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Cardeal Scherer: Lembrando Dom Cláudio

Há um ano de seu falecimento, permanece a lembrança de sua pessoa e seu trabalho para o Reino de Deus.

Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo

Há um ano, no dia 4 de julho de 2022, falecia o cardeal Cláudio Hummes, 6º arcebispo de São Paulo, em sua casa no Bosque da Saúde, após suportar por anos, em silêncio, uma enfermidade que, por fim, lhe tomou as forças e a vida. Com quase 88 anos de idade, ainda tinha planos e sonhos, aos quais se dedicava com todas as suas energias. Enquanto foi possível, fez os tratamentos necessários, mas quando teve a consciência da real situação de seu mal, ele se resignou e aceitou a aproximação do final da vida com exemplar atitude de fé e esperança.

Dom Cláudio, membro da Ordem Franciscana dos Frades Menores, teve uma vida muito dinâmica, condizente com sua personalidade forte e empreendedora. Ainda jovem frade, com aprimorada formação filosófica, ele foi professor e formador de outros religiosos; em seguida, foi ministro provincial de sua Ordem no Rio Grande do Sul, até que São Paulo VI o nomeou bispo coadjutor da diocese de Santo André, no ABC paulista. Pouco tempo depois, ele assumiu, como bispo diocesano, a plena responsabilidade pela condução daquela Igreja Particular no período difícil do regime militar, das lutas operárias e da busca pela redemocratização do País.

Nos anos 1990, São João Paulo II o nomeou arcebispo de Fortaleza, para suceder a outro arcebispo franciscano à frente daquela arquidiocese, o cardeal Aloísio Lorscheider. Ficou lá menos de 4 anos e, em 1998, o mesmo Papa o encarregou da arquidiocese de São Paulo, sucedendo mais uma vez a um arcebispo franciscano, o cardeal Paulo Evaristo Arns. Em São Paulo, Dom Cláudio ficou até 2006 e, então, o Papa Bento XVI o chamou para ser seu colaborador próximo em Roma, encarregando-o de cuidar do Dicastério para o Clero. Ao atingir 75 anos de idade, ele apresentou ao Papa a renúncia ao seu encargo e, em 2011, retornou a São Paulo, pois ainda tinha sonhos por realizar.

De fato, como ele mesmo revelou, na juventude alimentou o desejo de ser missionário na Amazônia. Sem saber disso, a CNBB lhe confiou o encargo de acompanhar a Comissão Episcopal para a Amazônia, que ele abraçou com entusiasmo quase juvenil, visitando as dioceses e prelazias da vasta região amazônica e conhecendo de perto as diversas situações vividas lá pelo povo e pela Igreja. Incentivou e buscou ajudas e apoios especiais àquela região e promoveu de maneira entusiasta a convocação do sínodo especial da Igreja para a Amazônia pelo Papa Francisco. A realização do sínodo teve como fruto a criação da Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama), um organismo eclesial novo, de configuração supranacional, que se está configurando concretamente, aos poucos.

Enquanto esteve à frente da arquidiocese de São Paulo, promoveu o Seminário da Caridade na cidade, para levantar e chamar a atenção para as questões sociais que deveriam merecer maior atenção da Igreja e do poder público. Ao mesmo tempo, foi feito um levantamento sobre a enorme quantidade de iniciativas já existentes de caridade social, para as apoiar e acompanhar. Num período de grave crise de trabalho, teve particular atenção pelos trabalhadores desempregados.

Dom Cláudio também foi promotor da renovação missionária na Igreja, repetindo muitas vezes que a Igreja não pode fazer missão apenas esporadicamente, mas deve estar “em estado permanente de missão”. Alertava para os equívocos de uma Igreja preocupada apenas com a conservação e manutenção. Sua presença e influência na V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, em Aparecida (2007), também foi significativa. Ele esteve ao lado do Cardeal Mário Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, que seria, depois, o Papa Francisco, na Comissão de redação do texto da Conferência, no qual transparecem várias das preocupações e propostas típicas do pastoreio episcopal do cardeal Hummes.

Dom Cláudio, homem idealista e de fortes convicções, tinha a capacidade de romper fronteiras e abrir caminhos. Seu discernimento e dinamismo pastoral tiveram amplo eco na Igreja e o Papa Francisco o teve como amigo e conselheiro próximo, revelando publicamente que até a escolha do nome pontifício “Francisco” teria sido influenciada por Dom Cláudio. Após a eleição, Dom Cláudio lhe teria recomendado, como os apóstolos a São Paulo, que não se esquecesse dos pobres (cf. Gl 2,10).

Há um ano de seu falecimento, permanece a lembrança de sua pessoa e seu trabalho para o Reino de Deus. Foram muitas as sementes por ele lançadas no campo da Igreja, que ainda darão frutos a seu tempo. Resta nossa gratidão a Deus pelo pastoreio de Dom Cláudio e o dever de nossa oração para que Deus o recompense com a vida eterna.

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07 julho 2023, 10:20