VI Fórum de Mulheres da Caritas América Latina e Caribe
Padre Modino - CELAM
Mulheres que se reencontram, se escutam e discernem juntas a partir dessa escuta. Foi este o objetivo do 6º Fórum das Mulheres organizado pela Cáritas da América Latina e Caribe nos dias 29 e 30 de maio em Aguas Buenas (Porto Rico) como preparação para o seu 20º Congresso. As mulheres que participaram desta reflexão destacaram alguns elementos, como o cuidado com a vida das mulheres, a inclusão, a incorporação do feminino na pastoral e na teologia, o reconhecimento e o empoderamento das mulheres, ou o papel das mulheres na sinodalidade.
A liderança e a participação das mulheres é um elemento importante neste percurso, como sublinhou Martha Rubiano Skretteberg, diretora-geral da Caritas Noruega e coordenadora do Comité das Mulheres da Caritas Internacional. Este progresso na liderança e participação das mulheres é um trabalho de décadas, em que a América Latina e o Caribe têm sido um exemplo quando se trata de mulheres que assumem papéis de responsabilidade na tomada de decisões na Caritas.
Nos últimos anos, tem destacado a importância da decisão política do Papa Francisco de atribuir às mulheres a responsabilidade na tomada de decisões na Igreja, procurando envolvê-las nos espaços de decisão. Algo que tem fundamentos teológicos, insistiu, apesar do fato de historicamente não ter sido assim, com estruturas que limitaram este papel. Para Martha Skretterberg, "não é uma questão de números, mas de ter as mesmas oportunidades", pelo que é necessária uma nova cultura, que leve homens e mulheres a trabalhar em conjunto, e que a educação crie igualdade desde a infância.
Sublinhou também que a desigualdade conduz à injustiça social, mostrando que as estatísticas revelam que a maioria das pessoas mais pobres são mulheres. A construção da paz é um espaço em que as mulheres têm desempenhado um papel fundamental, citando como exemplo o processo de paz na Colômbia, país onde ela nasceu e cresceu. Por fim, apelou à hierarquia da Igreja para que envolva as mulheres na tomada de decisões, algo que também deve ser promovido na liderança política dos diferentes governos.
Ana Lucía Torres Castillo, diretora do Instituto de Saúde Pública da Pontifícia Universidade Católica do Ecuador (PUCE), abordou a questão dos cuidados, da saúde e da violência em relação às mulheres, abordando as relações desiguais entre homens e mulheres, algo que tem a ver com os conceitos de sexo e género, e que influencia a organização social, insistindo que o problema não são as diferenças, mas que essas diferenças sustentam um sistema de desigualdade, que é o campo em que há muito trabalho a fazer.
Para tal, é necessário reorganizar os cuidados no local de trabalho, especialmente os não remunerados, valorizando-os como uma tarefa partilhada pelos diferentes membros do agregado familiar. O cuidado é um risco social, que é gerido pelo Estado, pelo mercado e pela família, insistiu a diretora do Instituto de Saúde Pública da PUCE, lembrando que na América Latina e no Caribe recai sobretudo sobre a família, onde as mulheres contribuem para uma grande parte da riqueza dos países, embora isso não seja geralmente reconhecido.
Em relação à saúde, abordou o campo dos determinantes da saúde, algo que foi exacerbado durante a pandemia da COVID-19, também no campo da saúde mental e tudo o que tem a ver com ansiedade e depressão, que é maior entre as mulheres, o que, segundo Ana Lucía Torres, é determinado pelas condições de habitação, tarefas domésticas e convivência com pessoas que precisam de cuidados, entre outros elementos. A normalização da violência é uma realidade cada vez mais presente, que tem a ver com as relações amorosas, sublinhou.
A necessidade de lentes diferentes para enxergar a realidade é um desafio, nas palavras de Torres Castillo, que defendeu a lógica da solidariedade para o cuidado, condições justas para os espaços de cuidado, pensar em mecanismos de conciliação, reconhecer o que as mulheres fazem dentro da Igreja e em torno do cuidado, também nos espaços eclesiais, redefinindo o cuidado através da alegria e do prazer. Um olhar crítico que ajude a superar relações assimétricas e submissas é necessário e pode ajudar a superar todas as barreiras sociais existentes.
Reflexões que deram lugar a uma partilha de experiências que mostram o progresso feito na América Latina e no Caribe na participação das mulheres nos espaços de decisão eclesial e social a diferentes níveis, desde os mais básicos até aos espaços de maior responsabilidade. Sempre com a consciência de que é um processo e que os avanços nem sempre acontecem na velocidade que se espera, o que nos faz ver que continuamos avançando neste processo de tornar realidade novas dinâmicas eclesiais e sociais, concretizando assim uma sinodalidade que ajuda a tornar realidade espaços de transformação. Um caminho para o qual este 6º Fórum da Mulher contribuirá, sem dúvida, com o seu grãozinho de areia, de que é mais um exemplo a Campanha "Não te calarás".
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp