O Corpus Christi e a Eucaristia como fonte ¨¢pice da vida crista
Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá ¨C PA
O Corpus Christi, o Corpo de Cristo é a grande manifestação pública da eucaristia. É a fé na presença no pão e no vinho consagrados sendo o corpo e o sangue de Cristo que caminha pelas ruas das cidades, vilas, nas comunidades dos campos, das florestas., concedendo-lhes as bênçãos divinas pela passagem do santíssimo sacramento.
O Concílio Vaticano II afirmou que a eucaristia é fonte e ápice da vida cristã (LG 11), porque ela norteia toda a vida sacramental e a sua relação com a família, comunidade e sociedade. Ela alimenta os seguidores e as seguidoras de Jesus Cristo, da Igreja em vista de uma atuação melhor no mundo e para a glória de Deus Uno e Trino. Jesus Cristo fez diversas ceias em sua vida como o grande evangelizador do Pai. No entanto uma permaneceu para sempre, que foi a última ceia, onde ele disse aos seus discípulos para que tomassem de seu corpo através do pão e tomassem do cálice com vinho, através de seu sangue (Mt 26,26-29). Jesus ficou com o seu povo para sempre: ¡°Fazei isto em memória de mim¡± (Lc 22,19). É muito importante uma vida de unidade e de amor conforme a eucaristia que se recebe na família, na comunidade e na sociedade. A eucaristia prepara as pessoas para a vida divina, pois a comunhão realizada ajuda a viver bem neste mundo, estando ao lado das pessoas, sobretudo das mais necessitadas e um dia na eternidade. Uma visão será dada a partir dos padres da Igreja, os primeiros escritores cristãos.
A eucaristia celebrada na Comunidade
A Didaqué, escrito no século I afirmou a importância da celebração eucarística para o bem das pessoas e do Senhor Jesus na comunidade. Era preciso dizer sobre o cálice o agradecimento a Deus Pai por causa da vinha do servo Davi, que foi revelada por meio do seu Servo Jesus. A ele, a glória para sempre. Em relação ao pão partido o ministro dizia um agradecimento a Deus Pai por causa da vida e do conhecimento que revelou por meio do seu Servo Jesus. A ele a glória para sempre. Na mesma forma como o pão partido semeado sobre as colinas, e depois foi recolhido para se tornar um, da mesma forma a Igreja está reunida desde os confins da terra no seu reino, por meio de Jesus Cristo, para sempre[1]. A eucaristia visa a unidade das pessoas e com o Senhor Jesus.
O culto agradável a Deus
A Carta de Barnabé, escrito do século II afirmou a palavra da Escritura, sobretudo dos profetas, que Deus não tem necessidade de sacrifícios, nem de holocaustos e nem de ofertas. O Senhor está farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de cordeiros e também não quer o sangue de touros e de bodes, para que assim não se apresentem essas coisas diante dele (Is 1,11-15). O Senhor não pediu que ao saírem do Egito oferecessem holocaustos (Jr 7,22-23). O culto que agrada a Deus é um coração contrito; de conversão, de volta para Deus e para as pessoas. O perfume de suave odor para o Senhor é o coração que glorifica o Criador (Sl 51,17) [2]. O Senhor se compraz das pessoas que o amam acima de tudo e amam os necessitados, os pobres.
A eucaristia tinha o sentido de agradecimento, ação de graças. As pessoas agradeciam após a comunhão elevando ao Senhor um louvor pela comida e bebida espirituais em vista da vida eterna. A oração era dirigida também para a Igreja em vista da sua unidade e da sua santificação[3].
A eucaristia anunciou a nova Páscoa.
São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, séculos IV e V afirmou que Jesus celebrou a Páscoa na Nova Aliança assumida por ele, mostrando a nova realidade sobre o seu mesmo altar de imolação e de vida que se daria na cruz. Ele tomou o pão e depois tomou o vinho, tornando-se o seu corpo e o seu sangue. Cristo, nossa Páscoa foi imolado por nós (1 Cor 5,7) e toda a vez que as pessoas comam daquele pão e bebam daquele cálice, é anunciada a morte do Senhor (1 Cor 11,26) e a sua ressurreição. A oferta que a Igreja faz em todos os momentos faz memória da última ceia, aquela que anunciou a nova Páscoa[4].
Único pão, único corpo
Santo Agostinho, bispo dos séculos IV e V afirmou a unidade do corpo de Cristo que a pessoa recebe em si e com os outros. Aquilo que se vê há um aspecto material, enquanto aquilo que se entende, possui um aspecto espiritual. As pessoas formam o corpo de Cristo e os seus membros: mas sobre a mesa do Senhor coloca-se o mistério que está nos fieis, a recepção do mistério da fé, pela eucaristia. Quando o fiel ouve: O corpo de Cristo, a pessoa responde: Amém. É muito importante, dizia o bispo que a pessoa seja um membro do corpo de Cristo, para que assim o seu Amém seja verdadeiro. Tudo isso é dado no pão consagrado porque como diz o Apóstolo São Paulo muitas coisas formam o único pão, um único corpo (1 Cor 10,17)[5].
