Portugal: bispos criam comissão sob seu controlo para acompanhar vítimas de abusos sexuais
Rui Saraiva – Portugal
Passados dezoito dias após a apresentação do relatório realizado pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, os bispos portugueses analisaram o documento.
Foi em Fátima, na sexta-feira 3 de março, em ambiente de Assembleia Plenária Extraordinária que a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) se debruçou sobre o hediondo sofrimento das vítimas de abusos sexuais na Igreja.
Recordemos que após apenas dez meses de trabalho, a Comissão Independente recolheu testemunhos entre os meses de janeiro e outubro de 2022 e apresentou um relatório que validou o relato de 512 testemunhos de abusos sexuais. Um estudo que analisou casos ocorridos entre 1950 e 2022 e que aponta para uma rede de vítimas num número mínimo de 4815.
No comunicado que foi distribuído aos jornalistas, numa muito concorrida conferência de imprensa, os bispos agradecem às “vítimas que deram o seu testemunho” e deixam “uma palavra de coragem a todas as vítimas que ainda guardam a dor no íntimo do seu coração para que possam dar voz ao silêncio”.
Declaram a sua disponibilidade para criar uma comissão sob seu controlo para continuar o trabalho de acompanhamento das vítimas. Na formulação do texto oficial podemos ler que se trata de “um grupo específico, que será articulado com a Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis”.
Na conferência de imprensa, D. José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima e presidente da CEP disse que esta será “uma comissão articulada com um grupo específico dentro da Coordenação Nacional”.
D. José Ornelas reforçou ainda não ser este “o fim de um processo”, mas que estamos a passar do “relatório para a atuação concreta”.
A CEP direciona o apoio “espiritual, psicológico e psiquiátrico” às vítimas de abusos sexuais para “as estruturas já existentes” na Igreja.
“As estruturas já existentes, criadas em cada diocese e a nível nacional, serão o local para acolher e acompanhar, e as dioceses assumem o firme compromisso de dar todas as ajudas necessárias para que tal aconteça”, revelam os bispos.
“Reconhecemos o trabalho imprescindível das Comissões Diocesanas e da Equipa de Coordenação Nacional e propomos que sejam constituídas apenas por leigos competentes nas mais diversas áreas de atuação, podendo ter um assistente eclesiástico. São valiosas as estruturas da Igreja em Portugal, agora mais aptas a responder à problemática dos abusos de menores, nomeadamente no que respeita à prevenção, formação e acompanhamento, contribuindo assim para um ambiente seguro nos espaços eclesiais”, sublinha a CEP.
Neste mesmo dia 3 de março a Comissão Independente entregou à CEP uma lista de abusadores que foi dirigida “às Dioceses e aos Institutos de Vida Consagrada”. Uma lista que “terá o devido seguimento por parte dos Bispos Diocesanos e Superiores Maiores segundo as normas canónicas e civis em vigor”, diz o comunicado.
Os bispos portugueses informam na sua nota que vão dar um “sinal visível” do seu compromisso com as vítimas através da realização de “um memorial no decorrer da Jornada Mundial da Juventude”.
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