ela veio e pegou a criançada no flagrante com tudo rasgado, quebrado aqui dentro. Ela segurou a piazada aqui e chamou o Conselho Tutelar que chamou os pais de todos eles para resolver a situação. E, na conversa com a criançada, eles disseram que estavam brincando no clubinho deles. E a irmã Anete, que é muito carismática e muito atenta aos sinais dos tempos, percebeu nessa atitude rebelde das crianças um grito delas por socorro, de uma juventude, de uma infância abandonada à própria sorte, sem um lugar seguro para brincar, sem orientação, sem escola, sem onde pudessem se divertir e crescer em estatura, sabedoria e graça - que é uma das uma das frases que orienta o nosso trabalho junto às crianças.¡±
Outro espaço, como sempre recorda Ir. Emily ao citar as histórias vividas em primeira pessoa pela Irmã Anete, foi criado para atender necessidades esportivas na Vila Sabará - local de muita violência, tráfico de drogas e briga entre gangues.
¡°Na frente da casa das irmãs tinha um campinho de areia e eles estavam jogando bola. Ela pegou uma bola e foi lá com eles pedindo se poderia jogar junto com eles. Acharam meio estranho no início, mas deixaram a irmã jogar com eles. E ela foi organizando times e a cada semana vinha mais menino e foi ali o início da Escola de Futebol e Cidadania Sabará que ela organizou na instituição e foi só crescendo.¡±
Irmã Anete, assim, pediu ajuda de seminaristas para os treinos, depois precisou contratar treinador e, graças a esse empenho e ao apoio de muita gente, hoje o Centro de Integração Social Divina Misericórdia (CISDIMI) é uma realidade e a maior unidade da instituição. Atualmente o espaço não atua só com futebol, mas atende mais de 200 crianças e adolescentes que frequentam várias modalidades esportivas, de cultura e lazer com o intuito de fortalecer vínculos para mantê-los afastados de coisas ruins, que prejudicam a vida e tiram oportunidades de crescimento no bem, na saúde, na virtude.
A acolhida aos idosos
Uma outra unidade, o Centro de Convivência para Pessoas Idoas Divina Misericórdia (CECOPI), atende 150 pessoas na prevenção a situações de isolamento e de depressão, por exemplo, oportunizando um envelhecimento saudável.
¡°E isso tem feito um bem enorme para os idosos que frequentam. Eles consideram ali a segunda família deles. Tem sido muito acertada essa nossa decisão de trabalhar com uma pessoa idosa e isso evita também situações de institucionalização, porque o idoso se mantém ativo e autônomo por mais tempo e, assim, não precisa ser acolhido numa Casa Lar ou numa instituição de longa permanência.¡±
Já o Centro Intergeracional Divina Misericórida (CEIDM) atende na mesma unidade desde crianças de 4 a 10 anos a pessoas idosas, concretizando o desejo do Papa Francisco quando afirmou que "a aliança das pessoas idosas e das crianças salvará a família humana. Onde as crianças, onde os jovens falam com os velhos, há um futuro". E a Ir. Emily finalizou:
¡°E convivência entre crianças e pessoas idosas, como o Papa Francisco fala, é maravilhosa. A gente só tem depoimentos assim que nos encantam e emocionam sempre. Porque os idosos acolhem as crianças, as crianças adotam os idosos como seus avós e uns aprendem com os outros todos os dias.¡±
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