O dia natalício dos mártires
Santo Agostinho percebeu a importância de celebrar a eucaristia a respeito do dia natalício dos mártires, no sentido de que a comunidade fizesse a devida memória. O fato era que as pessoas recordassem o seu heróico testemunho de fé, de esperança e de caridade. Os mártires estavam saciados pelo sagrado banquete[6] na eternidade junto com o Senhor. Os altares erguidos na unidade de suas memórias serviram para a celebração da eucaristia[7].
O Senhor dá a todas as pessoas o seu pão
Santo Agostinho afirmou que as pessoas pedem no pai-nosso o pão cotidiano, sendo um pão que restaura o corpo, na qual o Senhor o dá não somente para aqueles que o louvam, mas também aqueles que o blasfemam, ele que faz surgir o sol sobre os maus e sobre os bons, e faz chover sobre os justos e o sobre os injustos (Mt 5,45). Ele é dito pão cotidiano, o pão nosso de cada dia, sem o qual não é possível viver. É preciso pedir a Deus o pão cotidiano. O Senhor dá também outro alimento, que é o seu corpo para todas as pessoas que o queiram segui-lo e põem em prática a sua palavra de salvação, de amor, ajudando-as em vista da vida eterna. Assim o pão cotidiano é também nesta terra a Palavra do Senhor, o seu corpo, para que as pessoas vivam unidas, não separadas do altar, ou seja da eucaristia[8].
O corpo, comida; o sangue, bebida e a vida de Cristo permanece integra
Santo Agostinho tinha dito que quem o come e quem bebe de seu sangue, permanece nele e Ele na pessoa (Jo 6,54-56). Ele falou de seu corpo e do seu sangue, chamando alimento o corpo e bebida o sangue. Jesus recomendou o alimento e a bebida no sentido de quem não comer a sua carne e nem beber o seu sangue, não terá nele a vida (Jo 6,53) o fazia pelo fato de que somente Ele tem a vida em si mesmo, de modo que as pessoas são convidadas a comer da sua carne e a beber de seu sangue. O Senhor deu o seu corpo e o seu sangue como comida salutar em vista da integridade da sua pessoa. Quando se recebe o pão consagrado é o Senhor da vida que se recebe, o corpo de Cristo. A pessoa é convidada a comer e a beber da vida, que é Jesus e assim ela terá a vida e a esta permanece integra, pois ela participará da verdadeira vida[9].
A eucaristia é a presença do Senhor no pão e no vinho consagrados. Ela torna-se fonte de vida porque se trata da Pessoa de Jesus Cristo, dado como alimento para o momento presente e um dia na eternidade. Todos os ministros, os fieis e o povo de Deus são chamados a viver o espírito da comunhão eucarística fazendo-os entrar em unidade com as pessoas que mais sofrem, vivendo assim o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo neste mundo e um dia na eternidade.
[1] Cfr. Didaqué, 9,1-4. In: Padres Apostólicos. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 353.
[2] Cfr. Carta de Barnabé, 2,1-10. In: Idem, pgs. 286-287.
[3] Cfr. Idem, 10,3-5, pg. 354.
[4] Cfr. Giovanni Crisostomo. In eos qui Pascha ieiunant, III, 4-5; PG 48, 866-870. In: Gerardo di Nola. Monumenta Eucharistica. La Testimonianza dei Padri della Chiesa. Vol. 1, Sec. I-IV. Roma, Edizioni Dehoniane, 1994, pgs. 569-570.
[5] Cfr. Agostino d`Ippona. Sermone272,1. In: Ogni giorno con i Padri della Chiesa, A cura di Giovanna della Croce, Presentazione di Enzo Bianchi. Milano, Paoline, 1996, pg. 190.
[6] Cfr. In Io. Ev. tr. 84,1, BAC 139,378. In: Angelo Marini. La Celebrazione eucaristica presieduta da Sant´Agostino. Brescia, Pavoniana, 1989, pg. 99.
[7] Cfr.De Civ. Dei 22,10, BAC 172,173. In: Idem, pg. 99.
[8] Cfr. Agostino. Sermone 56,6,10; RB 32: PL.38,381; NBA XXX/1,150. In: Gerardo di Nola. Monumenta Eucharistica. La Testimonianza dei Padri della Chiesa. Vol. II, Sec. V. Roma, Edizioni Dehoniane, 1997, pgs. 292-293.
[9] Cfr. Idem. Sermone 131,1; PL 48, 729-730; NBA XXX/1, 190-192. In: Agostino, Idem, pgs. 307-309.
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