Portugal: dioceses v?o analisar ¡°lista de alegados abusadores¡± apresentada pela Comiss?o Independente sobre abusos
Fátima - Ecclesia
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) anunciou nesta sexta-feira que as várias dioceses e instituições religiosas vão analisar a lista de ¡°alegados abusadores¡±, entregue em Fátima pela Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças.
¡°A lista com o nome dos alegados abusadores, hoje entregue pela Comissão Independente ao presidente da CEP e dirigida às Dioceses e aos Institutos de Vida Consagrada, terá o devido seguimento por parte dos bispos diocesanos e superiores maiores segundo as normas canónicas e civis em vigor¡±, indica o comunicado final da Assembleia Plenária Extraordinária da CEP.
Em coletiva de imprensa, D. José Ornelas, presidente da CEP, informou que as listas foram entregues a ¡°cada diocese¡±, a quem compete dar início aos respetivos processos e analisar ¡°as medidas apropriadas a tomar¡±.
¡°Para termos os elementos necessários, para dar andamento a um processo, precisamos de ter dados. A lista que nós hoje recebemos só tem nomes¡±, advertiu o bispo de Leiria-Fátima, considerando necessários elementos que permitam ¡°outra caraterização¡±.
O responsável acrescentou que o documento carece de qualquer elemento da descrição da ¡°acusação que é feita¡± contra cada nome referido.
¡°Torna-se difícil, essa investigação exige esforços redobrados¡±, admitiu.
Sobre eventuais suspensões preventivas, D. José Ornelas indicou que as mesmas dependem da ¡°plausabilidade¡± da denúncia e do risco de ¡°persistência de delitos¡±.
A CEP reuniu-se hoje numa Assembleia Plenária Extraordinária, dedicada, exclusivamente, à análise do relatório final da CI, reforçando o propósito de ¡°tolerância zero¡± com todos os abusadores e para com aqueles que, ¡°de alguma forma, ocultaram os abusos praticados dentro da Igreja Católica¡±.
¡°Reconhecemos a necessidade de estruturas concretas para o seu acompanhamento espiritual, pastoral e terapêutico¡±, acrescenta o comunicado enviado à Agência ECCLESIA.
Questionado sobre as decisões a tomar sobre eventuais responsáveis pelo ocultamento de casos, D. José Ornelas insistiu na necessidade de processos claros, que permitam chegar ¡°à verdade dos factos¡±.
¡°Não compactuamos com situações dessas, mas também não embarcamos em qualquer acusação de encobrimento¡±, sustentou, acrescentando que todos os casos ¡°têm de ser analisados¡±.
O presidente da CEP sublinhou que o encontro desta sexta-feira não representa ¡°o fim de um processo¡±.
D. José Ornelas admitiu que se possa rever a ¡°configuração do ambiente da Confissão¡±, sem colocar em causa o sigilo sacramental.
O tema foi objeto de discussão na Austrália, por exemplo, onde as autoridades queriam impor a obrigatoriedade de denúncia às autoridades de abusos sexuais de menores reportados durante o sacramento da Confissão, algo rejeitado pela Igreja Católica.
¡°Não está nem nunca estará sobre a mesa¡±, declarou o presidente da CEP.
A manhã de trabalhos foi ocupada pelo diálogo com os membros da CI, permitindo, segundo o bispo de Leiria-Fátima, ¡°delinear, traçar linhas de orientação para pontos concretos que, necessariamente, terão de ser negociados¡±, entre os bispos e outras entidades.
A 13 de fevereiro, em Lisboa, a CI, designada pela Conferência Episcopal Portuguesa, apresentou o seu relatório final, após 12 meses de trabalho, no qual validou 512 testemunhos, apontando a um número de 4815 vítimas, entre 1950 e 2022.
A CEP assume, em comunicado, que ¡°as feridas infligidas às vítimas são irreparáveis¡±, manifestando disponibilidade para lhes proporcionar ¡°o devido acompanhamento espiritual, psicológico e psiquiátrico.
D. José Ornelas anunciou que a Igreja Católica vai estabelecer ¡°parcerias¡±, para responder às vítimas, e as ¡°dioceses vão assumir esse acompanhamento¡±, segundo a vontade manifestada por aquelas.
¡°Queremos assegurar que a ninguém falte, por falte de meios, apoios concretos¡±, explicou.
Segundo o comunicado divulgado pela CEP, ¡°as estruturas já existentes, criadas em cada diocese e a nível nacional, serão o local para acolher e acompanhar, e as dioceses assumem o firme compromisso de dar todas as ajudas necessárias para que tal aconteça¡±.
¡°Nunca enjeitaremos as nossas responsabilidades e comprometemo-nos ainda a encetar contatos com as instituições que já estão no terreno, para sermos parte da resolução desta problemática que é transversal a toda a sociedade¡±, acrescentam os bispos.
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